quinta-feira, 4 de julho de 2013

Brasil Rural: algumas considerações (contradições)

Desde o princípio do nosso jovem país, foi quem sempre respondeu pela maior parte do nosso PIB, aliás, ainda responde. 

Passou por diversas transformações, mas ainda mantém ranços de séculos atrás. Hoje o campo brasileiro se vê as voltas com diversas contradições que não ganham tanto destaque assim.... 

O carro-chefe por assim dizer se dá na diferença entre grandes e pequenos proprietários. Enquanto os grandes proprietários respondem por grande parte do nosso PIB (o que, aliás, é perigoso se não diversificarmos pois todo cultivo fica ao sabor das intemperes do tempo, podendo se perder toda uma safra) os pequenos são aqueles que cultivam a comida que chega às nossas mesas todos dias (ou você acha mesmo que as laranjas cultivadas na região serrana do Rio ou a soja do Centro-Oeste, por exemplo, chegam até a nossa mesa?). Na lógica os pequenos proprietários deveriam ter iguais ou até melhores oportunidades de prosperar, mas não é assim... Poderia até arriscar dizer que nunca foi... 

Primeiro por conta da "Revolução Verde", este pacote tecnológico (adubos químicos, fertilizantes, sementes melhoradas, máquinas...) que permitiu os agricultores terem um aproveitamento melhor de suas terras só poder ser usufruído por aqueles que tinham condições de pagar por eles (adivinhe quem?)... Assim, o que era uma competição sem um pingo de igualdade se tornou desleal e muitos pequenos agricultores acabaram perdendo suas terras por não conseguirem competir com os grandes agricultores... 

Alguns até "mudaram" o seu sustento e transformaram suas fazendas em hotéis-fazenda, "pesque & pague", locais de ecoturismo, etc. para continuar a lucrar com suas terras, sem perdê-las. Na academia esse fenômeno ganhou o nome de "novo rural", mas, infelizmente, nem todos puderam se utilizar desta prática a tempo ou nem mesmo esta prática conseguiu mantê-los em suas terras por muito tempo... 

Segundo por conta da pseudo reforma agrária que se finge implementar nesse pais. Que ainda por cima é bem deficitária... 

Não é de hoje que sabemos de tentativas de reforma agrária por parte do governo, inicialmente com o intuito de apenas "ocupar" o nosso território. Tentativas assim resultaram em inúmeros episódios desastrosos, principalmente na região norte do nosso país (é só nos remetermos a Fordlândia ou a história do "quadrado burro", projeto Jari isso só para citar alguns casos). Fato é que a nossa reforma agrária é deficitária e se arrasta para ser realizada de fato. 

Deficitária pois apenas distribui a terra, sem dar nenhum tipo de apoio técnico e/ou financeiro a quem recebe a terra; afinal de contas, como você pode saber o que plantar em uma terra que você não conhece e como plantar sem dinheiro para as primeiras sementes? Por isso que muitos pleiteiam uma "nova reforma agrária" onde não se disponibiliza só a terra, mas também se presta a assistência técnica necessária ao produtor bem como um financiamento para que ele possa começar sua produção e assim pagar o financiamento aos poucos. 

E, arrastada por conta de duas palavras: bancada ruralista.      

Como se não fosse pouco, ainda tem algo que assola os pequenos proprietários: o biodiesel. 

A invenção é ótima, isso não se discute; polui menos, é renovável e se chegar a produção em nível mundial pode ajudar a reduzir as emissões de carbono na atmosfera, mas então, de onde vem a contradição e onde os pequenos produtores entram nessa?

O biodiesel vem basicamente da cana-de-açúcar (também pode vir do óleo de girassol e da semente de mamona) e, com a demanda por este item crescendo em face do crescente uso do combustível, muitos agricultores vêm trocando o cultivo de gêneros alimentícios comuns (feijão, milho, etc...) pelo cultivo de cana justamente pela mesma ser mais lucrativa em face a estes produtos... 

Até aí legítimo para estes pequenos agricultores que tentam apenas sobreviver da melhor forma que podem. Mas, a contradição vem agora... Lembra que no começo do post eu mencionei que a comida que chega na nossa mesa é plantada por eles? Pois é, se eles trocam o cultivo pela cana de açúcar, o que chegará à nossa mesa? A troca desses cultivos pela cana, pode por em risco a nossa "segurança alimentar" e forçar um dos países que mais exporta gêneros agrícolas no mundo a importá-los... 

Para os agricultores, é uma faca de dois gumes já que os mesmos têm consciência da sua, embora não reconhecida, importância para o nosso país, mas também precisam sobreviver, precisam manter suas terras... 

Caberia as esferas governamentais incentivarem esses pequenos agricultores a continuar com os cultivos alimentícios básicos de forma a se tornarem atrativos e lucrativos para eles e tentar evitar assim que nossa segurança alimentar fique em risco... 

As contradições são inúmeras e as disparidades também... E a pergunta que fica no ar é: como resolvê-las, se quem pode fazer isso tem o interesse deixar exatamente como está?

Enquanto isso cada vez mais fazendas do tamanho de cidades engolem pequenas e médias propriedades ou até mesmo florestas inteiras para produzir com vistas ao mercado externo...  



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