terça-feira, 26 de novembro de 2019

O que é o "Ponto de não retorno" da Amazônia?

Infelizmente, não é nenhuma novidade quando vemos as últimas notícias sobre o desmatamento da Amazônia e vemos recorde negativo atrás de recorde negativo. 

Depois do pior agosto dos últimos 30 anos, os dados preliminares de agora nos mostram um aumento de aproximadamente 30% no desmatamento da Floresta Amazônica. Dados que chocam e que já fazem a comunidade científica pensar no chamado ponto de não retorno da floresta, mas o que é isso?

O ponto de não retorno é quando a floresta não irá mais conseguir se recuperar das agressões feitas pelo homem e, assim, começará a virar uma savana, como é o nosso Cerrado. O que traria uma série de consequências negativas em termos local, nacional e internacional, mas antes de irmos a estas consequências, vamos abrir um parêntese rápido aqui. 

Apesar dos dados alarmantes levantados por órgãos oficiais sobre o desmatamento, esta questão não é novidade em nosso país. Há pelo menos 50 anos, isso de forma consecutiva pelo menos, a floresta Amazônica vem sendo desmatada. Embora eventos anteriores tenham ocorrido como as drogas do sertão e os ciclos da borracha, podemos dizer que, de maneira efetiva e contígua, a devastação ocorre desde o a ditadura militar pautada em seus slogans como "integrar para não entregar". 

Pois bem, embora o desmatamento seja algo histórico, algo que você pode observar nestes mapas, desde 2017 os número tem aumentado cada vez mais e floresta já está começando a dar sinais de atingir o seu ponto de não retorno. 

Áreas ao sul e a leste da floresta já estão com temperaturas maiores e a estação das secas já está começando a se prolongar por lá. Sinais de que não estamos longe de atingir o ponto de não retorno. Aliás, pesquisadores já calculam que, nesse ritmo, podemos atingi-lo em 15 anos

Caso isso ocorra, vários fatores serão afetados, principalmente os climáticos. Embora os estudos ainda não seja precisos, podemos elencar alguns deles:

  • Aumento da temperatura local. 
  • Queda nos índices de chuva não só nas localidades próximas, como em outras regiões do Brasil, podendo também afetar outros países, já que prejudicaria o fenômeno dos rios voadores. 
  • Prolongamento das estação seca na região. 
  • Savanização da Amazônia, o que aumentaria a temperatura, tornando-a tão quente quanto o Cerrado. 
  • Perda de biodiversidade, já que animais e plantas não suportariam as temperaturas mais quentes. 
  • Perda de produtividade agrícola e extrativista. Pois nem todo cultivo sobreviveria as novas temperaturas do local. 

Entre outros que ainda estão em estudo. 

Contudo, a postura do atual governo parece ignorar esta triste realidade e o reflexo disso se dá em ações que vão desde a tentativa de fusão entre ministérios da agricultura e do meio ambiente, passando pela demissão do então presidente do INPE por divulgar dados que ratificam o aumento agressivo do desmatamento, a falas que denigrem o IBAMA e ONGs que procuram preservar o que ainda resta da nossa floresta. 

Atitudes como essa, mostram o descaso com a nossa floresta, que possui importância climática ímpar, como já explicamos em posts anteriores (1 e 2). Ainda mais quando essa atitude descabida é sustentada por uma falácia que nos remete a questão da exploração econômica da Amazônia. 

Tal argumento se mostra infundado pois na histórica exploração da floresta amazônica, não há um estudo sequer que comprove a relação entre exploração da floresta e enriquecimento ou melhora na qualidade de vida da população, muito pelo contrário. Os que de fato enriquecem correspondem a um pequeno grupo de fazendeiros e pecuaristas que utilizam alta tecnologia em suas produções e contratam pouquíssima mão de obra que, quando muito, recebe um salário mínimo. 

Casos em que a população consegue seu sustento e melhorar seu padrão de vida estão relacionados a exploração da "floresta em pé" como os coletores de açaí. 

Aliás, vamos abrir aqui outro parêntese. 

Um pouco mais acima, dissemos que o desmatamento tem aumentado na Amazônia, especialmente ao sul e ao leste. Não coincidentemente são áreas que costumam receber o nome de "arco do desmatamento", pois são vítimas do avanço da agropecuária para a região da floresta amazônica. 

O que nos permite arriscar a dizer que até pode sim haver um desenvolvimento sustentável na Amazônia, mas, com certeza, não é da forma que se apresenta atualmente em alguns casos. 

Vale lembrar também que a culpa não pode recair somente sobre essas atividades. Grande parte do desmatamento da floresta vem de atividades criminosas, onde grileiros queimam áreas de floresta visando sua apropriação futura. 

Como vemos, a lista de problemas é longa, ainda mais por ser tratar de um problema histórico. Entretanto, adotando a postura que o atual governo tem para com a situação. A lista só vai aumentar.  

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