Na última semana tem sido comum notícias envolvendo a disputa comercial entre EUA e China, iniciada pelas declarações do atual presidente norte-americano que traçou como atual meta reduzir o déficit comercial que os EUA possuem em relação a China nas transações comerciais entre ambos.
A ideia do atual presidente foi sobretaxar produtos vindos da China sob a alegação de diminuir esse déficit, além de proteger os produtores norte-americanos. Não tardou, a resposta chinesa veio na mesma moeda através também do aumento do valor de produtos norte-americanos que entrarem em território chinês, dando início então a uma nova guerra comercial entre as nações.
A questão é que, em uma economia globalizada, a disputa comercial iniciada pelas medidas protecionistas de Trump geram um efeito dominó na economia do mundo, com efeito maior, claro nas empresas chinesas e norte-americanas.
Embora a disputa esteja centrada em ambos, tanto empresas chinesas quanto norte-americanas estão espalhadas pelo mundo. Com medidas protecionistas de ambos os lados, a produção dessas empresas e até mesmo de fornecedores para as mesmas pode ser reduzida com essas medidas e até mesmo sua produção repensada ou realocada para outros lugares.
Isso sem contar, à guisa de exemplo, que uma empresa brasileira pode fornecer peças para uma empresa chinesa que fabrique televisores que são vendidos para os EUA. Caso este produto entre na lista de sobretaxados de Trump, a demanda de televisores pode ser reduzida pela empresa e, consequentemente, as peças encomendadas junto a empresa brasileira também, gerando assim um impacto negativo em economias além da americana e da chinesa.
Por outro lado, essa disputa entre ambos pode forçar os mesmos a buscarem alternativas para suprirem suas necessidades comerciais e isso pode significar alguma vantagem para países fora dessa disputa.
Num exemplo meramente ilustrativo, podemos nos referir a uma busca no mercado chinês por carne bovina de outros países, se esquivando assim da sobretaxa de produtos norte-americanos para comprar mais barato.
Mesmo assim, num aspecto mais holístico, o saldo ainda é negativo se nos depararmos com o atual nível de interdependência das economias mundiais, especialmente com o "boom" da globalização tecnológica dos anos 90 pra cá. As disputas comerciais entre ambos afeta sim as demais economias do planeta, gerando um efeito dominó negativo na economia global que ainda vive seus resquícios da crise da bolha imobiliária de 2007.
Entretanto, não podemos deixar passar despercebido como aquela velha máxima do "faça o que eu digo, não o que eu faço" se encaixa nessa situação.
O autoproclamado defensor da liberdade e do livre comércio vive se infiltrando em questões comerciais alheias e sendo incansável em impor ou buscar impor sanções sobre países que julga estarem se utilizando da práticas protecionistas (leia-se protecionistas em relação ao mercado norte-americano) agora quer se utilizar do mesmo propósito com o escopo de resguardar sua economia do rombo comercial em relação as trocas comerciais chinesas.
Mas, tal fato, não é novidade. Podemos aqui relembrar o caso da ALCA (Associação de LIVRE COMÉRCIO das Américas), um bloco econômico que iria englobar todos os países do continente americano, exceto Cuba, que à época, serviria para reforçar a dominação norte-americana sobre todo o continente bem como serviria de resposta à União Europeia que estava em processo de expansão para o Leste Europeu.
Um dos principais motivos que impediram que o bloco saísse do papel foi exatamente a imposição de medidas protecionistas pelos EUA em relação a produtos vendidos por outros países do bloco, mas que não tinha uma contrapartida em relação aos produtos americanos vendidos para os países. Um caso emblemático à época foi o da laranja brasileira no mercado norte-americano.
Diante deste e de outros impasses o bloco acabou sendo engavetado e agora vemos as mesmas medidas protecionistas do país sendo impostas a China e prejudicando não só os chineses diretamente como o mundo inteiro, indiretamente. Neste cenário, o "faça o que eu digo, não o que eu faço" se torna mais uma vez latente bem como a hipocrisia norte-americana.
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