Durante a reunião dos G-20 que ocorreu nos dias 11 e 12 desse mês, muito se foi discutido sobre a guerra comercial entre China e EUA que pode, e com certeza vai, afetar o planeta inteiro. Os EUA pressionam a China para que valorize sua moeda com mais rapidez ao passo que o mesmo se defende alegando que isso poderia desestabilizar sua economia e levar ao desemprego milhões de trabalhadores, no meio disto outra questão se coloca: a valorização das moedas dos países emergentes frente ao dólar, que ocorrera quando os EUA injetaram capital em sua economia favorecendo assim os especuladores a investirem, colocando assim dólares nas economias emergentes, valorizando as moedas desses países.
Diversos países já vêm tomando medidas preventivas para evitar que a sua moeda local se valorize frente a moeda norte-americana a fim de evitar justamente o seu diferencial na economia que é a moeda desvalorizada em relação ao Dólar.
Ao que tudo indica, está sendo bem complicado chegar a um denominador comum pois cada parte possui um interesse diferente e tentar chegar a um acordo multilateral parece cada vez mais inviável.
Tóquio, Japão, 9/11/2010 – A capacidade de liderança da Coreia do Sul passará por um duro exame esta semana quando for anfitriã da cúpula do Grupo dos 20 (G-20) países industrializados e emergentes, em meio a uma guerra de divisas que sacode as relações entre seus membros. Nos últimos meses, países como Brasil, Japão e Tailândia viram com preocupação como suas moedas se valorizaram diante do dólar, o que afeta sua competitividade.
A China, por sua vez, foi alvo de forte pressão por parte de Washington e outros governos para que permita que o yuan se valorize mais rápido. Ao mesmo tempo, países em desenvolvimento observam cuidadosamente os Estados Unidos, sobretudo após a decisão do Federal Reserve, na semana passada, de comprar bônus do Estado para despejar US$ 600 milhões em sua economia, medida que poderia enviar ainda mais capital especulativo para as nações emergentes.
As economias asiáticas atraem capital devido ao seu contínuo crescimento, com previsões de que chegue este ano a 9,4% no total, muito mais do que os índices de expansão estimados para os países industrializados. Os atritos surgidos nesse ambiente financeiro colocarão à prova os vínculos que unem o G-20, cujas economias de seus membros têm diferentes tempos de evolução e enfrentam interesses que se contrapõem. A cúpula acontecerá nos dias 11 e 12 deste mês, em Seul.
“Não quero jogar água fria na cúpula, mas a situação está em nível de crise”, alertou o economista sul-coreano Satoshi Okuda, do Instituto de Economias em Desenvolvimento “A menos que Pequim e os Estados Unidos encontrem uma saída para encarar o superávit comercial do primeiro e o déficit comercial do segundo, não será alcançado um verdadeiro progresso”, afirmou.
As declarações de Okuda apontam para o enfrentamento principal: as tensões entre Estados Unidos e China, e também coincidem com a preocupação de várias economias em desenvolvimento de que um manejo ruim por parte de Pequim de seus novos desafios financeiros pode causar uma grave instabilidade na economia mundial. A China se converterá, em 2020, no principal sócio comercial de cada país asiático, segundo previsão da empresa de serviços financeiros PricewaterhouseCoopers.
Pequim goza de forte superávit comercial e resiste à pressão internacional para permitir que o yuan se valorize mais rápido, argumentando que isso afetaria suas exportações e causaria instabilidade social se milhões de seus trabalhadores forem despedidos como consequência. Já a dívida pública dos Estados Unidos chega a 95% de seu produto interno bruto (PIB). Agora Washington depende cada vez mais de credores externos, incluindo a China, para se manter acima da água.
Enquanto continuam as tensões entre esses dois países, as economias emergentes sentem o impacto da entrada de capital de curto prazo na valorização de suas moedas e sofrem crescentes protestos de seus exportadores, preocupados pela competitividade de seus produtos. Na Ásia, o iene japonês foi a moeda mais afetada pela valorização, atingindo um máximo em 15 anos frente ao dólar em agosto, o que levou o Banco Central japonês a intervir no mercado de divisas pela primeira vez em seis anos.
Enquanto isso, o baht tailandês atingiu seu pico máximo em 13 anos frente ao dólar. Diante disso, países como Coreia do Sul, Indonésia e Tailândia adotaram uma série de medidas para proteger suas economias da entrada excessiva de dólares. Em outubro, o governo tailandês impôs uma retenção fiscal de 15% aos investidores estrangeiros que comprarem seus bônus, enquanto acompanha bem de perto sua moeda, que gira em torno de 29,6 por dólar.
Por sua vez, as autoridades sul-coreanas anunciaram uma auditoria nas instituições financeiras que trabalham com derivados de moedas estrangeiras, para minimizar a volatilidade causada pelos fluxos de capital. Também no mês passado, o Brasil aumentou para 6% o imposto sobre operações financeiras – que recai sobre capital estrangeiro destinado a renda fixa e a operações na Bolsa. O real foi valorizado 12% desde julho.
O ministro das Finanças do Japão, Yoshihiko Noda, defendeu a intervenção para manter a moeda local. “O Japão, com superávit de conta corrente, poderia ser pressionado a permitir maior valorização do iene”, disse o jornal Daily Yomiuri em um editorial de outubro, apoiando os controles. Muitos duvidam que o G-20 possa efetivamente manejar estas tensões em nível multilateral já que, embora represente 80% do comércio mundial, trata-se de um grupo não vinculante, ao contrário de outras instâncias formais de negociação.
Criado em 1999, para dar mais voz às economias em desenvolvimento na governança econômica global, os membros do G-20 são África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Turquia e União Europeia.
O presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, disse esperar que o grupo dê “um passo adiante e chegue a um compromisso” para criar pautas sobre as taxas de juros e estabelecer “diretrizes” para avaliar as contas correntes dos países-membros. Uma das propostas é a criação de um teto de 4% do PIB tanto para o déficit quanto para o superávit de conta corrente.
A situação é semelhante a um vulcão latente, disse o analista financeiro internacional Euh Yoon-dae ao jornal The Korea Herald. Ele disse que a insistência dos Estados Unidos para que a China contenha suas exportações e mude sua política monetária deve ser temperada pela realidade de que uma queda do crescimento chinês poderia afetar sua capacidade de comércio com América Latina, China e Europa, que tanto necessitam essas regiões. “Um cenário assim é muito tenebroso, pois somente causaria uma paralisação econômica mundial”, alertou.
Extraído de cartacapital.com.br
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