segunda-feira, 30 de abril de 2012

O jogo geopolítico entre China e EUA

Desde que os Estados Unidos vêm dando sinais de que perderão seu posto como 1ª potência econômica mundial - o que muitos consideram natural, já que para os mesmos o capitalismo é cíclico e se renova bem como aquele que o lidera - Tio San vem travando um jogo geopolítico com aquele que já vem sendo apontado como seu sucessor há bastante tempo, a China. 

Tentando atrasar a passagem deste bastão, os Estados Unidos tomam atitudes que a princípio parecem contraditórias, mas, se olharmos de perto, elas fazem sentido (para a estratégia geopolítica norte-americana, é claro). 

Recentemente, a Coréia do Norte realizou um lançamento de míssil que tão logo fora anunciado pelos norte-coreanos, os Estados Unidos já chiaram e pressionaram a ONU para fazer o mesmo. Também recentemente a Índia realizou um lançamento de um míssil intercontinental com capacidade nuclear e os EUA nada falaram. Contraditório não? Pois é, não para o Tio San... 

Pelo seguinte, se pararmos para analisar essa situação friamente iremos observar que a Coréia do Norte é um dos principais aliados da China e ao "marcar em cima" os norte-coreanos os EUA acabam freando indiretamente a expansão chinesa (na questão da influência). Agora se nos voltarmos para a questão da Índia, veremos que ao se calar sobre o lançamento do míssil, os EUA podem conseguir apoio, um aliado e assim frear diretamente a expansão chinesa, já que um aliado norte-americano a mais significa um aliado chinês a menos. 

Se pararmos para olhar essa questão mais amplamente veremos que os EUA cercam os chineses de leste a oeste, onde a oeste temos a Europa, Afeganistão e Índia e a Leste temos o Japão, Coréia do Sul, Filipinas e Austrália como aliados dos norte-americanos. Deste modo os americanos buscam conter a influência chinesa, quase como uma nova guerra fria, e assim tentar atrasar esse processo de passagem de bastão de país líder. Afinal de contas quem fica no topo quer se manter no topo de qualquer jeito.        

Em questão de influência política, pode ser que demore sim um tempo até a China conseguir destronar os EUA, isso se os chineses estiverem realmente dispostos a isso. Independentemente disso, fato é que ser a próxima potência a liderar o ranking da economia mundial ajuda e muito. Os EUA sabem disso e por isso mesmo já travam com os chineses um  jogo geopolítico em moldes parecidos, talvez mais velados, que travou com a URSS no século passado para continuarem no topo. 

A Índia realizou com sucesso, na quinta-feira 19, o lançamento de um novo míssil de longo alcance intercontinental com capacidade nuclear. O teste se deu poucos dias depois da crise diplomática provocada por uma operação similar da Coreia do Norte, mas – ao contrário do ocorrido com relação a Pyongyang – o lançamento indiano foi acompanhado de um silêncio incomum por parte do governo dos Estados Unidos. Não é difícil explicar a contradição. Ela é parte da política externa de Washington.
O silêncio norte-americano indica um apoio velado à militarização indiana. “A Índia é um ator com tecnologia nuclear, que possui rivalidades históricas com a China, e que os EUA querem trazer para o seu lado” afirma Alexandre Ratsuo Uehara, analista de integração econômica asiática do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Uehara, a expansão geopolítica e o crescimento do orçamento militar chinês preocupam os EUA. E a Índia desempenha papel estratégico para conter Pequim. ”Os EUA apoiam a candidatura da Índia para o Conselho de Segurança da ONU, mesmo ela sendo um país com armas atômicas, e fecha os olhos para testes como esse com o intuito de limitar a expansão geopolítica chinesa”, diz.
A região da Ásia-Pacífico se tornou elemento central para o novo jogo geopolítico traçado pelo Pentágono. Segundo uma estimativa do instituto americano de pesquisa IHS, realizada em fevereiro, o orçamento de Defesa chinês duplicará até 2015 e superará todos os gastos militares somados das grandes potências da região Ásia-Pacífico. Com isso, os gastos militares chineses em 2015 alcançarão 238,2 bilhões de dólares, cerca de 32% do investimento norte-americano na área. Contudo, projeções da revista The Economist indicam que, com a afirmação da China como maior potência econômica já em 2016, os EUA perderão o posto de maiores investidores do setor de Defesa para o gigante asiático até 2025.
Guerra-Fria moderna
Com o objetivo de impedir a hegemonia militar chinesa na região do Pacífico, Índico e da Ásia, o governo de Barack Obama anunciou, no início do ano, novas bases militares na Austrália e nas Filipinas. Foi um claro aviso a Pequim. “Esse movimento norte-americano é semelhante à política externa adotada na Guerra Fria. Com o intuito de criar um cordão de isolamento, os Estados Unidos patrocinam ou fomentam parcerias comerciais e diplomáticas com países vizinhos da China para limitar sua atuação”, diz Uehara.

