segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Contornando a crise

Talvez um dos setores mais afetados pela "crise" mundial, senão o mais afetado, o setor siderúrgico começa a se reerguer da crise, pelo menos em MG cuja economia está pautada emgrande parte neste setor, o que se justifica pela presença do quadrilátero ferrífero no Estado.


Vamos ver se agora, com esse alavancar, a indústria volte a contratar efetivamente e pare de usar a crise como desculpa para demitir...


Ao se definir em um poema, Carlos Drummond de Andrade, nascido em Itabira, anotou: Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro/Noventa por cento de ferro nas calçadas/Oitenta por cento de ferro nas almas.

Assim também é a economia de Minas Gerais. Umbilicalmente ligada ao ferro, ao aço, aos bens minerais. Mas não é só. De olho no futuro, o estado aposta na diversificação econômica e tenta atrair novos setores, como a indústria farmacêutica, além de investir na expansão da oferta de energia. “Mesmo com a crise, o telefone não para de tocar e temos trabalhado como nunca em uma série de projetos de setores bastante diversificados, desde a abertura de uma nova fronteira agrícola, no noroeste, passando por investimentos na indústria automobilística e interesse de empresas farmacêuticas em se instalar por aqui”, informa Sérgio Barroso, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico.

Fortemente afetado pela crise mundial, o setor siderúrgico começa a dar sinais de recuperação, o que estimula a retomada de velhos planos. Um novo polo mineral no norte do estado, por exemplo, desperta a atenção de mineradoras e siderúrgicas e poderá resultar em investimentos superiores a 4 bilhões de dólares ao longo da próxima década. A indústria automobilística aplica recursos para desenvolver novos projetos, de olho no mercado brasileiro, um dos cinco do mundo que registraram alta nas vendas internas em 2009. Na área de energia, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) começam a sair das pranchetas e devem representar outros 2 bilhões de reais em investimento. Além disso, Minas acaba de ingressar no seleto grupo de estados produtores de gás natural.

Apesar das incertezas no cenário mundial, a Usiminas, uma das maiores siderúrgicas do Brasil, voltou a ampliar os investimentos na usina de Ipatinga, a 220 quilômetros de Belo Horizonte. Serão aplicados 215 milhões de reais para aumentar a oferta de aços nobres destinados aos setores de petróleo, gás e automotivo, itens de maior valor agregado e rentabilidade. A siderúrgica, que no auge da crise desligou três de seus altos-fornos para reduzir a produção de aço, está preparada para religar gradualmente dois deles, um em Cubatão (SP), outro em Minas Gerais. “A crise afetou o setor de mineração e siderurgia, os mais importantes de Minas, mas as perspectivas de médio e longo prazo são bastante positivas e eles vão continuar alavancando nossa economia. Muitos projetos foram mantidos, enquanto alguns foram adiados, porque os empresários estão cautelosos com o caixa”, afirma o secretário Barroso.

Neste segundo semestre, com a maior demanda de aço por grandes clientes, como montadoras e construtoras, as siderúrgicas voltaram a sentir melhora nas vendas. A maioria está religando altos-fornos paralisados e retomando o ritmo de produção de antes da crise. A Gerdau anunciou recentemente que um alto-forno de sua subsidiária, a Açominas – localizado em Ouro Branco (MG), paralisado desde dezembro e com capacidade de produzir 3 milhões de toneladas de aço –, voltou a operar de forma gradual em 1º de julho. “Estamos moderadamente otimistas com o segundo semestre”, diz o diretor-presidente da empresa, André Gerdau.

Mesmo se persistirem as incertezas em relação à oferta e demanda de produtos siderúrgicos no curto prazo, as perspectivas para a indústria extrativa mineira no médio e longo prazo são bastante positivas e devem resultar em investimentos bilionários ao longo dos próximos anos. A maior aposta dos setores público e privado é a implantação de um novo polo mineral no norte do estado. Ainda em fase inicial de estudo, o projeto vem sendo desenvolvido por empresas detentoras de direitos minerais na região, entre elas Vale, CSN, Grupo Votorantim, MTransminas, Mineração Minas Bahia (Miba) e Gema Verde. O objetivo é erguer um complexo industrial de mineração, com mina, usina, ferrovia ou mineroduto e porto. “Esse projeto ainda está em análise e início da avaliação de sua viabilidade econômica. É necessário ainda ter conhecimento detalhado das jazidas e de seu potencial, mas é bastante promissor”, revela, mineiramente, o secretário de Desenvolvimento.

Em reuniões preliminares, geólogos informaram que a região norte poderia ter jazidas de ferro com potencial para exploração de mais 10 bilhões de toneladas. Mas essa ainda é uma estimativa superficial. Estudos mais aprofundados medirão o real potencial das jazidas. A expansão da mineração não está, porém, concentrada apenas no norte de Minas. Empresas como a Vale e a Anglo Ferrous têm projetos de ampliação de atividades em Conceição do Mato Dentro, no chamado quadrilátero do ferro.

