Semana passada, em plebiscito bem apertado, o Reino Unido decidiu sair da UE.
A notícia tomou o mundo de assalto e está causando um alvoroço não só do outro lado do Atlântico, como no mundo inteiro.
Em votação apertada, a população decidiu pela saída do bloco. Por mais que plebiscito seja "apenas" uma consulta, em um termo mais raso, o ainda primeiro-ministro já disse que ela deverá ser cumprida.
Aliás, o mesmo primeiro-ministro, era favorável a permanência do país no bloco, embora com certas restrições, e, ao final da votação, acabou entregando o cargo e delegando a espinhosa função ao seu sucessor.
As consequências dessa possível saída se mostraram quase que imediatamente. A moeda britânica desvalorizou quase 30% após o anúncio, bancos já ameaçam a sair da UE e o fantasma do desemprego já assombra a terra da Rainha.
Os prenúncios desse desfecho já vinham se desenhando com a crise migratória do Oriente Médio e da África para o continente, mas não só por isso.
Primeiro, temos que levantar aqui a questão da "realeza". O Reino Unido sempre se viu um pouco acima do resto do continente. Afinal de contas "britânicos são britânicos e europeus são apenas europeus". Esse ar de superioridade contido na frase, já evidencia um pouco do descontentamento de se "misturar" com o resto do grupo.
Se com o europeu já era difícil, não à toa eles não aceitaram o euro como moeda única e mantiveram o peso da libra durante todos esses anos, imagina com quem vem do outro lado do Mediterrâneo?
Pois é... Essa xenofobia travestida de "questão de segurança" fez o Reino Unido se apoiar em discursos tão profundos quanto um pires e esquecer um passado bem recente para tentar se justificar.
Profundos quanto um pires porque imigrantes não disputam o mesmo nicho de mercado que os europeus (ops, ingleses). Soma-se a isso o fato de, por mais que seja alegado que membros da ISIS possam se infiltrar nessas levas migratórias, ficou provado que essa questão é deficitária não é de hoje no bloco. Vide os atentados de Madri e Paris para citar rápidos exemplos.
Então alegar que eles poderiam "passar" pelas fronteiras mais soa como requentar um argumento antigo, porém não utilizado porque não convinha, do que um argumento cabal para justificar isso.
Tanto é que ficou claro o descontentamento dos britânicos com a política de distribuição de imigrantes pelo bloco que estabelecia uma cota para cada país de acordo com a sua economia. Claro que isso incomoda demais se você já tem uma visão de realeza e uma das economias mais importantes do bloco porque isso significa que o seu contingente de imigrantes será um dos maiores do bloco.
Engraçado que há algumas décadas atrás, quando o continente era palco de mais uma guerra e milhões saíram para diversos outros países pelo mundo, não houveram protestos desse gênero por parte dos outros países...
Motivos à parte, o "não" prevaleceu e já se começa a se especular sobre o futuro de ambos. Dentro disso, podemos pensar em algumas situações.
Num primeiro cenário, o Reino Unido pode simplesmente não sair do bloco e tudo voltará a ser como antes. Afinal de contas, plebiscito é "apenas" uma consulta à população sobre algo a ser decidido. Embora a voz do povo seja a voz de Deus, o plebiscito pode simplesmente ser desconsiderado.
Num segundo cenário, pode ser realizado um novo plebiscito. Como a vitória foi apertada, pode ser usar isso como argumento para uma nova consulta. Mas mesmo com um documento de 1,5 milhão de assinaturas feito logo após a votação pedindo uma nova votação, não se vê uma vontade do governo britânico em realizar novo plebiscito.
Num terceiro cenário, a Escócia pode simplesmente se negar a sair. Pois é... O Reino Unido é composto pela Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales. A Escócia foi o único país onde o não ganhou do sim; talvez isso possa ser utilizado pelos escoceses como fato para emperrar o processo e, quem sabe, impedir a saída do Reino Unido. Afinal de contas, o Reino Unido são 4 em 1 e se 1 dos 4 não concordar, pode ser que a coisa trave.
Num quarto cenário, o Reino Unido pode permanecer no bloco, mas com uma participação "menor". Segundo o regimento do bloco, os membros, ao pedirem para sair do bloco, tem até dois anos para chegar a um acordo com o bloco. Se mesmo após o período não chegarem a um acordo, serão automaticamente expulsos.
Como a questão do Reino Unido com o bloco é basicamente migratória, resolvida esta pauta, durante esses dois anos, o mesmo pode continuar no bloco a exemplo da Noruega que não é membro da UE, mas participa do mercado comum e da política de fronteiras abertas.
Num quinto a cisão é feita de forma total e o Reino Unido não faz mais parte da UE. Países como a Suíça (que não participa da UE), mostraram que isso é possível. As questões aqui são que cada país é um país (econômica, política, cultural e socialmente...) e como será possível uma vida (saudável) pós saída da UE?
Talvez essa seja a questão mais espinhosa de todas atualmente.
Seja como for, apenas podemos especular, montar cenários e etc. sobre essa conturbada possível saída do Reino Unido do bloco. Só o tempo irá dizer como ambos irão se comportar. É esperar pra ver...
Com informações da Folha de São Paulo, G1, Zero Hora, Jornal de Negócios e Brasil Post.
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