quarta-feira, 25 de junho de 2014

Para refletir...

Como sempre, estava selecionado o assunto da semana para o blog quando me deparei com essa notícia "Chris Rock diz que Brasil é só bundas"... Talvez, e eu escrevi talvez, eu até relevasse esse fato pelo cara ser comediante e talvez (novamente, talvez) ter feito uma piada de mal gosto. 

Mas, em tempos de Copa do Mundo no nosso país onde o complexo de vira lata se mistura a visão do resto do mundo de que não passamos do trinômio "floresta-futebol-bunda" isso soa como muito mais do que uma simples piada de mal gosto, o que por si só já é bastante ofensivo. 

Embora não seja o evento dos sonhos em qualquer esfera e tenha sim críticas a serem feitas ao mesmo; essa Copa do Mundo aqui está sendo sim uma Copa bem diferente das demais e nos mais diversos aspectos. 

Em termos esportivos, vemos uma surpresa inimaginável muitos diriam; onde grandes favoritos estão deixando o evento "antes da hora"; enquanto aqueles que muitos diriam fazer simples figuração na Copa, despontam revelando assim uma grata surpresa, que se torna ainda maior quando percebemos que a grande maioria destas surpresas são latino-americanas e as favoritas, que seriam seleções europeias, em sua maioria, que já se despediram ou estão se despedindo antes do tempo. 

Em termos simbólicos, estamos vendo algo incrível, onde seleções que representam países que cresceram (satisfatoriamente ou não) nos últimos anos, evoluíram e mudaram certas práticas herdadas de seus colonizadores (europeus em sua maioria). É como se a ascensão dessas equipes ditas mais frágeis, antes da Copa se iniciar, refletisse a mudança que as mesmas atravessaram ao longo de anos, projetadas em seus crescimentos e seus avanços nas mais diversas áreas (embora ainda falte muito para que elas cheguem a um patamar desejado; incluindo o nosso país). 

O que contrastaria exatamente com as seleções (europeias) que se foram, representando exatamente países que vivem crises que parecem ser refletidas em termos esportivos. 

Para nós, em específico, a Copa está servindo para desmistificar o trinômio que citei no início desse texto. Se na Copa da Alemanha acreditava-se que encontraríamos um povo frio, muito por conta da ilusão criada e mantida desde a 2ª G.M., o que se viu foi um povo simpático, festeiro e aberto; na Copa ainda em realização no Brasil, cada vez mais os turistas e a imprensa internacional descobrem que somos mais do que florestas, bundas e futebol. Deixo aqui exemplos que não me deixam mentir (1)  (2).  

Para encerrar, deixo aqui, na íntegra, um texto que vem ao encontro de tudo o que eu tentei colocar na reflexão acima; claro que o texto abaixo está muito melhor explicado, pois o dom de escrever não me é tão favorável assim, mas eu tento... Espero que aproveitem esse texto, reflitam, e (se for o seu caso) que se perca esse complexo vira-lata que nós temos. 

