É um absurdo que o novo código florestal tenha sido aprovado - não tão absurdo se olharmos a bancada ruralista que temos no Congresso - com artigos que legitimam uma agressão ainda maior a natureza, bem como anistiam aqueles que por anos depredaram o meio ambiente.
Diante desse absurdo, parte da sociedade e parte da imprensa andam se mobilizando em torno da campanha VETA DILMA, para que nossa presidenta vete total ou parcialmente os termos dispostos no novo código florestal (se é que algo que praticamente condena ao fim nossas florestas pode ser chamado de código florestal).
Estamos de olho e temos sim que pressionar nossa presidente a vetar este abuso contra nossas florestas. Ainda mais quando se prega a anistia a quem tanto as destruiu.
Há uma semana o Congresso Nacional “Ruralista” infringiu uma
acachapante derrota ao Governo Dilma, aos ambientalistas e, o que é
ainda pior, ao futuro equilibrado e sustentável do país.
O exaustivo processo de discussão em torno do novo texto para o
Código Florestal e que havia sido acordado por meio de delicadas
negociações no Senado Federal foi, simplesmente, “rasgado” pelas forças
mais atrasadas que dominam a Câmara dos Deputados e a votação determinou
com o placar de 274 votos a favor 184 contrários e duas abstenções.
Entre as diversas alterações em relação ao proposto pelo Senado, os
deputados retiraram a possibilidade de o Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de vetar a emissão
de documento de controle de origem da madeira explorada em estados que
não integram o sistema nacional de dados sobre a extração; a interrupção
temporária das atividades agrícola ou pecuária em no máximo cinco anos
até 25% da área produtiva e a exigência de planos diretores dos
municípios, ou leis de uso do solo, observarem os limites gerais de
áreas de preservação permanente (APPs) em torno de rios, lagos e outras
formações para proteção em áreas urbanas e regiões metropolitanas.
Uma vitória de Pirro
Mas determinadas vitórias podem rapidamente se transformar em derrota
quando os seus resultados forem vistos como algo pouco enobrecedor. Foi
o que aconteceu na noite da quarta-feira da semana passada. Ao
contemplar apenas o interesse de alguns, os ruralistas afrontaram não só
o governo, mas boa parte da sociedade brasileira que já havia
demonstrado através de pesquisas esperar do Congresso uma visão
equilibrada e que de lá saísse um Código Florestal que contemplasse a
produção agrícola com a preservação de nossos recursos naturais.
Felizmente, manifestações de repulsa a toda essa truculência tem
surgido de muitos setores e não só daqueles comprometidos diretamente
com a defesa do meio ambiente. Entre elas, a da Associação Nacional dos
Procuradores da República (ANPR) que divulgou nota oficial afirmando sua
profunda preocupação com o projeto de lei recém aprovado e de senadores
de várias correntes, participantes da negociação anterior, perplexos
com o desfecho desse processo.
O governo também já se pronunciou e espera-se nos próximos dias o
veto total ou parcial ao texto do novo Código. A ministra da Secretaria
de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, sinalizou que a presidenta
Dilma Rousseff deverá vetar “aquilo que representar a anistia (aos
desmatadores), não terá respaldo do governo”.
Insegurança Jurídica
Toda a celeuma em torno do que vai valer ou não para a produção
agrícola brasileira traz prejuízo e insegurança generalizada no campo.
Muita gente encontra-se num limbo jurídico e deixa de investir ou
regularizar suas propriedades por falta de clareza nas regras vigentes.
Uma lei justa e equilibrada teria o mérito de esclarecer o proprietário
rural sobre o que efetivamente ele deve ou não fazer para estar regular e
poder assim se beneficiar da lei para produzir com todo apoio e
tranquilidade.
Esse é caso do projeto “Agricultura Legal – Produzindo
Sustentabilidade em Piedade”, desenvolvido em parceria entre a ONG
Iniciativa Verde, o Funbio (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade) e a
Prefeitura de Piedade, cidade localizada na região sudoeste do Estado de
São Paulo detentora de 39% de seu território constituído por
remanescentes da Mata Atlântica e 53% de sua população vivendo na zona
rural.
O programa tem o objetivo de colaborar com os proprietários rurais
para que eles consigam a regularização ambiental de suas terras e desse
modo estejam aptos, entre outros, a receber créditos agrícolas para os
processos de licenciamento ambiental; a facilitação na outorga do uso da
água; além de obterem as condições para participar dos programas de PSA
– Pagamentos por Serviços Ambientais – e de Servidão Florestal, o que
poderá representar uma nova fonte de renda para esses agricultores.
Os custos do projeto estão totalmente cobertos pelo Funbio e
parceiros. Isso quer dizer que os agricultores não precisam pagar nada
para participar. Mesmo assim, a adesão tem sido baixa, em parte graças
às indefinições relativas ao novo Código Florestal.
Este é apenas um caso, entre milhares, que aguardam a prevalência do
bom senso para alcançarmos a paz no campo. O primeiro passo é garantir
que a campanha “VETA DILMA” atinja seu objetivo de excluir os artigos
polêmicos e assim retomar as bases para um diálogo construtivo.
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