Desde o final dos anos 2000, pelo menos de forma mais notória, a China vem galgando passos para se tornar a principal economia mundial, passando assim os EUA.
Vislumbrando esta possibilidade vários países firmaram acordos com a China, visando se desvencilhar dos EUA como principal parceiro em trocas comerciais e acordos econômicos, até pelas cambaleadas que o mesmo vem apresentando em sua economia. Contudo, se olharmos atentamente, podemos ver que esse acordo é uma via de mão dupla.
Usaremos o gancho da reportagem abaixo para falar da América Latina e, em especial, do nosso país.
Ao analisarmos esses acordos vemos que os países latino americanos caminham para uma futura dependência da China. Com o Brasil não é diferente. Há alguns anos a China já ultrapassou os EUA e se tornou o nosso maior parceiro comercial e isto pode ser usado como um indicativo desta futura dependência.
Nosso país pode ao longo dos anos se tornar dependente da China, senão diversificar suas exportações. Apesar de exportarmos em larga escala para a China e isso representar uma boa injeção de capital em nossa economia, devemos prestar atenção que neste cenário, demais coisas ocorrem além do fato citado.
Da mesma forma que produtos nossos são levados para China, produtos chineses chegam ao nosso país. Contudo, devido ao baixo custo de produção muito em virtude do custo de mão-de-obra ser baixo, muitos produtos chineses têm levado certas vantagens comerciais em cima dos nossos produtos dentro do nosso mercado interno. O resultado disso é que muitas indústrias tem ido a falência e fechado suas portas por conta disso, mas ainda tem coisa pior.
Muito antes de quebrarem, algumas indústrias estão fechando suas portas aqui no Brasil e abrindo filiais na China, pois, acreditem, mesmo com todo o custo de transporte de lá pra cá e os impostos cobrados tanto lá, quanto aqui, o custo de produção do produto é mais barato lá do que aqui.
Portanto, mesmo que, por agora, essa parceria econômica seja vantajosa para o nosso país, a longo prazo, senão diversificarmos nossas parcerias, correremos sério risco de uma dependência da China onde ficaremos preso a saúde econômica da mesma que apesar de hoje estar bem, não se sabe como estará amanhã. Os EUA que os digam....
O mesmo pode se dizer dos demais países da América Latina, que andam pegando empréstimos de altos valores da China. Não que seja o caso de todos os países da região, mas está ficando cada vez mais flagrante este fenômeno que também pode levar a dependência, e a diversificação pode ser uma boa saída para isso. Caso contrário será apenas uma troca de dependente, onde os EUA passarão o bastão lentamente para a China.
O forte crescimento do comércio entre China e América Latina tem sido benéfico por aumentar a demanda para as exportações de commodities da região, enquanto reduz a exposição de muitos países do continente a crescimentos cíclicos na economia americana. Todavia, inquietações a respeito dos riscos do crescente comércio da China com a região estão se tornando cada vez mais sonoras: o país asiático poderia comprar as commodities da América Latina sem garantir benefícios a longo prazo para a região; a competição dos importados chineses prejudica os produtores domésticos; projetos chineses vão trazer trabalhadores chineses ao invés de contratar funcionários locais; e o cultivo de laços com o país asiático pode dissuadir outros potenciais investidores. Há ainda riscos de dependência financeira significantes, enquanto a combinação de empréstimos leves e projetos de investimentos podem deixar alguns países perigosamente endividados ou dependentes da China.
Em julho, a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL) apontou que até 2015 a China poderá se tornar o segundo maior parceiro comercial da região, atrás apenas dos EUA (a nação asiática já é a principal parceira comercial de alguns países, incluindo o Brasil). Em 2010, o comércio entre China e América Latina totalizou 178,6 bilhões de dólares (cerca de 284 bilhões de reais), um impressionante incremento de 51% em relação a 2009. Enquanto esse grande salto, em parte, reflete a recuperação de um período mais lento de negócios durante a depressão econômica internacional de 2008-09, também destaca o fato de que intensificar o comércio com a China é agora uma consideração importante aos países da América Latina, particularmente aqueles ávidos por diversificar laços de comércio para além dos EUA.
Por um barril
Um exemplo recente da crescente dependência do finaciamento chinês é o Equador. O país assinou cinco grandes acordos de empréstimos com a China, com a vasta maioria dos fundos sendo direcionada a projetos de infraestrutura. O Equador não tem condições de financiar esses projetos sozinho e está amplamente excluído do financiamento global devido a um calote prévio. A recessão global e o próprio clima regulatório incerto do país também significam que há menos investimentos estrangeiros diretos vindos de outras nações. Em particular, o fato de a política equatoriana estender o controle estatal para setores econômicos estratégicos, como a indústria do petróleo, tem dissuadido investidores.
Em junho, o Equador anunciou um acordo de uma linha de crédito de 2 bilhões de dólares com a China, que será usada para construir novas plantas hidroelétricas e projetos de irrigação. Em seguida, em julho, ambos os países fecharam um acordo petrolífero pelo qual o Equador vai fornecer 130 milhões de barris de óleo bruto e mais 18 milhões em combustível derivado de petróleo entre 2011 e 2018. Os dois acordos realçam a crescente dependência do Equador em financiamentos chineses, o que pode favorecer a China em futuros acordos a envolver petróleo. A China se tornou o primeiro porto do Equador para solicitação de empréstimos, o que substancialmente aumentará o endividamento do país latino-americano com os asiáticos. Isso coloca em risco a dependência econômica para com os EUA, que o governo de esquerda do Equador tenta reduzir, e que será substituída pela elevada confiança no investimento chinês e comércio.
Bom Equilíbrio
O risco de se tornar excessivamente endividado com a China é basicamente limitado a países como Equador e Venezuela, ambos membros da Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA, um grupo de esquerda regional anti-EUA liderado pela Venezuela). A decisão ideológica de diversificar para além do comércio e investimento dos EUA os tem levado a confiar de modo crescente na China. Na Venezuela, isso diz respeito majoritariamente ao setor de energia pela exploração conjunta e ao setor de projetos de desenvolvimento. Entretanto, Caracas também já selou diversos acordos de empréstimos com a China. A preocupação crescente do investidor em relação ao ambiente regulatório e de investimentos venezuelano pode elevar a participação da China no setor de energia, bem como o seu papel como provedor de financiamentos.
Isso está em contraste com o caso do Brasil, onde crescentes exportações para a China têm sido balanceadas por um crescimento robusto do mercado doméstico e investimento direto de outros países. O Brasil também não é dependente de empréstimos da China. Neste caso, os riscos a longo prazo giram em torno da elevada dependência da demanda de um único mercado, mesmo de um grande mercado em expansão como o da China, particularmente visto que as exportações brasileiras para o país asiático são basicamente de commodities. Há também preocupações no Brasil com a rápida expansão do déficit comercial com a China em bens manufaturados. Não obstante, o papel da China no Brasil e na região provavelmente continuará a aumentar da mesma forma que seu peso na economia e sua insaciável demanda por commodities continua a subir.
Enquanto isso, países como o Equador e a Venezuela em particular – e em menor extensão a Bolívia, Nicarágua e Cuba – parecem prontos para aprofundar seus relacionamentos estratégicos com a China. A pragmática superpotência asiática quer aumentar sua potencial influência em áreas do mundo ricas em recursos naturais e abrir oportunidades para suas empresas no exterior, reforçando seu espaço para manobras em negociações contratuais. Como tal, assumindo que a economia chinesa continue a florescer, empréstimos provavelmente devem continuar a fluir.
Extraído de cartacapital.com.br
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