terça-feira, 17 de setembro de 2019

Geoplaylist (Caetano Veloso - Um Índio)

Já faz um tempo que não publicamos essa seção aqui no blog, mas devido aos últimos acontecimentos e a postagem anterior, hoje decidimos colocar aqui uma música antiga, mas que não perdeu sua contemporaneidade. Estamos falando de "Um Índio" de Caetano Veloso. 


Apesar da qualidade do vídeo ser um tanto desejável, conseguimos depreender a letra e nos atentarmos ao fato da mesma fazer uma denúncia a como o "homem branco" vem tratando os indígenas desde a época colonial. 

Infelizmente, mesmo séculos depois, o tratamento destinado não só aos indígenas como aos demais povos da floresta é o de vendê-los como um entrave para a exploração dos recursos que habitam as reservas e florestas naturais do nosso país. 

Atualmente, vemos o indígena ainda mais ameaçado. Sua existência, cultura e toda sua influência que compõem a colcha de retalhos que é a cultura brasileira, nunca sofreram um ataque tão nítido quanto agora.  Diante deste cenário, o que é descrito na música, já são parece mais um desejável futuro longínquo, mas uma triste realidade que se aproxima a passos largos. 

Diante disso, deixamos aqui esta música e, como sugestão de atividade, a ideia de trabalhar a importância dos indígenas não só em termos culturais, mas também ambientais. Explorar sobre o seu modo de vida, sua relação com a natureza e coletar lições valiosas que nos convidam a repensar nosso modo de vida e o tratamento que damos ao meio ambiente. 

Além disso, podemos também olhar os indígenas sobre o prisma do desmatamento das florestas e as ameaças que os interesses por trás deste desmate acarretam as reservas indígenas e até mesmo a população indígena como um todo e, num olhar mais amplo, ao mundo inteiro. 

terça-feira, 3 de setembro de 2019

O que não pode ser omitido de você sobre a questão ambiental brasileira

Ultimamente não se fala em outra coisa sobre o aumento no desmatamento da Amazônia, devido as marcas históricas alcançadas por ele, especialmente no mês de agosto e por eventos como o "dia do fogo". Inclusive tem rodado um vídeo no Youtube, que você pode conferir abaixo, sobre algumas afirmações a cerca da agricultura brasileira e alguns dados de relação ao uso da terra em nosso país. 


Antes do vídeo, vamos deixar algumas coisas claras:

1 - Muito tem se falado que "só agora descobriram que a Amazônia queima?". Não. A questão não é essa. Se sabe que as práticas de queimada na Amazônia são antigas e isso, infelizmente não é nenhuma novidade. O problema é que os dados estão ultrapassando marcas históricas, de forma negativa. 

Já temos o pior Agosto dos últimos 20 anos em relação ao desmatamento. Isso sem contar eventos como o terrível "dia do fogo" e o dia em que São Paulo ficou mais cinza do que costume, gerando até trending topics no Twitter. ESSES SÃO OS PROBLEMAS!

2 - Não é difícil de encontrar também pessoas que justificam o desmatamento da Amazônia, visto que ela não é o pulmão do mundo. Embora a afirmação sobre o pulmão do mundo seja verdadeira - isso fica a cargo das algas nos oceanos - a questão não é pautada nisso. A floresta amazônia tem importância climática, biológica, genética e etc. para o mundo, não somente para o Brasil (vídeo abaixo). 



3 - Justificar o desmatamento em cima de um argumento que não cabe, não é só tendencioso como reforça uma espécie de cultura rasa que vem se estabelecendo nos últimos anos, especialmente com o advento da internet, onde as pessoas não checam mais as informações e reproduzem o que veem nas redes sociais, muitas vezes não se dando nem ao trabalho de ler a notícia na íntegra, parando no título. 

Agora vamos o vídeo sobre o qual me referi, peço que o leitor o assista primeiro para depois ler as observações sobre o mesmo abaixo. 




Ao que parece o vídeo foi gravado no ano passado, próximo da época das eleições (dados aos gracejos feitos), mas isso é o de menos. Mas vamos aos pontos que desejamos destacar. 