""A Copa é um caos e uma surpresa", me diz um amigo carioca louco por futebol. E acrescenta: "A América Latina está ensinado a Europa a jogar". Talvez seja mais que isso. Uma coisa é certa: dez dias depois de sua abertura, o Mundial está sendo uma caixa de surpresas, com equipes europeias de estirpe desmoronando incrédulas, e com outras do continente latino-americano nas quais poucos apostavam. Estas constituem um terço das seleções participantes, mas já conquistaram metade dos pontos disputados.
Três times que nunca ganharam um Mundial – Costa Rica, Colômbia e Chile – já venceram suas duas primeiras partidas. Os europeus, com um número maior de participantes, acumulam menos vitórias. E alguns, a começar pelo último campeão do mundo, a Espanha, tiveram que fazer as malas de volta quase que antes mesmo de aterrissar.
Ainda não sabemos como vai acabar essa corrida de surpresas, mas já está claro que, como escreveu Roberto Dias no jornal Folha de S.Paulo, "a Copa do Brasil está sendo a Copa da América".
Estará ele se referindo a algum simbolismo em particular? Sem dúvida. Todas as coisas são mais do que parecem na superfície e não costumam acontecer por acaso. Essa falta de brilho de tantas seleções antigas da Europa, em contraste com as latino-americanas, nos obriga a refletir. Pois, como escreveu o filósofo francês Ernst Cossier, o homem é um "animal simbólico" e seus atos estão cheios de significados que vão mais além do que se percebe superficialmente.
Outro grande filósofo do simbolismo, Gilbert Duran, afirma que o que integra o "universo dos símbolos" permite descobrir que "nesse caos aparente existe uma certa ordem interna", uma realidade oculta.
Qual pode ser essa ordem interna escondida pelo caos da Copa que estamos vivendo no Brasil, na qual as seleções que estão surpreendendo não são, com exceções, as da velha Europa, mas sim as jovens latino-americanas?
O Brasil sempre usou sua genialidade no jogo de bola para chamar a atenção do mundo para um país que sempre sofreu de um certo complexo de inferioridade e que ainda traz em sua carne as feridas sangrentas de uma dura escravidão que o marcou dolorosamente e deu origem a profundas desigualdades sociais.
Hoje, o Brasil, que cresceu e está se superando, possivelmente já não precise tanto do brilho do futebol para aparecer e se fazer presente entre os grandes do mundo. Pode aparecer por outros motivos e virtudes.
E os outros países latino-americanos que estão surpreendendo nesta Copa?
Talvez não seja coincidência o fato estarmos admirando nas partidas dessas seleções, além de um jogo mais jovem, original e dinâmico, também a coragem e o esforço de seus jogadores. Eles que, graças a um desses simbolismos, "não esperam que a bola chegue a seus pés, mas sim vão buscá-la intrepidamente", como alguém comentou em um programa do SporTV.
Isso e o simbolismo - não menos importante - de que essas seleções chegaram à Copa do Brasil sem os antigos complexos de inferioridade diante dos europeus, sem medo e conscientes de seu valer e de seu valor. Não estariam triunfando justamente por ter perdido o medo do medo?
Será isso tudo um reflexo do que esses países começam a viver também fora do futebol, em um momento em que estão perdendo seus velhos complexos e se veem confiantes de ser, senão os melhores, pelo menos não inferiores a ninguém e muito menos a seus antigos colonizadores?
Este Mundial já estava se anunciando como diferente dos anteriores com a surpresa de que a maioria dos brasileiros preferia que tivesse ocorrido fora de seu país. Foram até capazes de colocar no banco dos réus tanto o Governo como a FIFA, pelo excesso de desperdícios na construção dos estádios.
Agora, quem sabe, passe para a história como um novo despertar – e não apenas no mundo do futebol – de outros povos deste continente americano, sempre condenados a ser vistos como de segunda classe na avaliação mundial.
É possível que, ao se fecharem as cortinas do Mundial de futebol brasileiro, os filósofos do simbolismo tenham que analisar este caos de uma Copa da qual se diz que "ninguém está entendendo nada". Talvez porque ela está sendo mais do que uma Copa de futebol."


Com informações do SPORTV  (1)  (2) e do Jornal El País

segunda-feira, 16 de junho de 2014

#NãoDeveriaHaverVaia!

Como as notícias do momento não giram em torno de outra coisa, pelo menos por hora; o post de mais esta semana  também não poderia girar em cima de um assunto diferente... 

Antes de começar o post de hoje, queria dizer que não defendo Partido algum e que minha questão no post de hoje nem é essa, minha questão aqui trata-se de respeito ao semelhante. Uma das coisas que deveria nos distinguir dos demais animais diga-se de passagem...

Começo este post com a minha consternação ao ver a presidente do Brasil ser vaiada e xingada durante a abertura da Copa. O ato vergonhoso que teve início na área VIP do estádio de abertura seguidos de ofensas graves a presidente repercutiram negativamente, é claro, no mundo inteiro... 

Quer protestar? É um direito seu! Graças a Deus vivemos em uma democracia e todos temos direito à livre opinião. O problema é que essa livre opinião, é bom que se diga porque parece que se esqueceram disso, deve ser expressada de maneira respeitosa, sem agredir ou diminuir quem quer que seja. Afinal de contas muitos se esqueçam de que, primeiro, ela é um igual a nós e deve ser tratada como o respeito; segundo, ela é uma mulher e jamais se deve ofender uma mulher com aqueles dizeres ou com quaisquer outros (ainda mais quando se é a primeira mulher a presidir o país. Feito esse que raras outras conseguiram ao redor do mundo); terceiro, porque a FAMÍLIA dela estava presente no evento, assim como outras autoridades estavam (como você ia explicar aquilo pros seus filhos e netos, se fosse ela?); quarto, já mostrei aqui, em post anterior, que a Copa trará sim enormes benefícios ao país e que os gastos realizados com ela são ínfimos perto de outros gastos por parte do governo (segue aqui mais um exemplo); quinto, se a educação é uma porcaria, e a saúde vai mal, pára e pensa que quem responde pelo ensino básico em nosso país são as Prefeituras e os Governos Estaduais, estes últimos respondem até pelo ensino médio; e o mesmo vale majoritariamente para os hospitais públicos. Então, a culpa é da má gestão das esferas municipais e estaduais ou da esfera federal que faz apenas o repasse da verba?

