Apesar de um leve baque nas últimas eleições parece que o partido que conduz o processo de separação da Catalunha da Espanha está tomando o caminho para chegar no seu objetivo final.
Região mais rica da Espanha, a Catalunha vem há anos tentado conseguir sua independência do país. Nos últimos anos o pedido vem se tornando cada vez mais forte e a pressão por um plebiscito junto à população por essa questão está cada vez mais perto.
Mesmo que o partido que esteja a frente do processo tenha perdido alguns votos nas últimas eleições, muito por conta da sua postura, aliás da esquerda como um todo não só lá como aqui também... Eu explico...
De forma bem simplista, pense na seguinte situação:
Várias pessoas querem laranja para comer. Porém uma quer fatiada, outra quer em gomos, outra quer para fazer suco e nenhuma delas abre mão de ter a laranja a não ser de sua forma. Mas, o que nenhum deles enxerga, é que todos querem a mesma coisa: a laranja. Todavia, se todos se unissem, todos teriam laranja.
Por analogia pense nas pessoas como os partidos de esquerda e na laranja como o poder ou cargo político pelo qual disputam...
Fato é que mesmo com uma ligeira derrota, exatamente por que o jeito como o partido quer obter a independência da Catalunha não agradou a população, o partido se mantém firme em seu propósito.
Entretanto, acredito ser difícil a Catalunha se tornar independente por conta da Espanha. Se com a crise atual a Espanha já anda cambaleante e muito mal das pernas, imagine o que acontecerá se ela perder exatamente a região mais rica ?
Com a maior participação eleitoral (56,3%) desde as eleições de 1988 e queda nas abstenções, a Catalunha escolheu no domingo (25/11) seu novo parlamento com os olhos voltados para o referendo de independência prometido pelo atual presidente do governo autônomo local, Artur Mas, que buscava manter seu cargo e a maioria de sua coalizão conservadora CiU (Convergència i Unió).
Resultados divulgados, múltiplas leituras podem ser feitas, mas de concreto observa-se uma queda acentuada da coalizão conservadora de Mas (de 62 cadeiras caíram para 50), um crescimento significativo da ERC (Esquerra Republicana de Catalunya, nacionalistas de esquerda que subiram de 10 para 21 cadeiras), uma queda considerável do eterno segundo partido da Catalunha, o PSC (braço local do PSOE que caiu de 28 para 20 cadeiras), um leve crescimento do PP (de 18 para 19) e a chegada das CUP (Candidatures d'Unitat Popular, nacionalistas comunistas que conseguiram 3 cadeiras) no parlamento local, além do crescimento do partido Ciutadans, fortemente antinacionalistas (que foram de 3 para 9 cadeiras).
Os Ecosocialistas da ICV-EUiA (Iniciativaper Catalunya Verds - Esquerra Unida i Alternativa) aumentaram um pouco sua presença no parlamento e são, em geral, parceiros em um processo soberanista (subiram de 10 para 13 cadeiras). Estes se aproximam mais de posições nacionalistas catalãs, apesar de manterem um diálogo com outros setores não-soberanistas de esquerda e terem sido parceiros do PSC e ERC no governo de 2006.
Uns ganharam, outros perderam, resta saber se o ímpeto nacionalista de Artur Mas se manterá o mesmo e quem será convidado para formar parte da coalizão que precisará compor para se manter no poder. As apostas dão como certa uma coalizão com o ERC, que apesar de discordâncias de ordem econômica e social, é o único partido nacionalista com força suficiente para manter a rota traçada por Mas no caminho da independência.
E as primeiras declarações de Mas, de que "apesar dos resultados, o processo da Catalunha segue sem recuos, mas com a consciência clara de que a maioria foi ampliada "sinalizam a manutenção da rota escolhida em 2010. Em outras palavras, será preciso dialogar enquanto coalizão para se alcançar a independência, mas que a maioria nacionalista cresceu e que em até 4 anos haverá uma consulta.
A CiU venceu, mas sofreu uma queda considerável mesmo tendo perdido apenas pouco mais de 120 mil votos e, ao menos de acordo com os primeiros discursos, não alterará a rota soberanista.
Para muitos analistas da imprensa espanhola, os resultados demonstrariam o descontentamento da população catalã com a rota para a independência desenhada pela CiU, porém estas análises desprezam o fato do ERC ter dobrado sua votação anterior e de ter, pela primeira vez, aparecido como segunda força na região, com uma cadeira na frente do PSC. Tal ideia também despreza a entrada da CUP no parlamento e que, somados, os nacionalistas mantêm a maioria e a hegemonia na Catalunha com larga vantagem.