Atualmente, os principais aliados dos EUA na região são Japão, Coreia do Sul, Filipinas e Austrália – do lado oriental do território chinês. Já do lado oeste, o cordão de isolamento conta com o apoio da Europa, Afeganistão e Índia. A tensão entre EUA e China também afeta o Oriente Médio. As divergências entre os dois países a respeito do que fazer com a respeito do levante na Síria e do programa nuclear do Irã são influenciadas por uma disputa aos recursos naturais da região.
Corrida armamentista
Classificado como ”um avanço maiúsculo no programa de mísseis da Índia” pelo ministro da Defesa, A.K. Anthony, o míssil Agni V – de 50 toneladas e 17 metros de altura – faz parte de uma corrida armamentista travada no Extremo Oriente, segundo Evaldo Alves, professor de negócios internacionais e comércio exterior da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Com o Agni V, a Índia se insere no seleto grupo de países com mísseis balísticos intercontinentais, formado por China, Rússia, França, Estados Unidos e Reino Unido. “Esse é apenas mais um passo indiano e que faz parte de um conjunto de medidas iniciado há anos para desenvolver uma defesa forte e moderna”, afirma Alves. Hoje, a Índia possui o terceiro maior exército do mundo em efetivo – atrás apenas da China e dos EUA – e está entre os dez países que mais investem em Defesa.
Para Alves, a Índia nunca deixou de se desenvolver belicamente. “Utilizando o argumento de se proteger do vizinho Paquistão, a Índia desenvolveu sua bomba atômica e permanece não signatária do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).” Esse argumento foi repetido agora. O governo da Índia diz que o novo armamento serve para garantir a paz. O porta-voz da agência responsável pelo desenvolvimento de tecnologias militares (DRDO), Ravi Gupta, diz que o míssil tem “um efeito dissuasivo para evitar as guerras e não foi desenvolvido contra nenhum país em particular”.
Evaldo Alves enxerga o investimento bélico indiano como algo normal. “A expansão econômica é inevitavelmente acompanhada por uma expansão militar”, afirma. Até mesmo o Brasil, diz ele, conhecido por pregar um discurso diplomático pacifista, desenvolve de forma lenta seu programa atômico. “O jeitinho brasileiro é lento, mas não há como esconder que possuímos um programa atômico. O desenvolvimento de um submarino atômico com tecnologia nacional e os acordos em torno da base de lançamento de Alcântara revelam isso”, diz. Ao contrário da Índia, entretanto, o Brasil possui uma série de dispositivos legais que impedem a transformação de um programa nuclear civil, como o atual, em uma empreitada com fins militares. Além de ser signatário do TNP, o Brasil é impedido por sua própria Constituição de realizar atividades nucleares que não tenham ”fins pacíficos”.
*Com informações da Agência France Press



sexta-feira, 27 de abril de 2012

Número de imigrantes no Brasil aumenta consideravelmente

É um dado que não é de causar espanto, pelo menos eu acho que não... 

O número de imigrantes em nosso país sofreu um aumento 86,7% em relação ao censo de 2000. Desse número, 65,1% são considerados migrantes de retorno (migrantes que nasceram no Brasil, foram morar fora e agora retornam ao país) - O Profissão Repórter fez uma reportagem sobre esse tipo de migração que você pode conferir no vídeo abaixo:





                                                 
Como disse anteriormente, não me causa espanto esse dado por dois motivos: O primeiro deles é que desde o início deste milênio ganhamos notoriedade no cenário mundial como potência econômica, o que até nos rendeu, juntamente com outros países, uma sigla bem famosa atualmente: BRIC. O outro motivo foi a crise econômica de 2008 que, nas palavras do nosso ex-presidente, "lá (EUA e Europa) foi Tsunami, mas aqui vai ser marolinha". 

