terça-feira, 11 de junho de 2019

O "peso-real" longe da vida real

Depois de declarações do atual presidente da República e de seu ministro da economia sobre a criação de uma moeda única com os argentinos, milhares de especulações surgiram na internet, com pessoas até mesmo criando cédulas para ilustrar a nova moeda que surgiria. Mas, isso é possível?

Sim, é possível, mas tão improvável quanto uma relação pacífica entre China e EUA. 

Em primeiro ponto, a união monetária entre dois ou mais países, requer um esforço hercúleo, que, mesmo levado a sério, seria algo que só seria visto em duas ou três gerações. 

Isso porque um dos primeiros passos para se adotar uma moeda diz respeito a inflação. Para que isso ocorra de fato, os países que pretendem adotar uma moeda única devem ter inflações praticamente equivalentes para dar início a esta política. Algo que, neste caso, beira o impossível, haja visto que nossa inflação anda na casa dos 3% a 4%, enquanto a dos nossos vizinhos já bateu 47% no ano passado. 

Outro motivo que tornaria esse projeto quase impraticável é a questão do tempo para que isso ocorra. Podemos tomar como exemplo a União Europeia. O ideário de formação do "euro" está no papel desde o tratado de Roma, em 1957. Porém, a moeda só foi posta em circulação em 2002. Claro que o número de membros é muito maior do que a dupla sobre a qual nos debruçamos, mas deste ponto de partida já podemos ter uma ideia do quão difícil seria concretizar esse projeto. 

Há que se pensar ainda na criação de um Banco Central que coordene a política monetária nos dois países, como faz o BCE na União Europeia, onde cada país possui seu representante e, juntos, buscam conduzir a política monetária do bloco. 

A lista continua quando nos voltamos para a política fiscal dos países. Embora, na teoria, ela seja autônoma, haveria uma pressão para que ambas convergissem, o que, dependendo do tipo de governo que esteja no poder em cada país, pode ser um ponto de discórdia.

Mais um ponto seria a questão do valor do peso-real que poderia se tornar mais fraco que o próprio real, visto que a desvalorização do peso frente ao dólar é ainda maior do que a nossa. 

Engrossa a lista ainda o fato de que a inflação argentina, que vive dando seus galopes, pode chegar a nós que, bem ou mal, temos a nossa economia estabilizada desde a criação do plano real em 94, ao contrário dos argentinos que sofrem com a inflação, basicamente, desde o início dos anos 90. 

Ainda há também que se pensar nos benefícios que teríamos com essa aliança que na verdade não são muitos, já que o mercado consumidor deles é restrito devido a sua pequena população, em comparação a nossa, além da inflação que volta e meia permeia o cenário econômico argentino. 

De concreto e, mesmo assim muito pouco, teríamos as vantagens de não ter mais que arcar com custos como o IOF e demais impostos que advém de importações realizadas por nós e que perderiam o sentido num bloco com moeda única, além de facilitar as negociações entre Brasil e Argentina. 

Como se vê, não são poucos os pontos a serem observados numa possível criação da moeda única entre nós e os "hermanos". Tais pontos se mostram como obstáculos extremamente difíceis e que só expõem a inoperabilidade de uma ação como essa, seja em curto ou médio prazo, e que, mesmo assim, pode (e acreditamos que será assim) nem passar do papel. 

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