Fica nítido a afirmação do funcionário durante toda a palestra em diminuir as áreas de proteção ambiental, seja as de uso quilombola, terras indígenas, reservas florestais ou semelhantes, sempre justificando que  quase metade do Brasil é todo preservado e que o pobres agricultores ficam encurralados em suas propriedades.

Um dos primeiros tópicos abordados pelo palestrante é um comparativo entre áreas protegidas no Brasil com o a Argélia. Algo que, vamos combinar, totalmente desproporcional. Afinal de contas, quantas "Argélias" não cabem em um Brasil? 

Ainda nesta questão, sempre acompanhada de um tom de desdém (que predomina na palestra inteira), é apontado que a área preservada nos outros países, e na Argélia também, são áreas de deserto. Quem vê de fora acha que o deserto é uma área que não apresenta nenhum atrativo, inclusive porque a mesma é sumariamente desqualificada durante o vídeo, mas dois pontos foram "deixados de lado". 

O primeiro ponto refere-se ao "porquê" da necessidade de preservar áreas de deserto; algo que não foi explicado em momento algum. Há esta necessidade para impedir que o deserto avance, especialmente se práticas agrícolas, para ficar no cerne da questão, foram realizadas no seu entorno, o que enfraquece o solo e permite o avanço do deserto. Algo que, inclusive, já está acontecendo no deserto do Saara, que avança no sentido Norte-Sul por conta (também) de práticas agrícolas (desde os tempos coloniais) por lá feitas. 

O segundo ponto, que também foi "esquecido" refere-se a biodiversidade que os desertos apresentam. Ao contrário do que se imagina, alguns desertos apresentam uma riquíssima biodiversidade que, infelizmente, estão sofrendo ameaças por conta das mudanças climáticas. 

Esses pontos já nos ajudam a perceber algo tendencioso na palestra apresentada que reforça um vitimismo por parte dos agricultores e que busca legitimar o uso pleno das terras brasileiras para a agricultura. 

Outro ponto da palestra refere-se a um manifesto publicado por agricultores nos EUA chamado, em tradução livre, de "Fazendas aqui, Florestas lá". Segundo o vídeo, este movimento quer que o governo dos EUA ajude outros países, como o Brasil, em projetos de financiamentos de proteção às suas florestas para que eles, em suma, plantem cada vez menos, enquanto os agricultores norte-americanos plantem (e lucrem) cada vez mais. 

Este movimento é usado para reforçar o achincalhamento de nossa política de preservação do meio ambiente, quando dados econômicos estimados por este movimento são apresentados (algo que deve fazer brilhar os olhinhos dos grandes latifundiários), mas que ignora completamente riscos ambientais que os mesmos sofreriam caso esta prática fosse colocada em vias de fato. Mas, vindo dos EUA, isso não nos espanta e a justificativa da não assinatura do Protocolo de Kyoto junto com a saída do Acordo do Clima de Paris nos mostram o porquê. 

O que nos assusta de fato é que movimentos como esse têm ganhado voz aqui no Brasil (o dia do fogo que o diga) e isso ameça cada vez mais a Floresta Amazônica). 

Num outro momento do vídeo, o questionamento se dirige agora para o CAR (Cadastro Ambiental Rural). O serviço é funciona como uma forma de controle sobre o quanto da propriedade rural realmente é dedicada para a preservação e se a mesma equivale a área determinada por lei vigente. 

A nosso ver a ideia é uma forma eficaz ao que se propõe desde que haja uma fiscalização rigorosa, mas parece que o palestrante do vídeo pensa diferente. 

Logo no começo ele faz uma comparação estapafúrdia dizendo que o CAR foi o maior trabalho escravo do Brasil, pois os agricultores foram obrigados a contratar empresas de georreferenciamento "picaretas" para realizar o trabalho. Como se isso pudesse ser comparado ao trabalho escavo e como se só existisse empresa de georreferenciamento que não presta. Mas como o foco é o meio ambiente... 

Seguindo ainda no CAR, são mostrados dados que revelam que as áreas preservadas pelos agricultores (por força de lei é sempre bom que se diga) estão conectadas. O que é mostrado com espanto durante o vídeo. Entretanto, o que nos assusta é que parece que os agricultores têm mais consciência sobre o conceito de corredor ecológico do que um dos chefes da EMBRAPA! 