Relativamente até que foi, já que sofremos sim com a crise, mas não tanto quanto EUA  e a Europa, o que foi fator atrativo de contingente populacional para o nosso país, pois já que as coisas não andam tão bem lá, uma saída para contornar isso seria tentar a vida aqui ou, no caso da migração de retorno, voltar ao país já que com a família por perto se tem uma base de apoio. 

Fato é que viramos um certo atrativo de contingente populacional. Só espero que aqui não aconteça o que vem ocorrendo na Europa e aflorem grupos de extrema direita pregando a xenofobia... Seria tão lamentável quanto ridículo. 

O número de imigrantes cresceu 86,7% de um censo para o outro. O Censo 2010 registrou 286.468 imigrantes internacionais no Brasil. O critério considera indivíduos que residiam no Brasil na data da pesquisa, mas que residiam em um país estrangeiro cinco anos antes. No Censo Demográfico 2000, foi registrado um total de 143.644 imigrantes.

Os principais destinos desses imigrantes foram São Paulo, Paraná e Minas Gerais que, juntos, receberam mais da metade dos imigrantes internacionais do período, seguidas de Rio de Janeiro e Goiás. No Censo 2000, os principais Estados de destino dos imigrantes eram São Paulo e Paraná, seguidos de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. 


Do total de imigrantes internacionais registrados no Censo Demográfico 2010, 174.597 nasceram no Brasil. Isto significa que 65,1% dos imigrantes do período são imigrantes internacionais de retorno. No Censo 2000, foram registrados 87.886 imigrantes internacionais de retorno, representando 61,2% dos imigrantes do período. 

Com isto, vê-se que, o número de imigrantes internacionais de retorno, captados pelo Censo Demográfico 2010, dobrou em relação àquele registrado no Censo Demográfico 2000. 

Os principais países de origem dos imigrantes foram Estados Unidos (51.933), Japão (41.417), Paraguai (24.666), Portugal (21.376) e Bolívia (15.753).



Índice de mortalidade de infantil melhora consideravelmente na última década



Segundo dados divulgados no censo de 2010 pelo IBGE, o índice de mortalidade infantil sofreu uma regressão recorde na última década. 

Fatores como redução do número de filhos por mulher, acesso a melhores condições sanitárias, melhores salários e aumento da escolaridade das mães são fatores que ajudam nessa marca. 

Apesar de alcançarmos o índice de 15,6 mortes por 1000 habitantes, ainda estamos longe dos números de países centrais, que giram em torno de 5 mortes por 1000 habitantes. 
Em questões regionais, o Nordeste é o que apresenta o maior número (18,5 por 1000) e o Sul com a menor taxa (12,6 por mil)... Talvez, isso se explique pelo número de filhos por famílias se compararmos as duas regiões; no Nordeste o número de filhos por família gira em torno de 3 a 4 em média, o que já é uma boa redução se comparada a épocas anteriores quando ultrapassava os 7 filhos por família. Já no Sul a taxa é considerada baixa, em comparação ao Nordeste, já que são no máximo 2 por família, isso quando o casal decide ter filhos, em média. Como o número de crianças nascidas então é maior no Nordeste, a propensão a taxa de mortalidade ser maior também recai sobre a região.

Contudo, não se deve perder de vista que melhoramos significativamente essa taxa ao longo dos anos, pois um país que já registrou 131 mortes por 1000 habitantes em 1960 agora registar 15,6 é um avanço considerável e que contribui e muito para retardar o processo de envelhecimento da população que estamos começando a viver... 


A taxa de mortalidade infantil teve redução recorde na última década e chegou a 15,6 mortes de bebês de até um ano de idade por mil nascidos vivos, segundo dados do Censo 2010 divulgados pelo IBGE. O índice é 47,5% menor que os 29,7 por mil registrados em 2000. Antes do período 2000-2010, a maior queda tinha acontecido entre 1970 e 1980, quando a taxa de mortalidade infantil caiu 39,3%, passando de 113 óbitos por mil nascidos vivos para 69,1 por mil. Desde 1960 (131 mortes por mil nascidos vivos) a 2010, a redução foi de 88%.