A lista é longa e poderia se desdobrar em vários outros motivos, mas a questão se perderia em meio a tantos motivos que desmerecem um protesto que por si só já faz isso. A questão aqui é que há varias formas (corretas) de fazer o seu protesto. Uma delas, aliás, se faz no mês de outubro deste ano; onde temos o poder em nossas mãos para mudar o que está errado e buscar a via que bem entendermos para um país melhor. 

Se a mesma energia gasta para achincalhar e ofender a presidente fosse convertida em buscar conhecimento e informação para votar consciente e não em cima de modismos, com certeza teríamos uma forma de protesto bem mais eficaz, humana e civilizada do que a foi presenciada na abertura da Copa; isso se é que aquele retorno a Idade Média pode ser chamado de protesto... 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Será mesmo que os gastos da Copa são tão absurdos assim?

Antes de mais nada, presto aqui os meus sinceros agradecimentos ao meu mestre Marcelo Coelho que me fez ver este evento com outros olhos... Opinião esta que eu queria dividir com vocês (mesmo que atrasada, porque a intenção era publicar este texto na quinta-feira passada, como de costume. Desculpem!)

Você, caro leitor, que acompanha o blog há tempos tem visto a minha preocupação com a Copa, embora sempre reforçando não ser contra a mesma, mas alegando que os gastos deveriam ser alocados para outras coisas mais importantes... Pois bem, a minha opinião não difere desta que vos apresento, só que agora não volto mais os olhos para este evento com a desconfiança de algo melhor poderia ter sido feito com este dinheiro, mas sim de que agora vem muito mais coisas positivas do que eu achava que viria... 

Sim, você pode falar que obras foram superfaturadas (disso eu não duvido); bem como também pode falar que tudo está sendo feito as pressas, mas... NÃO É BEM ASSIM! NÃO MESMO!

Primeiro, do jeito que as coisas estão sendo mostradas hoje em dia, parece até que ficamos sabendo na semana passada que iríamos realizar a Copa do Mundo aqui no Brasil. O que se mostra de atraso em obras e de que muita coisa está sendo feita na correria, não está no gibi, mas o que ninguém comenta em relação a isso é que... 



Ou seja, embora escombros e entulhos fiquem sobre os arredores de alguns estádios e o "imagina na copa" permeie o imaginário e os discursos de protestos da última moda; isso ocorre em todos os países. A questão é que aqui a cobertura é muito maior para esse tipo de coisa porque estamos em época de eleição e a emissora que manda neste país não está muito contente com o rumo que o país está tomando, principalmente porque classes sociais vem ascendendo e o seu poder, mesmo que ainda esteja alto, vem perdendo força gradativamente... 


Outra questão refere-se aos gastos com a Copa... Em relação a estes pontos, colocarei aqui dados levantados na Folha de São Paulo e por Fernando Brito para fundamentar o que eu digo... 



