A OCDE publicou o aumento do abismo social entre os países europeus, o que não parece ser novidade alguma.
O abismo já era um dos conhecidos efeitos da globalização que vinha afetando não só os países europeus como o mundo em si. Com a crise no velho continente desde 2007/2008 o aumento desse abismo já era mais do que esperado.
Não à toa o bloco europeu já havia proposto um fundo para ajudar os países mais pobres, bem como os bolsões de pobreza dos países ricos participantes da União Europeia. A proposta foi boa, mas o fundo parece não caminhar tão bem justamente por conta do "farinha pouca, meu pirão primeiro".
Não bastasse isso, ainda temos que adicionar os desempregos estrutural e conjuntural que ainda afetam a Europa, isso sem contar o desemprego entre os jovens, esse ainda amarrado à velha máxima do "não tenho emprego por falta de experiência, mas se não me derem um emprego, como vou ter experiência?"
Para tentar diminuir esse abismo alguns países pediram ajuda ao BCE e ao FMI para tentar se levantar. Em troca dessa "ajuda" um pacote de austeridade foi imposto aos governos que, extremamente necessitados dessa "ajuda", não estão vendo outra alternativa a não ser colocá-los em prática; embora sob protestos veementes de suas populações.
Aumento dos impostos e redução dos gastos (leia-se demissão de funcionários públicos e fim de certos benefícios à população) são os pilares dessa receita anti crise que os países são levados a seguirem "à risca", onde qualquer semelhança com algo vivido por aqui nos anos 90 não é mera coincidência; acabaram por gerar protestos da população que sofre arrochos e mais arrochos seja no congelamento salarial, seja no aumento da carga de impostos.
Receita de bolo ou não, fato é que essa cartilha tenta sepultar, talvez até consiga, o pouco que ainda resta do antigo "estado do bem-estar social" em troca de um neoliberalismo que busca atender não as necessidades da população, mas as necessidades de umas poucas e boas ($$$$) empresas. Nos anos 90, o teste aqui (América do sul, iniciado no Chile) implementado teve seus efeitos positivos (se você é o dono da empresa, claro), então, partindo deste escabroso princípio, por que não implementar lá também?...
O abismo entre pobres e ricos não cresce somente desde a crise econômica e financeira global. Segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no entanto, a crise econômica e financeira intensificou essa tendência. Segundo o estudo divulgado nesta semana em Berlim, a desigualdade da renda bruta nos países da OCDE aumentou mais intensamente entre 2008 e 2010 do que nos 12 anos anteriores – ao menos na maioria dos países, afirmou o especialista da OCDE Michael Förster, em entrevista àDeutsche Welle.
A Alemanha está entre as exceções. No país, não só as diferenças de renda são menores do que a média da OCDE: segundo Förster, nos três primeiros anos da crise, a renda bruta também cresceu, tanto entre os altos assalariados, como entre os de média e baixa renda – ainda que apenas marginalmente.
Uma razão para isso seria a moderação dos sindicatos nas negociações coletivas. "Nos anos anteriores à crise, de 2000 a 2005, houve na Alemanha um aumento extremo da desigualdade salarial, com um número cada vez maior de empregos precários. Porém o ápice foi atingido em 2005/2006. Os empregos criados desde então são, em grande parte, regulares, sujeitos às normas de seguridade social."
Além disso, como nação exportadora, a Alemanha se beneficiou da fraqueza do euro, prossegue Förster. Ela permite, por exemplo, que muitas empresas ofereçam seus produtos mais barato do que a concorrência.
Mas nem por isso a Alemanha está livre da pobreza. Segundo o estudo da OCDE, em 2010 ela atingia 9% dos alemães. Isso coloca o país num campo intermediário, abaixo da média da OCDE de cerca de 11%.
Pobreza relativa ou absoluta
Mas: o que é exatamente pobreza? Nos estudos, isso é geralmente definido por uma determinada renda. Quem estiver abaixo desse rendimento, é considerado pobre. A OCDE tomou como padrão o salário médio de cada um dos diferentes países. Como esse valor está em mudança constante, e, portanto, também o limite de pobreza, fala-se então de "pobreza relativa".
Seguindo essa definição, nos anos da crise econômico-financeira houve somente um leve aumento na porcentagem de pobres nos Estados da OCDE. Por isso, o especialista Förster considera mais significativos os dados da pobreza absoluta.
Para tal, considera-se como limite de pobreza a renda média de um país a partir de um determinado ano – no presente caso, 2005 – e se observa que porcentagem da população desceu abaixo desse limite nos anos de crise. Particularmente afetados foram a Itália, a Espanha e a Grécia. Ou seja, países altamente endividados, cuja política de austeridade econômica também afetou duramente a população.
Jovens têm preocupações financeiras
Nos países em crise, mas não apenas neles, prossegue Förster, são sobretudo os mais jovens a reclamar de falta de dinheiro. Também neste ponto a Alemanha é uma exceção, por garantir postos de trabalho a grande parte de sua população jovem.
"Mas na maior parte dos países europeus, jovens e famílias jovens com crianças perderam uma boa parcela de renda", diz o especialista da OCDE. Em comparação, os cidadãos acima de 60 anos registraram menos perdas.
Para Förster, as fórmulas para uma solução se encontram sobretudo na política educacional, uma vez que está constatado que um nível educacional alto da população garante que o abismo entre os de alta e baixa renda não se torne tão pronunciado.
Christoph Schröder, do Instituto da Economia Alemã (IW) em Colônia, tem opinião semelhante, e acredita, além disso, que deveria haver mais ofertas de cuidado em tempo integral para as crianças, a fim de que, justamente, os pais e mães solteiros possam combinar melhor trabalho e família.
"Mais benefícios não é solução"
Nem Förster nem Schröder acreditam que um acréscimo dos benefícios sociais possa tirar as pessoas da miséria e cerrar o abismo entre pobres e ricos. "Não procede que haja menos pobreza nos países com maior redistribuição de renda", comentou Schröder à Deutsche Welle.
No início da crise, os sistemas de seguridade social poderiam ter absorvido alguns encargos, complementa Förster. Mas agora é hora de os políticos entrarem em ação. E, entre outras coisas, eles devem lançar um olhar crítico sobre a própria política de austeridade econômica, caso contrário o abismo entre ricos e pobres se tornará ainda mais extremo. Porém, acima de tudo, as medidas de economia não devem ser empreendidas em detrimento dos mais pobres.