Estimativas da Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa), que reúne universidades e outras instituições de pesquisa, além de órgãos do governo como Ministério da Saúde e o próprio IBGE, já indicavam havia alguns anos queda na mortalidade infantil bem mais acentuada do que a registrada anualmente pelas Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio (Pnads). Com a divulgação do Censo 2010, os dados oficiais e as estimativas se aproximam.


Apesar dos avanços, o Brasil ainda está longe dos padrões dos países mais desenvolvidos, de cinco mortes por mil nascidos vivos ou menos. As mais baixas taxas de mortalidade, segundo a ONU, são da Islândia, Cingapura e Japão, em torno de 3 mortes por mil nascidos vivos. A menor taxa das Américas é de Cuba (5,1 mortes por mil nascidos vivos). Itália, Portugal e Nova Zelândia têm índice de 5 mortes por mil. O Brasil continua atrás da Argentina (13,4 por mil), Uruguai (13,1por mil ) e Chile (7,2 por mil). A taxa brasileira se equipara às da Moldávia (15,8 por mil ) e da Síria (16 por mil). Os piores índices são do Afeganistão (157 por mil) e Serra Leoa (160 por mil).

No período de 2000 a 2010, o Nordeste teve a maior redução na mortalidade infantil, entre todas as regiões, de 58,6%. Os índices nordestinos caíram de 44,7 mortes por mil nascidos vivos para 18,5 por mil. Continua a ser a região com a pior taxa, mas as diferenças entre as regiões caíram significativamente. A taxa de mortalidade infantil no Norte, segundo o Censo 2010, é de 18,1 mortes por mil nascidos vivos. O Centro-Oeste registrou 14,2 por mil; o Sudeste chegou a 13,1 por mil e o Sul continuou com a menor taxa, de 12,6 por mil.


A queda significativa da mortalidade infantil é resultado de uma combinação de fatores, segundo os técnicos do IBGE, como a redução da taxa de fecundidade (número de filhos por mulher), a ampliação de políticas públicas de prevenção em saúde, as melhorias no saneamento básico, o aumento da renda, especialmente da população mais pobre, e maior escolaridade das mães.

Por Estado, a taxa de fecundidade só está acima da taxa de reposição nos Estados do Norte, mais Maranhão, Alagoas, Mato Grosso. O Estado com menor taxa de fecundidade é São Paulo, com 1,67.

O IBGE também revelou que 966 mil crianças e adolescentes de 6 a 14 anos não frequentavam a escola em 2010. É o equivalente a 3,3% do total da população nessa faixa etária.


A comparação com 2000, porém, só é possível para a faixa 7 a 14 anos, porque a lei que fixou os 6 anos como idade para ingresso no Ensino Fundamental é de 2006. Na faixa 7 a 14, o índice de crianças fora da escola era 3,1% em 2010 e representa um avanço em comparação com 2000, quando a proporção era de 5,5%.

"Seguindo o curso normal da educação, as crianças deveriam ingressar no ensino fundamental aos seis anos de idade e estar cursando a última série aos 14 anos", lembram os técnicos do IBGE na publicação Censo Demográfico 2010 - Dados Gerais da Amostra.

Outros dois dados de educação são preocupantes. Na faixa 15 a 17 anos, 16,7% não iam à escola em 2010. Eram 22,6% em 2000. Na população de 25 anos ou mais, o porcentual de pessoas com pelo menos o ensino médio completo era em 2010 de apenas 35,8%. Em 2000, porém, era muito menos: 23,1%.




domingo, 22 de abril de 2012

Está para ser desativado o lixão de Gramacho, o maior da América Latina

Danificando o meio-ambiente desde sua implementação: já que fizeram em um terreno de manguezal, cercado por rios e sem nenhum tipo de cuidado o lixão de Gramacho está para ser desativado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, como uma resposta ao RIO + 20 - Uma reunião que ocorrerá em prol do meio ambiente na cidade. 

Com a proximidade do encerramento das atividades no lixão, diversas questões se levantam...