"Com anos de atraso, a Folha publica hoje um levantamento feito pelos repórteres Gustavo Patu, Dimmi Amora e Filipe Coutinho que, como e diz nas conversas informais, “baixa a bola” dos “gastos absurdos com a Copa do Mundo”.
É o que dá ter raros momentos de jornalismo correto na mídia brasileira, porque não é nenhum “furo”, mas apenas a compilação de dados que são e sempre foram públicos.
A começar pela abertura do texto escrito pelos três:
Mesmo mais altos hoje do que o previsto inicialmente, os investimentos para a Copa representam parcela diminuta dos orçamentos públicos.
Alvos frequentes das manifestações de rua, os gastos e os empréstimos do governo federal, dos Estados e das prefeituras com a Copa somam R$ 25,8 bilhões, segundo as previsões oficiais.
O valor equivale a, por exemplo, 9% das despesas públicas anuais em educação, de R$ 280 bilhões.
Em outras palavras, é o suficiente para custear aproximadamente um mês de gastos públicos com a área.
E eles próprios se encarregam de dizer que nem sequer é assim, porque estes gastos diluíram-se pelos últimos sete anos e, sobretudo, porque uma parte ( a maior parcela, 32%) é feita com financiamentos de bancos públicos (quase toda do BNDES) e vai retornar.
Adiante falarei dela.
Bem, do gráfico publicado, conclui-se que o Governo Federal gastou R$ 5,8 bi diretamente com a Copa: R$ 2,7 bi na modernização e ampliação dos aeroportos, R$ 1,9 em segurança pública – quase tudo equipando, a fundo perdido, as polícias estaduais -, R$ 600 mil em portos, R$ 400 mil em telecomunicações  e R$ 200 milhões em gastos diversos.
Aeroportos e portos, além de serem serviços públicos essenciais ao desenvolvimento econômico, geram receitas de tarifas e concessões.
Nenhum tostão, como você vê, em estádios.
Do dinheiro dos estádios, um total de R$ 8 bilhões, perto da metade veio de financiamentos federais, através do BNDES, de duas formas: debêntures e empréstimos.
Debêntures são “letras” financeiras e, no caso do estádio, seus tomadores pagam 6,2%% de juros mais a inflação do período.
No caso dos empréstimos, os tomadores, além de oferecer garantias, têm de pagar  TJLP (taxa de juros de longo prazo), que de 2009 para cá variou entre 6,25% e 5%, mais  1,4% (taxa  BNDES + intermediação financeira), mais risco de crédito (até 4,18%), além da taxa que o o tomador pagará a o banco operar o crédito. No total, portanto, pagam juros muito semelhantes (em geral um pouco maiores, em alguns momentos frações de centésimo menores) que a taxa de juros com que o Governo capta dinheiro no mercado.
Isso quer dizer que não houve empréstimo subsidiado pelo Governo Federal?
Sim, houve,  maiores. E continuam existindo, independente de Copa.
São os recursos para obras de mobilidade urbana que, só nos empreendimentos ligados à Copa, receberam  R$ 4,4 bilhões.
Como é isso: o BNDES financia contrando TJLP + 2% no caso de o empréstimo ser tomado por Estados e Municípios ou por TJLP + 1% + risco de crédito de até 4,18% no caso do financiamento ser feito por empresa privada.
Convenhamos que  é uma forma muito mais adequada de o banco usar seus recursos em favor da população do que, como fez em 2002, aplicar R$ 281 milhões (R$ 1 bilhão, hoje, corrigidos pela taxa Selic) na Net, então propriedade dos Marinho (a família mais rica do Brasil), que estava enforcada de dívidas.
No caso dos Estados e Municípios, a grande maioria, boa parte dos gastos vem  das contrapartidas locais para obras de mobilidade (R$ 2,4 bi, ou 41%) e os restantes R$ 3,3 bilhões em gastos diretamente com obras dos estádios e com as do seu entorno (ruas, praças, pátios, passarelas).
Os números insuspeitos publicados pela Folha vêm na mesma linha daquilo que ontem se comentou aqui.
Tirando os gastos imprevistos de três governos estaduais (Sérgio Cabral , com o Maracanã, Agnelo Queiroz, com o Mané Garrinha e Aécio Neves-Anastasia como Mineirão, que começou as obras ainda na gestão do atual candidato do PSDB à Presidência), os outros dois estádios que custaram muito mais do que o inicialmente previsto, o Beira-Rio e o Itaquerão, foram  tocados pela iniciativa privada.
Há uma hidrofobia de direita implantada na mídia e em parte da classe média que eclipsa qualquer capacidade de exame racional dos fatos.
Se eu fosse um obtuso irracional, que não reconhecesse o direito de uma categoria profissional essencialíssima , como a dos professores, poderia dizer que se gastou muito mais que aquele “um mês”  de Educação que a Copa custou com as greves e paralisações (em geral, justas) do magistério.
E isso seria uma apelação, porque eu estaria colocando nos direitos dos professores a “culpa” das nossas históricas carências no setor.
Colocar na Copa a “culpa” pelos problemas da educação, da saúde, da assistência social, da habitação é, igualmente, uma estupidez.
Que só tem um fundamento, embora a maioria dos que fazem isso não o percebam: as eleições."

Diante destes dados, nobre leitor, você sinceramente acha que a Copa do Mundo serve tornar você um alienado político já que a mesma é vendida como algo que gera gastos astronômicos e superfaturados que visam enriquecer e favorecer determinado partido em época de eleição?

Com informações da Folha de São Paulo [1], [2] e do Tijolaço.