Como sempre, estava selecionado o assunto da semana para o blog quando me deparei com essa notícia "Chris Rock diz que Brasil é só bundas"... Talvez, e eu escrevi talvez, eu até relevasse esse fato pelo cara ser comediante e talvez (novamente, talvez) ter feito uma piada de mal gosto.
Mas, em tempos de Copa do Mundo no nosso país onde o complexo de vira lata se mistura a visão do resto do mundo de que não passamos do trinômio "floresta-futebol-bunda" isso soa como muito mais do que uma simples piada de mal gosto, o que por si só já é bastante ofensivo.
Embora não seja o evento dos sonhos em qualquer esfera e tenha sim críticas a serem feitas ao mesmo; essa Copa do Mundo aqui está sendo sim uma Copa bem diferente das demais e nos mais diversos aspectos.
Em termos esportivos, vemos uma surpresa inimaginável muitos diriam; onde grandes favoritos estão deixando o evento "antes da hora"; enquanto aqueles que muitos diriam fazer simples figuração na Copa, despontam revelando assim uma grata surpresa, que se torna ainda maior quando percebemos que a grande maioria destas surpresas são latino-americanas e as favoritas, que seriam seleções europeias, em sua maioria, que já se despediram ou estão se despedindo antes do tempo.
Em termos simbólicos, estamos vendo algo incrível, onde seleções que representam países que cresceram (satisfatoriamente ou não) nos últimos anos, evoluíram e mudaram certas práticas herdadas de seus colonizadores (europeus em sua maioria). É como se a ascensão dessas equipes ditas mais frágeis, antes da Copa se iniciar, refletisse a mudança que as mesmas atravessaram ao longo de anos, projetadas em seus crescimentos e seus avanços nas mais diversas áreas (embora ainda falte muito para que elas cheguem a um patamar desejado; incluindo o nosso país).
O que contrastaria exatamente com as seleções (europeias) que se foram, representando exatamente países que vivem crises que parecem ser refletidas em termos esportivos.
Para nós, em específico, a Copa está servindo para desmistificar o trinômio que citei no início desse texto. Se na Copa da Alemanha acreditava-se que encontraríamos um povo frio, muito por conta da ilusão criada e mantida desde a 2ª G.M., o que se viu foi um povo simpático, festeiro e aberto; na Copa ainda em realização no Brasil, cada vez mais os turistas e a imprensa internacional descobrem que somos mais do que florestas, bundas e futebol. Deixo aqui exemplos que não me deixam mentir (1) (2).
Para encerrar, deixo aqui, na íntegra, um texto que vem ao encontro de tudo o que eu tentei colocar na reflexão acima; claro que o texto abaixo está muito melhor explicado, pois o dom de escrever não me é tão favorável assim, mas eu tento... Espero que aproveitem esse texto, reflitam, e (se for o seu caso) que se perca esse complexo vira-lata que nós temos.
""A Copa é um caos e uma surpresa", me diz um amigo carioca louco por futebol. E acrescenta: "A América Latina está ensinado a Europa a jogar". Talvez seja mais que isso. Uma coisa é certa: dez dias depois de sua abertura, o Mundial está sendo uma caixa de surpresas, com equipes europeias de estirpe desmoronando incrédulas, e com outras do continente latino-americano nas quais poucos apostavam. Estas constituem um terço das seleções participantes, mas já conquistaram metade dos pontos disputados.
Três times que nunca ganharam um Mundial – Costa Rica, Colômbia e Chile – já venceram suas duas primeiras partidas. Os europeus, com um número maior de participantes, acumulam menos vitórias. E alguns, a começar pelo último campeão do mundo, a Espanha, tiveram que fazer as malas de volta quase que antes mesmo de aterrissar.
Ainda não sabemos como vai acabar essa corrida de surpresas, mas já está claro que, como escreveu Roberto Dias no jornal Folha de S.Paulo, "a Copa do Brasil está sendo a Copa da América".
Estará ele se referindo a algum simbolismo em particular? Sem dúvida. Todas as coisas são mais do que parecem na superfície e não costumam acontecer por acaso. Essa falta de brilho de tantas seleções antigas da Europa, em contraste com as latino-americanas, nos obriga a refletir. Pois, como escreveu o filósofo francês Ernst Cossier, o homem é um "animal simbólico" e seus atos estão cheios de significados que vão mais além do que se percebe superficialmente.
Outro grande filósofo do simbolismo, Gilbert Duran, afirma que o que integra o "universo dos símbolos" permite descobrir que "nesse caos aparente existe uma certa ordem interna", uma realidade oculta.
Qual pode ser essa ordem interna escondida pelo caos da Copa que estamos vivendo no Brasil, na qual as seleções que estão surpreendendo não são, com exceções, as da velha Europa, mas sim as jovens latino-americanas?
O Brasil sempre usou sua genialidade no jogo de bola para chamar a atenção do mundo para um país que sempre sofreu de um certo complexo de inferioridade e que ainda traz em sua carne as feridas sangrentas de uma dura escravidão que o marcou dolorosamente e deu origem a profundas desigualdades sociais.
Hoje, o Brasil, que cresceu e está se superando, possivelmente já não precise tanto do brilho do futebol para aparecer e se fazer presente entre os grandes do mundo. Pode aparecer por outros motivos e virtudes.
E os outros países latino-americanos que estão surpreendendo nesta Copa?
Talvez não seja coincidência o fato estarmos admirando nas partidas dessas seleções, além de um jogo mais jovem, original e dinâmico, também a coragem e o esforço de seus jogadores. Eles que, graças a um desses simbolismos, "não esperam que a bola chegue a seus pés, mas sim vão buscá-la intrepidamente", como alguém comentou em um programa do SporTV.
Isso e o simbolismo - não menos importante - de que essas seleções chegaram à Copa do Brasil sem os antigos complexos de inferioridade diante dos europeus, sem medo e conscientes de seu valer e de seu valor. Não estariam triunfando justamente por ter perdido o medo do medo?
Será isso tudo um reflexo do que esses países começam a viver também fora do futebol, em um momento em que estão perdendo seus velhos complexos e se veem confiantes de ser, senão os melhores, pelo menos não inferiores a ninguém e muito menos a seus antigos colonizadores?
Este Mundial já estava se anunciando como diferente dos anteriores com a surpresa de que a maioria dos brasileiros preferia que tivesse ocorrido fora de seu país. Foram até capazes de colocar no banco dos réus tanto o Governo como a FIFA, pelo excesso de desperdícios na construção dos estádios.
Agora, quem sabe, passe para a história como um novo despertar – e não apenas no mundo do futebol – de outros povos deste continente americano, sempre condenados a ser vistos como de segunda classe na avaliação mundial.
É possível que, ao se fecharem as cortinas do Mundial de futebol brasileiro, os filósofos do simbolismo tenham que analisar este caos de uma Copa da qual se diz que "ninguém está entendendo nada". Talvez porque ela está sendo mais do que uma Copa de futebol."
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