Essa semana, infelizmente, todos tomamos conhecimento da chacina no México em um fazenda contra 72 pessoas, de diversas nacionalidades que eram imigrantes clandestinos. Tal chacina envolve duas questões.
A primeira delas diz respeito ao uso do país como fronteira final para se chegar aos EUA. Milhares de pessoas tanto da América central quanto da América do sul buscam o México para tentar atravessar ilegalmente a fronteira com os EUA. Assim, ficam expostos a toda sorte: desde ser assaltados pelos atravessadores também conhecidos como "coyotes" passando por sequestro que pode ser praticado por alguma organização criminosa mexicana que exige o resgate da família chegando até mesmo a abusos cometidos pelas autoridades tanto mexicanas quanto norte-americanas, esta última para aquele que conseguem atravessar a fronteira.
A outra questão envolve o o governo recentemente eleito de Calderón, que se elegeu prometendo guerra ao crime organizado mexicano e que, desde então, tem travado batalhadas sangrentas levando a morte de milhares de pessoas além do acontecimento do episódios lamentáveis como esse.
Diante do exposto, deve-se aferir que o governo Calderón ainda muito o que fazer pelo país e que sua estratégia de guerra ao tráfico parece não estar dando certo. Até porque se a força do tráfico de lá for como a força do tráfico daqui, o que eu não duvido que seja muito diferente, não será através da força que o governo irá acabar com o tráfico, mas sim da inteligência que também pode e deve ser aplicada para resolver a questão dos imigrantes ilegais no país.
Usar a inteligência não é panacéia, mas é o começo do caminho para se resolver problemas como esse.
A chacina de 72 latino-americanos em um rancho do estado de Tamaulipas, sul do México chamou atenção para o problema da imigração na fronteira com Estados Unidos e colocou à prova a administração de Felipe Calderón, que deu início em sua gestão à uma “guerra contra o crime”.
Todos os anos milhares de pessoas, originárias de países centro-americanos e sul-americanos, tentam a sorte em um percurso cheio de perigos. Há casos de agressões, sequestros e estupro de mulheres, além de assassinatos por parte de grupos criminosos e da própria polícia mexicana.
Dados da Comissão Nacional de Direitos Humanos revelam que somente entre setembro de 2008 e fevereiro de 2009 mais de 100 mil imigrantes foram sequestrados no México. Os grupos criminosos atuantes na região – como Los Zetas e o Cartel do Golfo – praticam os sequestros e depois cobram de 1,5 a 2 mil dólares de resgate das famílias dos imigrantes, muitas vezes já instaladas nos EUA.
Organizações não governamentais calculam que mais de 400 mil imigrantes passam pelo território mexicano a cada ano. Segundo o Instituto Nacional de Imigração do México, somente 150 mil conseguem cruzar a fronteira.
A situação é tão grave que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denunciou em março de 2010 o que está acontecendo no México e lembrou que, apesar de fazer constantes alertas sobre a situação há três anos, “não houve qualquer ação eficaz do governo”.
O informe emitido pela CIDH indica que a falta de medidas por parte do governo “culminou na continuidade de toda sorte de abusos sexuais, tortura física e psicológica” infligidos aos imigrantes.
Ontem (25/8), a Anistia Internacional afirmou que a forma com que o governo Calderón lidar com a situação revelará sua capacidade de combater a criminalidade. No informe “Vítimas invisíveis: Imigrantes em movimento no México”, apresentado em abril de 2010, a AI advertiu que as autoridades mexicanas deveriam atuar para pôr um fim aos persistentes abusos contra imigrantes.
Desde que em 2006 o presidente Felipe Calderón pôs em marcha uma estratégia de guerra contra os cartéis de drogas, que incluiu a mobilização de 50 mil homens do exército nas ruas, mais de 28 mil pessoas morreram em consequência do tráfico, segundo dados oficiais. Em Ciudad Juárez, considerada a mais violenta do México, aconteceram somente nesse ano mais de 1,75 mil mortes violentas, um aumento de 50% se comparado com 2009.
Chacina – De acordo com o relato de um sobrevivente, 72 cadáveres encontrados na terça-feira em um rancho em Tamaulipas são imigrantes clandestinos, a maioria centro-americano e sul-americano, dentre eles brasileiros.
O vice-cônsul do Brasil no México, João Zaidan, viajou hoje (26/8) com uma delegação consular em uma aeronave disponibilizada pelo governo mexicano e que também levava diplomatas dos outros países de origem dos imigrantes mortos – El Salvador, Honduras e Equador – para verificar a nacionalidade das vítimas e o andamento das investigações.
Extraído de cartacapital.com.br
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