A questão do fim das armas nucleares já se arrasta por décadas. Desde os tempos do fim da guerra-fria EUA e Rússia travam acordos para a redução, chegando a abolição, de seus arsenais nucleares. Porém, a uma série de questões envolvidas que impedem a concretização do acordo.
A primeira delas diz respeitos a desconfiança mútua, afinal de contas estamos falando de duas potências que foram "inimigas" durante décadas e de certa forma ainda o são; a segunda questão se acomoda no fato de que ambos os países legitima o poder que possuem justamente em cima do arsenal bélico nuclear que possuem e, desfazer-se dele pode indicar enfraquecimento de suas forças; a terceira questão está no exemplo a não ser seguido, pois se os dois países abrirem mão de seus arsenais, nada indica que os outros países que possuem arsenal bélico-nuclear também o façam, o que pode deixar esses dois países em xeque; outra questão aborda a segurança, com os ataques terroristas ocorrendo em largas escala nos últimos anos as armas nucleares se tornaram um grande escudos para esses países se deferem dos terroristas (como eu não sei, pois não há como atacar algo que não tem "corpo").
Tais questões acenam para um futuro muito ruim em relação ao desarmamento nuclear de ambos os países que cada vez mais parece soar como utopia, infelizmente.
Os esforços do governo dos Estados Unidos e da Rússia para apressarem o passo rumo à abolição de armas nucleares estratégicas tropeçam em vários obstáculos e suscitam dúvidas sobre a viabilidade de se conseguir um mundo sem armas atômicas em um futuro próximo. O principal argumento é que as medidas adotadas por ambos são insuficientes para o cumprimento dos objetivos do primeiro tratado de redução de armas estratégicas, assinado em 1991.
“A Rússia confere uma utilidade militar significativa ao seu arsenal nuclear, o que faz seu interesse no desarmamento ser muito menor do que o dos Estados Unidos”, disse à IPS por e-mail Ben Rhode, pesquisador especializado em não proliferação do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres. “Este país mantém vários milhares de armas nucleares táticas, como contrapeso à superioridade militar convencional da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)”, disse Ben.
Autoridades do Ocidente “disseram que será preciso incluir essas armas em futuras conversações sobre o controle dos arsenais, mas não sei quão grande será o entusiasmo de Moscou a respeito”, acrescentou Ben. “Um mundo sem armas nucleares implica maior superioridade militar dos Estados Unidos e que a Rússia perca uma das poucas formas de defender seu papel de superpotência”, explicou.
O primeiro Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start) expirou em dezembro de 2009. O novo foi assinado em 8 de abril deste ano pelo presidente russo, Dimitri Medvédev, e por seu colega norte-americano, Barack Obama, em Praga. A primeira rodada de conversações aconteceu em Moscou, entre 18 e 20 de maio.
O novo Start permitiu aos russos limitar a força nuclear dos norte-americanos, à custa de seus envelhecidos vetores de lançamento e do máximo inalcançável de ogivas. Cada país pode ter até 1.500 ogivas estratégicas e 700 vetores de lançamento. “Para preservar os êxitos, as duas partes concordaram em atualizar as disposições principais do tratado, o que poderá ter consequências positivas para o mundo”, disse à IPS o pesquisador Robert Orttung, do Instituto Jefferson, de Washington.
É difícil para os Estados Unidos e a Rússia trabalharem juntos devido aos diferentes valores fundamentais subjacentes a cada regime, independentemente dos acordos alcançados. “A Rússia tem um governo cada vez mais autoritário, baseado em uma retórica oficial contra os Estados Unidos para manter sua legitimidade”, destacou Robert. Com Obama, os Estados Unidos “demonstram que é possível fazer mudanças por meio de um processo político pacífico. Os governantes russos não querem ouvir este tipo de mensagem nem transmiti-la à população”, acrescentou.
“Moscou pode chegar a aceitar o chamado de Obama para negociar outro tratado após a aprovação do novo Start, que cubra armas estratégicas, táticas e não instaladas”, disseram Tom Collina e Greg Thielmann, da Associação para o Controle de Armas, com sede em Washington, em entrevista à IPS. Eles explicaram que “o maior desafio será a recusa de Moscou em renunciar às suas armas táticas, pois não quer reduzir mais o seu arsenal nuclear. Também buscará limitar a capacidade de defesa com mísseis dos Estados Unidos, que Washington não aceitará”.
Para avançar realmente rumo à abolição de armas nucleares é fundamental atender questões complicadas como as ogivas nucleares táticas não instaladas. O principal obstáculo a respeito é a dificuldade em verificar os limites nessa categoria. A Rússia não pretende usar as centenas de ogivas nucleares dos mísseis terra-ar. Além disso, muitas de suas armas nucleares de curto alcance não têm sentido depois da Guerra Fria.
Quando este país reconhecer que seu arsenal atômico tático é uma grande responsabilidade em um mundo onde a maior ameaça é o terrorismo nuclear, poderá adotar iniciativas unilaterais e propor limites mútuos ao controle de armas. Na semana passada, o presidente do Casaquistão, Nursultan Nazarbayev, exortou todos os países a adotarem uma declaração integral para um mundo livre de armas nucleares.
“Deve refletir a determinação de todas as nações em avançar passo a passo para os ideais de um mundo livre de armas nucleares”, disse em uma mensagem dirigida aos participantes de uma conferência por ocasião do Dia Internacional contra os Testes Nucleares, celebrado em 29 de agosto. Há razões para crer que uma redução significativa, para não dizer a abolição, dos arsenais nucleares de Rússia e Estados Unidos não será um exemplo positivo para outros países, afirmou o analista político da agência russa de informação RIA Novosti, Pavel Andreyev.
A ideia de um mundo sem armas atômicas, dada a atual instabilidade em matéria de segurança, não tem futuro. A falta de confiança das autoridades russas em relação aos Estados Unidos prejudica a ideia de que Washington esteja pronto para abandonar as armas nucleares. Além disso, o desmantelamento das ogivas nucleares dos dois países pode ser um impulso para que os mais ameaçadores elementos da comunidade internacional desenvolvam suas próprias capacidades atômicas, acrescentou Pavel.
A Rússia tem outro motivo para não querer reduzir seu arsenal atômico: a demorada reforma militar, que supõe reduzir as forças convencionais e aumentar o papel da tecnologia nuclear como elemento de dissuasão.
Extraído de cartacapital.com.br
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