Pois é, a nova onda do momento agora chama-se Eurabia. Isso, nobre leitor, pode ser denominado como um "movimento" que prega uma invasão muçulmana sobre a Europa que fará com que o continente perca sua identidade cultural e se perca em meio ao nefasto mundo árabe... (Te dou um doce se você adivinhar que ala política anda divulgando essa tese)...
Mas, como toda a tese de extrema direita que se prese, essa alegação além de beirar o absurdo é completamente infundada. Acho que como acusar os imigrantes de uma maneira geral por roubar empregos dos europeus não deu certo, além de ser mostrar uma proposição sem um pingo de fundamento; eles devem ter resolvido atacar os muçulmanos se aproveitando de um trabalho iniciado por um certo ex-presidente de uma certa superpotência econômica da atualidade... (está sentindo orgulho agora, Bush?).
Bom, mas vamos a finalidade deste post que é a de desconstruir esse... Mito? teoria? delírio? tentativa desesperada de conseguir cargos políticos em alguns países europeus? (não sei como identificar isso...)
O primeiro ponto diz respeito a tão falada força econômica dos árabes e a dependência do continente europeu em relação a isso. Neste caso esta teoria afirma que os árabes vendem tanto para a Europa que, com este dinheiro, poderiam até mesmo comprar o continente para eles... Bom, os números dizem ao contrário. Segundo dados da Revista Le Mond Diplomatique, as Importações europeias dos países árabes representam apenas 5% do total de importações do continente. Ou seja, como se pode fazer uma dominação tão vultuosa e avassaladora como eles defendem com apenas 5% das importações totais?
Como se não bastasse, o segundo ponto defende que os árabes se multiplicariam de forma surpreendentemente rápida, levando a Europa a passar por um "genocídio europeu" já que sua população seria, de maneira extraordinariamente rápida, transformada em árabes ou em convertidos a religião muçulmana. E novamente os números confrontam isso: primeiro que os árabes na Europa não chegam, ainda segundo dados da revista supra citada, a 3,5% da população total do continente; pesa ainda sobre isso o fato de que a taxa de fecundidade dessa população é tão ou até mais baixa que a europeia. Nesses termos, para causar esta onda que transformará o continente europeu em árabe-muçulmano, levaria algo em torno de uns 6 a 10 mil anos... Realmente... Uma dominação rápida e avassaladora; digna de um genocídio cultural europeu...
Ainda neste quesito, os defensores da Eurabia apontam para as conversões que podem ser feitas por cada muçulmano, levando assim a rápida conversão do continente. Em relação a isso gostaria de deixar o seguinte exemplo:
"Em 4 de janeiro de 2011, o diário The Independent alertava seus leitores sobre um risco de “islamização do Reino Unido”, porque o número de convertidos tinha duplicado em seis anos, passando de 50 mil para 100 mil pessoas entre 2001 e 2011 (para uma população total de 60 milhões de habitantes). Uma pessoa em seis seria convertida ao islã, num ritmo de 5 mil conversões por ano (pouco mais que na França ou na Alemanha). Seriam necessários assim 6 mil anos para que o Reino Unido se tornasse um país de maioria muçulmana. Uma “invasão” muito lenta, portanto, sobretudo quando a comparamos ao crescimento impressionante das conversões ao cristianismo evangélico e pentecostal no mundo, por exemplo, na China e na África: mil pessoas por dia!12 Trata-se da mais rápida progressão religiosa da história – de zero a 500 milhões de adeptos em menos de um século –, mas poucos meios de comunicação se alarmam com a “evangelização do mundo”"... (LIOGIER, 2014)
O mais preocupante nessa história delirante não é o seu aspecto quase fabular, mas sim a aceitação desta teoria em países da Europa, especialmente onde grupos políticos de extrema direita a difundem para justificar uma ameaça (fantasma) a cultura europeia, seu modo de vida e tradições... Mesmo sendo algo absurdo, não me espantaria se nas próximas eleições que ocorrerem pelo continente europeu esses partidos conseguirem representatividade baseados nessa teoria... Algo que eu sinceramente não gostaria de ver, mas sei que vou...
Com informações do Le Monde Diplomatique.
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