Os investimentos produtivos não estão apenas concentrados no setor de mineração e siderurgia. A indústria automobilística respira ares mais amenos que os do fim do ano passado, quando a escassez de crédito derrubou as vendas e abarrotou de produtos os pátios das montadoras. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) fez o setor bater novos recordes neste ano. A fábrica de Betim, hoje a planta com maior volume de produção no mundo da italiana Fiat, está em meio a um programa de investimentos em curso no triênio 2008-2010, com recursos de 5 bilhões de reais para a ampliação da capacidade e o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias. “Há interesse de outras empresas do setor automotivo de se instalar em Minas Gerais, tanto montadoras como autopeças. Estamos negociando com a chinesa Chery, por exemplo”, revela Barroso.

Recentemente, o Grupo Riba Motos, que comercializa produtos da marca italiana LEM Motor, anunciou investimento de 5 milhões de reais na instalação de uma unidade industrial e um centro de distribuição no município de Itajubá, no sul de Minas, destinada à montagem e comercialização de motocicletas. Quando concluído, o projeto deverá atingir a capacidade instalada de produção de 400 unidades ao mês.

O setor de energia é outro que atrai investimentos. Um dos destaques é a construção de PCHs. Em julho, foi inaugurada a usina Cachoeirão, em Pocrane, na região do Vale do Rio Doce, primeira a ser concluída dentro do programa Minas PCH, criado em 2004 pela Cemig e parceiros para estimular esses empreendimentos de energia renovável. Com capacidade de 27 megawatts de potência, a PCH custou 104 milhões de reais e foi construída pelo consórcio formado pela Cemig (com 49% de participação) e a Santa Maria Energética (51%). O programa prevê mais de vinte usinas nos próximos cinco anos. O investimento estimado é de mais de 2 bilhões de reais.

Minas Gerais também ingressou no seleto grupo de estados produtores de gás natural. Em setembro, será dado o início à exploração de gás na Bacia do São Francisco. “Temos grandes expectativas. A perfuração é o último passo para definir se o estado será, de fato, uma potência na exploração de gás”, diz Barroso. Segundo ele, o governo negocia com o governo federal a extensão do gasoduto Bolívia-Brasil ao Triângulo Mineiro, um dos polos do agronegócio mineiro. Seria mais uma opção de energia para as indústrias do estado.
No agronegócio, uma nova fronteira de escoamento da produção foi aberta. Em abril último, entrou em operação o Terminal Intermodal de Pirapora, nova rota ferroviária operada pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), interligando a região ao restante da malha ferroviária da FCA e à Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM). A rota permitirá o escoamento de toda a produção do noroeste mineiro a portos no Espírito Santo. O terminal é uma das etapas do projeto, que vai receber investimentos de 300 milhões de reais até 2013, entre recursos da empresa e do governo mineiro. A expectativa é de que, com o fim da construção da malha de transporte, os produtores agrícolas de Minas Gerais economizem até 10% por saca vendida. Ganhos excelentes ainda mais ante a previsão de que a produção de grãos no estado poderá dobrar nos próximos anos.

Até dezembro, deverão ser movimentadas cerca de 600 mil toneladas pelo terminal. Até 2013, esse volume deverá crescer para 2,6 milhões de toneladas de grãos, tornando-se uma alternativa excelente de logística para a exportação de produtos de toda a região. “A proximidade com a fronteira agrícola brasileira, nos estados de Mato Grosso e Tocantins, viabiliza uma operação de exportação com metade dos custos atualmente praticados”, declarou, na ocasião da inauguração, Roger Agnelli, diretor-presidente da Vale, controladora da FCA.

O noroeste mineiro é a segunda maior região produtora de soja do estado, com mais de 700 mil toneladas, tendo sido responsável pela exportação de 50 milhões de dólares do grão em 2008. Números que poderão crescer com a melhora da logística. Segundo estudos de consultorias, a região ainda dispõe de 2,5 milhões de hectares agriculturáveis, capazes de produzir mais 7,5 milhões de toneladas anuais de grãos.

A recuperação de parte da indústria extrativa, o aumento da produção de automóveis e da indústria petroquímica e a retomada de parte dos altos-fornos das siderúrgicas contribuíram para que a indústria mineira registrasse alta de 18,8% em junho de 2009, em comparação com dezembro de 2008, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço de 3,3% da indústria mineira em junho fez o estado registrar o sexto resultado consecutivo de alta, na comparação com período imediatamente anterior. Foi um desempenho único entre as 27 unidades da federação. Mas os números do IBGE apontam que a recuperação ainda é lenta. As indústrias mineiras produziram, em junho deste ano, 16,3% a menos, se comparado a setembro de 2008, pico da atividade econômica no País.

Os produtores de ferro-gusa mineiros, os maiores do Brasil, têm sofrido, diz Paulino Cícero, presidente do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer-MG). “No pico da crise, as fabricantes de ferro-gusa chegaram a gerar 16% do que historicamente o estado produzia. Agora esse número pulou para 25%, mas as indicações são de que o cenário está melhorando.”

Reportagem extraída do site cartacapital.com.br

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