Levou mais de 3 anos e 3 primeiros-ministros, mas finalmente o "brexit" virou realidade. Desde o último mês o Reino Unido já não integra mais o bloco europeu, sendo algo pioneiro na história, pois foi o primeiro país a deixar de fazer parte de um bloco econômico.
Entretanto, há de se convir que o Reino Unido não fora parte efetiva do bloco, mas sim um eurocético que usou a expansão do próprio bloco no início dos anos 2000 e a guerra civil na Síria para arranjar a desculpa perfeita para abandonar a União Europeia.
Quando dissemos que o Reino Unido não era entusiasta do bloco, isto pode ser visto no fato da "terra da Rainha" não participar ou deixar acordos como o Tratado de Schengen (que "derrubou" as fronteiras entre os países membros) e a União Econômica e Monetária, que deu origem ao euro, moeda do bloco.
Nesse último, o Reino Unido optou por operar com a moeda local e o euro em seu país.
Fatos esses que demonstravam que a relação entre ambos já não era boa, ficando ainda mais desgastada a cada passo que o bloco dava para se integrar. Tal integração, inclusive, era vista pelo Reino Unido como uma supressão da soberania estados-membros e uma concentração do poder nas mãos de órgãos institucionais criados pela União Europeia.
Entra também como ingrediente desta mistura que deu em divórcio a expansão do bloco para o Leste Europeu no início dos anos 2000. À época esta ampliação do número de membros da UE representou um aumento do mercado consumidor, ampliando suas vendas.
Entretanto, para os trabalhadores de baixa renda, representou uma "invasão" de imigrantes vindos dos novos membros da UE que buscavam as economias mais importantes do bloco para fixar morada... E o Reino Unido era a segunda economia do bloco, o que desgastou cada vez mais a relação entre ambos...
Seguindo este ritmo de desavenças, veio a guera civil na Síria que provocou uma onda migratória nesta década. Em seu início e nos anos seguintes, calcula-se que mais de 6 milhões de pessoas saíram do país para tentar vida nova, especialmente na Europa.
Infelizmente, alguns não chegaram ao outro lado do Mediterrâneo. Porém, aqueles que conseguiram, tentaram abrigo no continente europeu, mais notadamente nos países que compõem a União Europeia, levando o bloco a montar um esquema para recepcionar a maior onda migratória desde a Segunda Guerra Mundial.
Para isso, ficou decido que os imigrantes seriam recebidos conforme a economia de cada membro da UE, ou seja, quanto maior a sua economia, maior o número de imigrantes a acolher. Nem é preciso dizer que tal medida desagradou o Reino Unido, levando a onda de protestos que pediam a saída do país do bloco.
Como dissemos acima, 3 primeiros-ministros e 3 anos e meio depois, a saída foi oficializada, mas os termos nos quais ela se dará ainda não. Trocando em miúdos: o divórcio foi assinado, mas não se sabe ainda quem fica com a casa, o carro e o cachorro.
Isto porque várias questões complexas ficaram ainda por discutir entre o Reino Unido e a União Europeia. Muitas delas têm desdobramentos em outras vertentes, extrapolando a questão econômica e política. Dentre elas podemos elencar as seguintes:
- A circulação dos cidadãos da UE no Reino Unido e vice-versa (o que aliás já começa a preocupar diversos imigrantes, inclusive brasileiros, que veem sua permanência na "terra da Rainha" ameaçada e alguns já começaram a se dirigir para outros países dentro da UE).
- O que nos leva a outra questão: a permissão de residência e trabalho dos britânicos no bloco e dos europeus no Reino Unido. (serão revogadas? manterão o que já fora acordado? serão refeitas? todos terão que sair de seus respectivos empregos?)
- O comércio entre ambos. Como ficam as taxas? A livre circulação de mercadorias?
- O compartilhamento de dados de maneira geral. Por não ser mais membro do bloco, o Reino Unido ainda terá acesso a eles? A União Europeia ainda vai compartilhar seus dados com os britânicos?
- A ideia por parte de Escócia e Irlanda do Norte (países que compõem o Reino Unido, além da Inglaterra) de organizarem uma tentativa de independência da Rainha para voltarem à União Europeia, pois nunca foi desejo de ambos deixar o bloco. Isto só aconteceu, pois ambos estão atrelados ao Reino Unido e, portanto, seguem a Rainha, ou melhor, a Inglaterra.
- A questão das Irlandas (aliás foi o que derrubou a segunda ocupante do cargo do Primeiro-Ministro britânico, Theresa May). A Irlanda do Norte (pertencente ao Reino Unido) e a República da Irlanda (país independente) são fronteiriços e, quando estavam sob o mesmo bloco, suas fronteiras não possuíam barreiras físicas; o que ajudou a amenizar os ânimos desses países que, durante o século passado, protagonizaram diversos ataques entre si, muito por conta da questão religiosa. (Na Irlanda predomina o catolicismo e no xará do Norte predomina o protestantismo).
Obs.: Esta última questão promete ser a mais delicada de todas, pois muitos analistas temem que a volta do controle de fronteiras entre ambos, através das barreiras físicas, traga à tona questões do passado, que foram, em teoria, suplantadas com o acordo de paz de 99 e também pela livre fronteira entre ambos, proporcionada pelo pertencimento de ambos ao bloco econômico europeu.
Porém, nem tudo parece ser abacaxis a serem descascados...
Enquanto o lado britânico parece comemorar (não todos, pois a população se divide entre os que comemoram e os que lamentam o Brexit) a "retomada" de sua soberania com a saída do bloco. O lado europeu agora se mexe para "disputar" entre seus países membros as empresas que estavam fixadas em território britânico, mas que, com o brexit, terão que sair para não perder todas as vantagens comerciais destinadas aos membros do bloco e buscam novos países membros para se instalarem.
França e Alemanha (as duas maiores economias do bloco, vibram com isso)...
Mas como dissemos a conta do divórcio ainda não saiu, mas ela pode ser bem cara para ambos. O europeus perdem a segunda economia do bloco e 15% do seu PIB, além de um assento no conselho de segurança permanente da ONU. Já para os britânicos as vantagens comerciais com o bloco, podem cair por terra e o prejuízo pode ser milionário.
Além disso, a conta pode ficar amarga até para quem não tem nada a ver com o divórcio deles. O Brasil pode ser prejudicado nisso, pois, com a saída de um membro da UE, o bloco deverá reduzir suas cotas de compras em acordos assinados com outros blocos (como o MERCOSUL, no nosso caso) ou mesmo com outros países.
Essa redução de compras pode significar um impacto em nossa economia de proporções significativas, especialmente na agropecuária.
Mas como só o divórcio é que foi sacramentado e não os termos em si, teremos que esperar os anúncios de UE e Reino Unido para ver como ficará o futuro dos dois (e de grande parte do mundo) nos próximos anos.
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