Desde a semana passada, notícias e mais notícias circulam sobre a tensão envolvendo Síria, Rússia e EUA.
As declarações em tom ameaçador não são novas, mas a subida de tom entre as nações sim.
A Síria foi um dos poucos países que resistiu a "Primavera Árabe" e, desde então, trava uma guerra civil que já perdura anos. E só está tendo esta validade toda por conta dos padrinhos envolvidos neste conflito, o que nos remete a uma história bem semelhante a rixa entre as Coreias.
Se por um lado o governo sírio conta com apoio russo, os rebeldes contam com apoio norte-americano para derrubar o regime de um ditador cuja família está há mais de 40 anos no poder.
Desde os primeiros movimentos da "Primavera Árabe" o governo sírio se mostra relutante em deixar o comando. Seja por ter o exército ao seu lado, seja pelo apoio russo. Já do outro lado, os rebeldes tentam uma coalizão capaz de combater o governo, ao passo que o seu "padrinho" o ajuda belicamente, mas também com o intuito de pôr no governo alguém que atenda prontamente os interesses do Tio San.
Por anos, o conflito não "incomodou" ninguém pelo simples fato de estar restrito a própria Síria. Contudo, nos últimos dois anos, vemos uma onda migratória proveniente desde conflito (entre outros motivos) como nunca se viu desde a segunda guerra, buscando principalmente o outro lado do Mar Mediterrâneo.
Neste cenário o "incômodo" passa a ser sentido, pois extrapola os limites do território sírio e ganha o continente europeu com um fluxo migratório tão grande para a região que foi até capaz de impulsionar o Brexit.
Entra em tela então o retrato de uma situação já vista anteriormente, por diversas vezes na história: o continente europeu pede ajuda ao Tio San para resolver os problemas que ela mesmo negligenciou e agora já não é capaz de contornar sozinha.
Travestido de salvador do velho mundo, mais uma vez, os EUA tentam achar uma solução para o conflito, não porque possuem a melhor estima pelo continente europeu, mas sim porque, para uma economia com base no petróleo, ter mais um país de quem comprar expande seus mercados e torna o preço ainda mais atraente, principalmente quando o governo é seu aliado...
A questão é quando paramos pra perceber que do outro lado, o governo sírio tem um aliado que possui um poder de fogo que pode até não ser o mesmo dos EUA, mas sua capacidade de destruição não fica longe. Isso sem contar que a Rússia é herdeira da antiga URSS e a mesma e os EUA rivalizaram por décadas acerca da hegemonia mundial; o que ainda rende ranços de ambas as partes.
Assim vemos um conflito de escala local ter condições reais de se tornar um conflito de escala global. Mas isso não pelo envolvimento de diversos países, mas sim numa perspectiva bélica, já que o "padrinho" de cada um dos envolvidos possui armamento suficiente para reduzir o mundo todo a poeira.
Claro que o confronto entre ambos é descartado, até por eles mesmos. Eles sabem das armas que possuem e das consequências do uso delas em caso de conflito. O que parece então deixar as coisas no campo das sanções, onde o Tio San tentará "estrangular economicamente" o governo sírio e seu aliado russo através de sanções econômicas para tentar obter alguma vitória.
O problema vai ser tentar fazer isso quando 1/3 do gás do continente europeu é fornecido pela Rússia. Entretanto, o ponto principal nem é esse. Pois com EUA e Rússia travando uma queda de braço via governo sírio e seus rebeldes, quando o principal objetivo que é a devolver a ordem e a estabilidade em todas as suas esferas ao país será concretizado?
Até lá, nos resta acompanhar pelo noticiário mais um capítulo do que seria um resquício da guerra fria e que já acontece com as coreias, acontecer também na Síria. Enquanto isso, o povo sírio padece e perde cada vez mais a esperança em cada bomba que é lançada sobre os escombros do que um dia foi o lar deles.