sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ETA e mais um cessar fogo

A ETA declarou essa semana mais um cessar fogo na sua luta contra o governo espanhol pela independência do povo basco, minoria que vive sob o território espanhol mas não se vê como tal e por isso reivindica sua independência. Apesar deste cessar fogo declarado, cabe lembrar que a ETA em seu início era uma organização pacífica, mas a perseguição do ditador Francisco Franco ao grupo levou o mesmo a pegar em armas e a se utilizar de táticas ofensivas ao governo espanhol para lutar por sua causa.


Através de um vídeo enviado à BBC, a ETA declarou hoje um cessar-fogo, garantido que abandona as acções armadas na sua campanha pela independência do País basco. A ideia é, agora, pôr em marcha “um processo democrático”. Para além de eventuais associações ao processo de paz irlandês, note-se o simbolismo do exclusivo ser divulgado pela BBC: a instituição jornalística sempre optou pela expressão «grupo separatista basco» para identificar a ETA ao invés de “grupo terrorista”.
Se este é um adeus definitivo às armas, em Espanha ainda poucos acreditam. Mas quem alguma vez mergulhou a fundo na realidade social e política do País Basco talvez tenha direito a outra opinião. Esta é, como muitos já escreveram, uma guerra de décadas, com trincheiras várias. E quando uma porta assim se abre, é melhor não a fecharmos com palavras velhas.
Aqui ficam alguns excertos da declaração da ETA. E que cada um tire as suas próprias conclusões:
A Euskadi Ta Askatasuna, organização revolucionária socialista basca para a libertação nacional, quer dar a saber ao Povo Basco a sua decisão e reflexão através desta declaração.
Passou já meio século desde que a ETA mobilizou os cidadãos para fazer face à estratégia selvagem de negação e aniquilação do Povo Basco e, com as armas na mão, empenhar-se na luta pela liberdade. Desde então, centenas de homens e mulheres deram a esta organização os seus sonhos e paixão, o melhor de si próprios. Cidadãos comuns que, geração atrás de geração, se uniram, com diferentes origens, por um mesmo objectivo: o País Basco e a liberdade.
A luta pela liberdade do Povo Basco guiou sempre a actuação da ETA e, apesar de todas as dificuldades, seguimos com essa responsabilidade. Com humildade, mas também com determinação, com a ambição de vencer. O Povo Basco merece-o.
Um dos propósitos da ETA foi abrir novos cenários na luta pela libertação do Povo Basco. Assim, a ETA tem várias propostas de iniciativas de colaboração, assim como propostas para resolver o conflito de forma democrática. (…) Porque acreditamos que a construção de Euskal Herria pressupõe um trabalho colectivo que está acima dos interesses particulares.

Nestes últimos tempos, o País Basco encontra-se num momento importante, numa encruzilhada. A luta de anos cultivou novas condições políticas. Esgotado o marco autonómico, chegou a hora para o Povo Basco levar a cabo as trocas políticas, chegou o momento de construir o marco democrático, seguindo o desejo da maioria dos cidadãos bascos.
(…)
A ETA reafirma o seu compromisso por uma solução democrática para que, através do diálogo e da negociação, nós, cidadãos bascos, possamos decidir o nosso futuro de forma livre e democrática. Se o Governo de Espanha tiver essa vontade, a ETA está disposta, hoje como antes, para acordar nos mínimos democráticos necessários para lançar o processo democrático.
A ETA anuncia que há alguns meses já tomou a decisão de não levar a cabo mais acções armadas ofensivas.

A ETA reitera o chamamento a agir com responsabilidade a todos os agentes políticos, sociais e sindicais bascos. Para chegar a um cenário de processo democrático é imprescindível dar passos firmes como povo. Porque quando os direitos do Povo Basco forem reconhecidos e garantidos abrir-se-á a porta da verdadeira solução do conflito.

Extraído de cartacapital.com.br  

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