  • Para onde irá agora o lixo que antes ia para Gramacho ?
  • O que será feito com a área e o seu entorno em termos de recuperação dos solos, das águas e pelas espécies animais e vegetais que lá vivem ?
  • Para onde serão realocadas as pessoas que vivem da coleta seletiva realizada no local ?
  • O que será feito dessa área depois de recuperada ? (Por sua localização geográfica o ideal seria transformar em APA, mas como estamos falando de Brasil pode ser que vire um condomínio de luxo)

Postas as questões, vemos quanto trabalho a Prefeitura tem a realizar em torno dessa questão. Só espero que isso não seja mera resposta de fachada a RIO + 20 ou jogada política para reeleição já que o Prefeito do Rio é candidato a reeleição que se realiza neste ano. 


Criado à beira da Baía de Guanabara, sobre área de manguezal - o berçário da vida marinha - e cercado pelos Rios Iguaçu e Sarapuí, o Aterro de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, é a síntese de tudo o que não deve ser feito a respeito de descarte de lixo. Nos últimos 34 anos, todo o resíduo produzido pelo Rio de Janeiro e outras quatro cidades da Baixada Fluminense foi deixado ali. O resultado é uma montanha que alcança 60 metros de altura, no ponto mais alto, espalhada por 1,3 milhão de metros quadrados, assentada sobre um terreno gelatinoso, formado de argila.
Diante do risco de desastre ambiental, a desativação do maior lixão da América Latina é o grande compromisso assumidos pela prefeitura do Rio às vésperas da Rio+20. A data prevista, amanhã, teve de ser adiada, no entanto, para maio para que um problema social seja resolvido - cerca de 1,4 mil pessoas sobrevivem da separação do lixo e tem de ser indenizadas.
O secretário municipal de Conservação, Carlos Osório, resume o que representa o Gramacho: "Cometeu-se um crime ambiental monumental no Rio de Janeiro". Entre 1978 e 1996, o lixo foi despejado ali sem nenhum tipo de tratamento. O chorume vazava para a Baía de Guanabara e os rios. Havia explosões de gás metano - um dos gases do efeito estufa - gerado pela decomposição da matéria orgânica em ausência de oxigênio.
A apenas 4 quilômetros de distância do Aeroporto Internacional Tom Jobim, os urubus que disputam os resíduos com catadores também são um problema. Somente entre 2008 e 2011 houve 286 colisões entre aves e os aviões.
No fim dos anos 1990, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), do Rio de Janeiro, responsável pela operação do lixão, começou a transformar a área num aterro sanitário. Foi instalado um sistema de drenagem para coletar e tratar o chorume. Uma cortina de argila orgânica impermeável foi instalada no entorno do aterro, para impedir que os resíduos chegassem à baía e aos rios. O dejeto de serviços de saúde ganhou local de descarte próprio, com manta protetora. O lixo, depois de revirado pelos catadores, passou a ser espalhado por uma draga e coberto com barro ou cascalho. Ainda assim, o solo instável provocou rachaduras na montanha de lixo.
Fechamento. Ambientalistas denunciaram o risco iminente para a baía, e o Ministério Público Estadual cobrou o fechamento do aterro. A Comlurb diz que a situação está sob controle. "Instalamos inclinômetros em todo o terreno. São placas que vão a até 15 de profundidade e captam qualquer movimentação do solo", diz o assessor técnico da diretoria da Comlurb, José Henrique Penido.
O aterro também é responsável pela deterioração do bairro de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias. Um levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho Sociedade (Iets) apontou a existência de 174 depósitos e galpões de lixo instalados no bairro. O estudo aponta que, dos seus 13,7 mil moradores, 1.217 trabalham na separação dos resíduos.
A prefeitura do Rio promete recuperar Gramacho. Caberá à empresa Novo Gramacho, consórcio que administra o aterro, cuidar da contenção geológica, refazer a cobertura vegetal e recuperar o manguezal.
Desde abril passado, a maior parte do lixo do Rio é lançada no Centro de Tratamento de Resíduos de Seropédica, onde é imediatamente coberto após o despejo.
O projeto de recuperação prevê a perfuração de mais 190 poços, além dos 130 já existentes, para a captação do gás metano. Gramacho produz 18 mil metros cúbicos por hora desse gás. Uma usina foi construída no próprio terreno para purificar o gás metano, que será vendido para a Refinaria Duque de Caxias, da Petrobrás. O resíduo desse gás será usado na geração de energia da própria planta da usina.
A concessionária também registrará projeto para a venda de créditos de carbono. "Vamos deixar de emitir 6 milhões de toneladas equivalentes de gás carbônico. A verba proveniente dessa operação comporá o fundo para a recuperação do bairro e para a indenização dos catadores", afirmou Penido.

