Um dos últimos países a se juntar a denominada "Primavera Árabe" a Líbia, viveu essa semana um marco em sua história: a morte daquele que foi seu ditador por mais 40 anos, Kadafi.
Inúmeros vídeos circulam pela internet com imagens do ditador ainda vivo, sendo capturado pelos rebeldes. Mas o final disso todos sabemos...
Contudo, sua morte suscita questões complexas, cujas respostas me parecem estar longe de aparecerem.
Há pouco tempo atrás, publiquei aqui um post sobre a situação da Somália e acho que uma questão que no referido post abordei, pode caber a Líbia...
A Somália vive em guerra civil desde 91 quando seu ditador foi expulso e não se chegou há um consenso sobre quem assumiria o poder... Posso estar sendo fatalista, mas acho que esse cenário pode se repetir na Líbia.
O que antes unia os rebeldes, lutar contra Kadafi e seus aliados, agora não existe mais. A partir disso, pode haver uma cisão entre os rebeldes na forma de governar o país, gerando assim conflitos que podem mergulhar o país em uma guerra civil assim como na Somália.
Outro ponto que devemos ter atenção é que a morte de Kadafi não significa que agora a Líbia, como num passe de mágica, será democrática e igualitária. Não ! Para isso ocorrer um processo árduo e demorado está por vir. Um governo de transição deve ser a etapa inicial disso, mas como os Governos de fora vão querer se intrometer nesse entremeio (não é Tio San ?) procurando levar uma vantagem nisso, esse processo, se não for visto com o devido cuidado e estruturação que merece, pode acabar sendo um certo fiasco.
Os rumos da Líbia agora parecem um tanto quanto nebulosos, temos de esperar pra ver os rumos desse país que agora se liberta de mais de 40 anos de uma ditadura. Mas, volto a dizer, é um processo que exige bastante cautela, ainda mais quando sabemos que as interferências externas serão inúmeras.
O primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mahmoud Jibril, confirmou nesta quinta-feira que o líder deposto Muamar Kadafi, de 69 anos, foi morto na Líbia. Kadafi, que se agarrou ao poder por 42 anos até ser deposto por um levante popular iniciado em fevereiro que se tornou uma sangrenta guerra civil, foi morto por forças revolucionárias durante a queda de Sirte, sua cidade natal, o grande último bastião de resistência desde a queda do regime, há dois meses.
Autoridades do governo interino dizem que Mutassim, um dos filhos do Kadafi, morreu durante a captura do pai, enquanto há relatos não confirmados de que Saif al-Islam, apontado como seu sucessor, foi ferido e capturado.
Kadafi é o primeiro líder morto na Primavera Árabe, onda de movimentos populares que ocorrem no Oriente Médio e no norte da África desde dezembro para exigir o fim de governos autocráticos e mais democracia. Além da Líbia, regimes foram depostos na Tunísia e no Egito. Kadafi foi um dos líderes mais longevos do mundo, dominando o país por meio de um regime comandado por seus caprichos e atraindo condenação internacional e isolamento durante anos.
"Esperávamos por esse momento há muito tempo. Muamar Kadafi foi morto", disse Jibril na capital do país, Trípoli. Segundo o premiê, o líder deposto morreu de um ferimento causado por um disparo na cabeça. Kadafi, segundo Jibril, foi atingido durante o fogo cruzado entre seus partidários e combatentes do governo interino depois de ter sido capturado ao ser retirado de um duto de esgoto — apresentando o argumento de que ele não foi morto intencionalmente.
"Kadafi foi retirado do duto sem resistir. Quando o levávamos, foi atingido por um disparo no braço direito e então colocado em uma caminhonete", disse Jibril ao ler um relatório forense. "Quando o carro se movia, foi pego no fogo cruzado e atingido por uma bala na cabeça. O médico forense não pôde dizer se a bala era dos revolucionários ou das forças de Kadafi."
Também de acordo com premiê, Kadafi morreu poucos minutos antes de chegar ao hospital e será enterrado na sexta-feira na cidade de Misrata. O presidente do CNT, Mustafa Abdel Jalil, declarará a libertação da Líbia no sábado.