É óbvio que as áreas de reserva devem se conectar. Isso é um dos pontos vitais para a sobrevivência de animais que ali vivem, pois conseguirão transitar por áreas maiores para se alimentar, procurar água ou mesmo se estabelecer em grandes bandos, dependendo do animal; não ficando encurralados a uma pequena área com escassez de recursos. É de se espantar que esse conceito não esteja em tela durante a palestra... 

Como se não fosse pouco, ainda é pautado na palestra que indígenas, quilombolas e reservas florestais ocupam muito espaço, inclusive com insinuações de que isso atrapalha a agricultura do país. 

Contudo, em momento algum se comenta que o nosso país era território indígena antes da chegada do europeu. Que o colonizador perseguiu, escravizou, dizimou e aculturou o verdadeiros donos dessa terra, que tiveram que se esconder (aqueles que puderam) no interior da floresta amazônica para fugir dos horrores do "homem-branco".

Assim como não se comenta os horrores vividos por afrodescendentes que foram arrancados de sua terra-mãe para serem escravizados aqui no Brasil, como muitos nasceram e morreram escravos sem sequer saber o que é liberdade. E que mesmo 150 anos após o fim da escravidão, a mesma continua velada e segrega a população negra que, em sua grande maioria, vive marginalizada na sociedade. 

Então, as terras a eles dadas não são muitas não, pelo contrário, são poucas, ínfimas. Tamanha a dívida histórica que temos com estes grupos. Apesar de hoje agirmos como donos do país, temos que pôr a mão na consciência vermos realmente quem deveriam ser os donos das terras. 

Em outro ponto (ou seria absurdo?) de destaque na palestra é evidenciado que a agricultura brasileira seria muito mais produtiva se não houvesse tanta proteção às terras como há no Brasil e que o agricultor brasileiro é o que mais preserva suas terras, fechando com o questionamento do quanto seria lucrativo se não houvesse tanta proteção assim. 

Voltamos a dizer que essa "proteção" tão menosprezada durante a palestra só ocorre por força de lei (infelizmente, pois poderia ser por consciência ecológica). Também cabe aqui salientar que nossa produção agrícola é voltada para o mercado externo. Somos um país que produz safras recordes e estamos entre os maiores produtores mundiais de certos alimentos, mas quase nada disso chega à mesa dos brasileiros. Produzimos só de milho o suficiente para alimentar 3 "Brasis", mas quase nada disso fica em nosso território. 

Em fala (sempre em tom jocoso) o palestrante afirma que somos um país que resolveu todos os seus problemas e que por isso pode deixar terras sem serem cultivadas. De fato, estamos longe de resolver nossos problemas, entretanto distribuir as terras protegidas ou permitir que agricultores plantem em toda a sua extensão não vai resolver nenhum deles. 

A maioria da população continuará passando necessidade e nós continuaremos a bater safras recorde de gêneros alimentícios que não ficarão em nosso país. Afinal de contas a prioridade não é alimentar a nossa população, é fazer ração para engordar porco, cavalo e boi na China, nos EUA e na Europa.

Quando nos deparamos com palestras como essa, não fica difícil compreender certos posicionamentos do governo que permitem que episódios como o dia do fogo ocorram, mas que sejam atribuídos, devido a um "sentimento", a ONGs de proteção a Amazônia, que teriam perdido o repasse de verbas dado pelo governo brasileiro, mas que vem do "Fundo Amazônia", mantido majoritariamente por Alemanha e Noruega, que, por sua vez, decidiram suspender o repasse ao fundo por conta do uso que o atual governo está pretendendo fazer dele

Embora, ainda hajam pessoas que não pensem desse jeito (ainda bem!), enquanto tivermos uma política e ambiental e externa comparáveis a uma criança com birra que não quer dar o braço a torcer e faz cada vez mais declarações com o intuito de desviar o foco principal ou acusações baseadas no "sentimento", estaremos caminhando, infelizmente, para um cenário sem volta.