Primavera Chinesa ?!?!?!

Ao que as coisas indicam, parece que sim. Assolado pela corrupção, apoiado em cima de um modelo de crescimento econômico desregulado e que vive em corda bamba e ainda tentando viver da imagem da revolução chinesa; o partido comunista chinês começa a dar sinais de que se tornou um gigante com os pés de barro. 

Vivendo situações que depõem contra si, principalmente depois que vazou a notícia do assassinato  de um empresário inglês ter ligações com líderes do governo chinês, o partido vem sofrendo constantes baques que podem dar a brecha necessária para um levante popular. 

Mesmo que, é claro, o partido tente manter sua postura e assim se firmar no poder por mais infinitos anos, parece que os ingredientes para uma primavera chinesa estão prontos, falta somente o povo agir em cima deles; a não ser que o partido se modifique sensivelmente e tente uma virada de mesa, mas parece que o mesmo não está disposto a mudar tanto assim. Quando isso poderá ocorrer ?  É uma incógnita que só o tempo dirá... 

A detenção domiciliar da importante autoridade comunista Bo Xilai, até recentemente o político mais popular da China, hoje despido de seus títulos, enquanto sua ambiciosa mulher, a advogada Gu Kailai, é acusada de envolvimento no suposto assassinato do empresário britânico Neil Heywood, ex-membro da Harrow School, é uma história que tem de tudo. O sistema de classes britânico encontra os escuros labirintos internos do Partido Comunista Chinês para criar o maior escândalo político da China em décadas. A mídia estatal chinesa está hoje em ritmo acelerado para retratar Bo e Gu como um casal descontrolado, louco por poder, que foi trazido de volta para o regime da lei pelo partido sábio, que tudo vê.
O resto do mundo parece pronto para entrar no jogo. Bo era um político populista perigoso, uma regressão aos períodos mais sombrios e turbulentos da história recente da China. Todo o processo pelo qual ele foi derrubado pode ter ecos da política da antiga corte imperial chinesa, mas é eficaz. O ato foi feito, os reformistas continuam no controle, e David Cameron aplaudiu a investigação sobre a morte de Heywood e as prisões que resultaram.
Mas esse episódio é muito mais importante que um poderoso político sendo esmagado pela máquina comunista. O que muitos poucas pessoas reconhecem é a enorme crise de legitimidade do Partido Comunista. A batalha entre Bo Xilai e a liderança é sobre muito mais que o modo como ele adquiriu sua fortuna pessoal, que lhe permitiu educar seus filhos nas melhores escolas públicas britânicas. Tem a ver com encontrar uma resposta para a questão da legitimidade. A menos que uma estratégia convincente seja desenvolvida em breve, uma Primavera Chinesa em algum momento da próxima década parece quase certa.
O direito do partido a governar é que ele conduziu a revolução comunista, a aurora de um paraíso igualitário em que a legenda, como defensor do proletariado, deveria governar a economia e a sociedade harmoniosamente, em nome de todos. Mas se o crescimento da China foi notável e 400 milhões foram tirados da pobreza, o país tem claramente muito pouco a ver com o socialismo ou um paraíso igualitário. Os líderes da revolução estão mortos há muito tempo e foram substituídos por uma elite administrativa competente mas podre, que se parece cada vez mais com o mandarinato confuciano que a revolução derrubou.
Foi criado um modelo econômico corporativista obscuro, em que indivíduos privilegiados, especialmente os chamados príncipes — filhos e filhas de ex-líderes revolucionários, como Bo Xilai e sua mulher (ambos filhos de generais revolucionários) –, enriquecem impunemente. Não há lei imparcial; nem verificações e balanços; nada é confiável. As autoridades do partido não podem alegar que são heróis revolucionários como motivo para manterem os cargos; são administradores corruptos prestes a dar a retribuição por aumentar os padrões de vida. Mas se eles falharem está claro que todo o edifício vai implodir.
