Vivendo uma crise desde os anos 90 o Japão parece não ter se recuperado da mesma até os dias de hoje, situação agravada pela tão falada "crise" econômica atual. O país aposta no modelo exportador para tentar se reerguer desde os anos 90 pra fugir da crise pessoal que vive. Porém com a atual retração econômica devido a crise e o crack da bolsa asiática de 1997 o país vem sofrendo para tentar se reerguer mas parece que uma nova esperança surge com o acontecimento de novas eleições para o cargo de primeiro ministro...
O Japão não apenas ficará abaixo do desempenho econômico dos Estados Unidos e da União Europeia em 2009, como também enfrenta a incerteza política. As eleições nacionais, marcadas para o final de agosto, provavelmente trarão algumas mudanças na política econômica e também poderão ter consequências para o dólar.
Esperamos que o ritmo da contração econômica japonesa diminua em relação ao acentuado declínio do primeiro trimestre deste ano, mas o caminho da recuperação será longo e acidentado. O reabastecimento dos estoques está chegando ao fim e o aumento dos preços das matérias-primas poderá conter nascente recuperação da demanda. Enquanto isso, os gastos públicos são restringidos pelo aumento da dívida pública e o modelo de crescimento do Japão, voltado às exportações, parece cada vez menos sustentável diante do grau de desalavancagem que reprime a demanda nos EUA e na Europa.
A década perdida do Japão poderá, portanto, ser mais adequadamente chamada de “décadas perdidas”. A forte desaceleração econômica do início dos anos 1990 culminou em uma recessão em 1998-1999, somente para ser seguida por quase mais uma década de recessões e crescimento contido. Sendo o mais dependente do comércio entre os grandes países industrializados, o Japão sofreu a pior contração do PIB no primeiro trimestre e está a caminho de ter o pior desempenho do G-3 em 2009. A demanda agregada despencou e a deflação se instalou mais uma vez, apesar dos maciços gastos fiscais e da expansão monetária. Projetamos que a recessão no Japão persistirá ao longo deste ano e depois cederá a uma recuperação gradual em 2010.
Embora o ritmo da contração econômica tenha se reduzido desde o primeiro trimestre, a recuperação da produção e das exportações dirigida para estoques no máximo produzirá uma estabilização em baixos níveis, em vez de uma forte expansão econômica. A recuperação do Japão dependerá da demanda externa dos EUA e da Europa – os principais consumidores finais de produtos japoneses. A demanda chinesa, que ajudou a reforçar o Japão em 2005/2007, talvez seja de pouca ajuda desta vez.
A sustentabilidade das finanças públicas do Japão está na berlinda, no rastro do pacote de estímulos fiscais de 15,4 trilhões de ienes anunciado em abril de 2009 – o maior da história do Japão –, que fará a dívida pública disparar para cerca de 200% do PIB em 2010. A forte carga de dívida do Japão levou à perda de sua classificação soberana AAA, em maio de 2009. Para não sobrecarregar uma economia estagnada com mais impostos, a reforma fiscal está suspensa até pelo menos 2015.
Devido à impopularidade do primeiro-ministro Aso e dos escândalos e fracassos econômicos de seu governo, as eleições gerais deste ano poderão trazer uma mudança nas políticas japonesas, pondo fim a mais de 50 anos de poder de praticamente um só partido, o Partido Democrático Liberal. O PDL perdeu a maioria dos assentos para o Partido Democrático do Japão (PDJ), nas eleições locais em Tóquio, em meados de julho, fazendo prever uma disputa nas eleições gerais de 30 de agosto pela Câmara Baixa do Parlamento. O ex-membro do PDL que se tornou líder do PDJ, Yukio Hatoyama, tem forte chance de se tornar o próximo primeiro-ministro japonês. Uma vitória do PDJ poderia trazer uma política fiscal mais frouxa e maior disposição para usar a intervenção monetária. Infelizmente, a capacidade ociosa vai inibir a economia a médio prazo, não importa o que os políticos façam.
Alguns membros do PDJ prometeram evitar a dívida americana, o que sugere que os fundos de pensão públicos e outros fundos quase governamentais (como o recém-privatizado Japan Post Holdings, cujas ações ainda estão em posse do governo) poderão se mover para ativos de maior rendimento se o PDJ se tornar o partido governante. O movimento poderia significar perdas acentuadas para o dólar. O Japão é o segundo maior detentor estrangeiro de títulos americanos, depois da China. Se o Japão parar de comprar títulos, vender seus ativos em dólar ou indicar a intenção de fazê-lo, os EUA terão dificuldades para suprir suas necessidades financeiras. Isso poderia precipitar uma queda desordenada do dólar e a perda de sua supremacia como moeda de reserva global, especialmente se outros detentores de reserva seguirem o mesmo caminho.
Uma quebra do dólar seria indesejável para o Japão, porém, devido a seus grandes ativos nessa moeda e ao desejo de seus políticos de ajudar os exportadores japoneses por meio de uma moe-da doméstica fraca. A diversificação da reserva japonesa provavelmente continuará gradual, mas a probabilidade de mudança política em agosto levanta incertezas sobre esse ponto.
Noticía publicada no site cartacapital.com.br