Para quem achava que a prática era comum apenas em fazendas no interior do país, agora pode ser dar conta de que ela é praticada também nas grandes cidades.
Denúncias surgem sobre trabalhadores em condições de trabalho análogas a de escravidão por diversas construções em São Paulo.
Em um país de herança escravocrata, não é de se espantar, infelizmente, que esse tipo de prática ainda ocorra. A mesma não se estende apenas aos trabalhadores locais; migrantes também são vítimas dessas condições (antes mesmo dessa denúncia de trabalhadores em construções civis, já é conhecido que em São Paulo bolivianos, em sua maioria, trabalham em condições de escravidão; principalmente para indústrias ligadas ao setor têxtil).
Mas, isso não é motivo para justificar tais atos que devem ser combatidos e reprimidos com total severidade. A PEC 438 se mostra como uma ferramenta de combate ao trabalho escravo e esperamos que seja eficiente em sua execução. Ainda mais quando estão querendo praticamente legalizar o trabalho escravo.
“Na construção civil, certamente, a cada ano está ficando pior. Não existiam situações no passado, era quase inimaginável. Agora, está se tornando permanente, comum. Isso nos preocupa demais”, diz o procurador da Coordenadoria Nacional de Erradicação de Trabalho Escravo do MPT, Rafael de Araújo Gomes.
Está prevista para o dia 22 de maio, a votação na Câmara dos Deputados da Proposta de Emenda Constitucional (PEC 438) do Trabalho Escravo. A PEC é considerada um dos maiores instrumentos de enfrentamento do trabalho escravo porque estabelece que “serão expropriados, sem qualquer indenização, os imóveis urbanos, assim como todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência da exploração do trabalho escravo.”
Interior de São Paulo
Em abril, o Ministério do Trabalho e Emprego e o MPT em Bauru (SP)
constataram que a construtora Croma mantinha 50 trabalhadores em
situação análoga à escravidão em obras de um conjunto habitacional na
cidade de Bofete (SP). A empresa foi contratada pela Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU).
Procurada, a construtora Croma disse que concordou em assinar um
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MPT para quitar os débitos
trabalhistas com os 50 funcionários. A empresa se comprometeu também a
pagar todos os salários atrasados aos empregados, assim como
indenizações individuais no valor de R$ 500 para cada migrante
encontrado em situação irregular.
Em maio, fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) flagraram
90 trabalhadores em situação análoga à de escravidão em uma obra do
Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, no município de
Fernandópolis (SP). A empresa Geccom, responsável pelo empreendimento,
foi autuada por diversas irregularidades, como jornada de trabalho até
15 horas, emprego de trabalhadores sem registro em carteira, alojamentos
em situação precária e falta de equipamentos de segurança.
A empresa providenciou a rescisão de contrato dos empregados, pagou
as verbas indenizatórias e os salários devidos. O advogado da Geccom,
Shindy Teraoka, disse que a empresa irá comprovar ao MTE que os
trabalhadores não estavam em condição análoga à escravidão e que já
acertou todos os débitos com os empregados.
De acordo com o procurador Gomes, com a “explosão” do crédito
imobiliário, especialmente devido a programas do governo federal como o
Minha Casa, Minha Vida, algumas construtoras buscam firmar o maior
número de contratos possível, sem ter condições de realizar as obras.
“[As empresas não sabem] como vão contratar, qualificar e dar andamento a
essas obras. Se vão ter funcionários suficientes ou não. Aparentemente
está ocorrendo isso. Uma ganância de fechar a maior parte de contratos,
assegurar os recursos e só depois se preocupam se vão conseguir entregar
o imóvel. E não conseguem”, destaca.
De acordo com o vice-presidente de Relações Capital-Trabalho do
Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo
(Sinduscon-SP), Haruo Ishikawa, há falta de mão de obra no setor, o que
leva empreiteiras a subcontratar empresas não qualificadas para fornecer
os trabalhadores.
“São os subempreiteiros contratados que estão praticando isso.
Estamos sugerindo para as empresas que, ao contratar o subempreiteiro,
verifiquem realmente as condições de trabalho apresentadas”, destaca. “A
responsabilidade também é da empresa contratante, que é a empresa
construtora principal”, acrescenta.
De acordo com o vice-presidente, o Sinduscon está fazendo uma
campanha com seus associados para coibir a situação análoga à
escravidão, além de incluir a questão no acordo coletivo do setor. “Da
nossa convenção coletiva de 2009 para frente, nós, preocupados com essas
questões da contratação de mão de obra, colocamos na Cláusula 10 a
maneira como as construtoras deverão contratar as subempreiteiras:
verificando todos os itens regulares regidos pela CLT”, destaca.
Segundo o MPT, no ano passado, em todo o país, foram resgatados 2.428
trabalhadores em situação análoga à escravidão. Até março deste ano, os
fiscais resgataram 339 trabalhadores. O coordenador da Campanha
Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, vinculado ao Ministério Público
do Trabalho, frei Xavier Plassat, estima que, no país, haja de 20 mil a
50 mil pessoas exercendo atividades em condições análogas à escravidão.
*Matéria originalmente publicada em Agência Brasil
Muito legal essa forma que vc tem em falar de atualidades e assim ensinar geografia. Afinal fora do ambiente acadêmico nunca pensamos nisso!!!!
ResponderExcluirSucesso,
CRis