O primeiro-ministro Wen é o político mais consciente da crise iminente. Ele pediu desculpas em público a seus concidadãos por não fazer mais para promover a causa da responsabilidade e o regime da lei enquanto está no cargo. Também tem uma visão clara da fragilidade da economia chinesa, cujo crescimento é desequilibrado, descoordenado e insustentável, como ele advertiu constantemente.
Depois da prisão de Gu, ele não fez referência à linha oficial do partido para justificar o que aconteceu; preferiu citar uma passagem dos Analetos de Confúcio sobre a necessidade de os líderes se comportarem com integridade. Wen sabe que o comunismo como ideologia está morto, daí seu apelo a Confúcio, mais que a Marx.
O desafio de Bo, apoiado por importantes oficiais do exército e do aparelho de segurança, foi este: o partido, ele concordou, tinha de continuar a adotar o que Deng Xiaoping chamou de “economia de mercado socialista”, mas precisava fazer mais para enfatizar o componente socialista, de outro modo a crise de legitimidade o arrasaria. Por isso, enquanto era prefeito de Chongqing ele lançou uma forte medida anticorrupção, prendendo publicamente centenas de autoridades.
Bo distribuiu ajuda para milhões de pobres e ex-integrantes do partido enquanto justificava suas ações com referências a Mao, e não a Confúcio — e com cantorias organizadas de canções da revolução cultural. Ele lançou um reverdejamento da megalópole, plantando árvores e despoluindo o ar, enquanto cortejava o investimento estrangeiro para impelir o crescimento econômico. Foi o modelo de um novo tipo de autoridade comunista rigorosa, rigorosamente nacionalista — e extremamente popular.
Sua ameaça era dupla. Primeiro, representava um novo fenômeno — um político carismático preparado para agir sobre a desigualdade e a corrupção com uma base popular. Mas em segundo lugar, para os reformistas, ele estava brincando com fogo. Wen tem razão ao declarar publicamente que a revolução cultural não é uma parte da história recente de que todos possam se orgulhar. Pelo menos 500 mil pessoas foram assassinadas sumariamente. Mas Bo estava associando o combate à corrupção e a redução da desigualdade com tal “comunismo verdadeiro” — minando diretamente a atual posição ideológica do partido e agravando sua crise de legitimidade.
Então precisava haver uma resposta. Não houve autópsia de Heywood, assim dando ao partido liberdade máxima para agir, não em nome da justiça, mas do que a facção no controle considerasse do interesse do partido. Haverá um julgamento de fachada que dará o resultado certo, mas a ala reformista ainda enfrenta o desafio de conquistar legitimidade. O excesso de exposição dos erros de Bo Xilai vai confirmar como vive a elite; e com menos visibilidade não haverá caso.
Pior, Wen pode contorcer as mãos por seus erros, temendo que o governo não consiga mais suportar projetos de infraestrutura que dão prejuízo para gerar crescimento — rapidamente caindo para seu nível mais baixo em muitos anos. Mas ele nada fez para mudar as coisas principalmente porque nessa situação nada pode ser feito. A China precisa se tornar uma economia “normal” com centros plurais de tomada de decisões, uma capacidade nativa de inovar e menos dependência de fluxos de crédito e gastos de infraestrutura dirigidos pelo Estado. Mas isso é incompatível com ser um Estado de partido único.
Os líderes da União Soviética enfrentaram dilemas semelhantes no início dos anos 1980. Depois de 60 anos, as revoluções perdem legitimidade e problemas econômicos se tornam intratáveis. O grupo ao redor de Gorbachev decidiu que não havia opção senão acelerar as reformas. A nova liderança chinesa, decidida a assumir o comando por mais um ciclo de dez anos neste outono, tentará seguir sem muitas mudanças.
Mas o desafio de Bo sobre a legitimidade permanece. Se não houver uma mudança vinda de cima, ela virá de baixo. Uma Primavera Chinesa é muito provável em algum momento nos próximos dez anos. Até aí nós sabemos. Só não sabemos quando.