Nas eleições de 2006, os nacionalistas CiU e ERC somaram 69 cadeiras (81 somando ICV-EUiA), enquanto os nacionalistas espanhóis PSC, PP e Ciutadans somaram 54 cadeiras. Nas eleições de 2010, os nacionalistas, somando CiU, ERC, ICV-EUiA e SI (Solidaritat Catalana, pela primeira vez no parlamento), conseguiram 86 cadeiras no parlamento, bem acima das 81 anteriores. Nestas eleições os nacionalistas ampliaram sua força, chegando às 87 cadeiras (CiU, ERC, ICV-EUiA e CUP).
A leitura dos resultados se mostra difícil, pois de certa maneira os partidos mais ferrenhamente antinacionalistas (que, por outro lado, se mostram nacionalistas espanhóis), como PP e PSC, não tiveram um crescimento significativo.
Apesar da queda de CiU e PSC e do crescimento de Ciutadans e ERC, o número geral de cadeiras divididas entre nacionalistas catalães e nacionalistas espanhóis não sofreu grandes alterações, podendo esta eleição ser considerada muito mais um ajuste do que uma revolução no panorama eleitoral.
A tendência que se vê desde 2006 é uma queda na presença de nacionalistas espanhóis no parlamento, ao passo que vem oscilando e talvez tenha chegado ao seu teto a presença nacionalista catalã.
A abstenção e os votos nulos, por sua vez, sofreram grande queda, beirando os 32% frente aos mais de 40% de 2010, uma eleição com recorde de abstenção.
Em termos de votos, é curioso notar que os nacionalistas catalães aumentaram em quase 100 mil o total de votos, se somados com a ICV-EUia este número sobe para perto de 200 mil. Já os nacionalistas espanhóis cresceram cerca de 130 mil votos. A diferença entre nacionalistas catalães e espanhóis, contando com a ICV-EUiA, beira os 750 mil votos, o que, para um colégio eleitoral de pouco mais de 3 milhões de pessoas, é significativo. E é preciso ainda lembrar que há uma parcela significativa de eleitores do PSC e de membros do partido que não são totalmente avessos à soberania, ainda que apostem no federalismo.
Algo claro nos resultados de domingo é que tanto CiU quanto ERC voltaram ao patamar eleitoral de 2006, quando conseguiram, respectivamente, 48 e 21 cadeiras - é bom lembrar que em 2010 o ERC sofreu uma queda acentuada, ainda que não imprevisível, devido à péssima avaliação de seu governo em coalizão com o PSE e ICV-EUiA. O PP vem crescendo pouco a pouco desde então ao passo que a ICV-EUiA vem se mantendo estável e o crescimento do Ciutadans é visível, com o triplo de cadeiras de 2006 para cá. Fato notável, ainda, foi a queda do PSC, mas que vem se mostrando tendência.
As eleições de 2010 foram atípicas, convocadas em meio a uma crise de governo, formado por partidos de esquerda que não concordavam com um referendo soberanista e com questões de maior autonomia regional frente à Espanha.
Frente às maiores manifestações da história da Catalunha, no dia 11 de setembro de 2012, por motivo da Diada (dia em que se comemora ou relembra a conquista espanhola da região em 1714), com milhões de catalães inundando as ruas de Barcelona, e com todas as pesquisas de opinião garantindo uma ampla maioria ao "sim" em um possível referendo pela independência da região, os resultados se mostram, talvez, condizentes com o lento crescimento do nacionalismo catalão na região que não pertence nem à CiUe nem ao ERC.
No fim, os resultados de 2012 se mostram como uma forma de ajuste em relação às eleições de 2006 frente à uma eleição conturbada e atípica em 2010 com a população fazendo o ERC pagar pelos seus erros e dos seus parceiros no governo anterior.
O "plano soberanista" de Artur Mas não fracassou, como pregou o El País em manchete pós-eleitoral ainda antes dos 100% dos votos escrutados, mas apenas terá de sofrer alterações para acompanhar as posições dos outros partidos nacionalistas catalães que terão de ser parceiros no processo.
O processo para a formação do próximo governo regional será complicado, pois apesar da proximidade de posições em torno da independência, ERC, CUP e ICV-EUiA se opõem às reformas econômicas e posições sem relação à questões sociais dos conservadores da CiU, mas o mais provável é que algum tipo de acordo seja alcançado ao menos nas questões mais importantes e caras a ambos os grupos. Uma coalizão tensa, sem dúvida, mas necessária para que se caminhe para a independência.
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