Na coletiva em Trípoli, Jibril também pediu que a Argélia entregue os membros da família de Kadafi que se abrigaram no país. A mulher do líder deposto, assim como três de seus filhos - Aisha, Muhammad e Hannibal - fugiram para a Argélia em agosto. Saadi, outro filho de Kadafi, abrigou-se em setembro no Níger. A Interpol emitiu um mandado de prisão contra ele a pedido do CNT.
Além de Kadafi, o ministro interino de Informação da Líbia, Mahmoud Shammam, disse que Mutassim - filho e um dos conselheiros de segurança nacional de Kadafi - foi ferido quando se escondia com o pai. Um repórter da Reuters confirmou que viu o corpo, que teria sido colocado sobre cobertores no chão de uma casa em Misrata, coberto da cintura para baixo com uma capa de plástico azul. O corpo apresenta ferimentos no peito e pescoço.
Há relatos conflitantes sobre o paradeiro de Saif al-Islam, sempre apontado como sucessor de Kadafi. À rede de TV árabe Al-Jazeera, uma autoridade do governo interino afirmou que ele ainda estaria foragido no deserto da Líbia. Posteriormente, surgiram informações de que ele, que teria tentado fugir de Sirte em um comboio, estava cercado e sob ataque. Já a rede Al-Arabyia afirmou que ele foi morto. Mais tarde, a TV pró-Kadafi Al-Ra, que fica na Síria, disse que "não havia nenhuma verdade" nas informações sobre a morte ou captura de Saif al-Islam.
Outros dois filhos de Kadafi foram mortos previamente. A morte de Khamis em um confronto perto de Trípoli foi confirmada por uma rede pró-Kadafi nesta semana. O filho mais novo de Kadafi, Saif al-Arab, foi morto em um ataque aéreo da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em abril.
Antes da informação sobre a morte de Kadafi, o comandante do CNT Mohamed Leith anunciou que elehavia sido capturado. "Ele foi capturado em sua cidade natal, Sirte. Está muito ferido, mas ainda está respirando." Segundo ele, o líder deposto vestia um uniforme cáqui e um turbante.
Circunstâncias incertas da morte
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse que a morte de Kadafi "põe fim a um longo e doloroso capítulo da Líbia". "O regime de Kadafi chegou ao fim", disse, afirmando que "hoje é um dia importante na história" do país. Outros líderes ocidentais, que contribuíram para a queda do regime por meio de operações da Otan, consideraram que a morte de Kadafi marcava o "fim da tirania". A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, afirmou que o mundo deve apoiar e incentivar o processo de transição democrática no país, mas ressaltou que uma morte não deve ser "comemorada".
Líbios saíram às ruas de todo o país para celebrar a notícia. "Nosso atual ambiente será aprimorado. Esperávamos por essas notícias. Líbia se tornará um local muito seguro. A comunidade econômica aqui ficará muito feliz, poderemos retomar nossos negócios. Estamos gratos aos EUA, à França e ao Reino Unido por sua ajuda", afirmou um residente de Trípoli.
Antes de o prêmie líbio declarar que Kadafi tinha sido atingido por um disparo na cabeça, as informações que surgiram foram confusas, levantando dúvidas sobre como exatamente ele foi preso e morto. Redes de TV árabes mostraram imagens do líder deposto ferido, com o rosto e blusa ensanguentados, mas vivo. Vídeos posteriores mostraram seu corpo sem vida sobre a rua, com sangramento na cabeça, enquanto combatentes o arrastavam
A maioria dos relatos coincide em indicar que o cerco ao líder começou quando ele estava escondido com seus partidários nos poucos prédios que ainda controlavam em Sirte, que fica na costa do Mar Mediterrâneo. Em meio a fortes combates, um comboio de 80 veículos tentou fugir do local. Um avião não-tripulado dos EUA avisou a Otan, que conduziu a ação contra o comboio, lançada por aviões da França. De acordo com o ministro francês da Defesa, Gerard Longuet, Kadafi estava no comboio de 80 veículos. Ele também disse que os bombardeios pararam o comboio, mas não o destruíram, possibilitando que os combatentes encontrassem Kadafi.
Extraído de ig.com.br
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