quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Os Bancos e a adoção dos mesmos pela sustentabilidade

Ultimamente virou moda essa questão da sustentabilidade. Não quero dizer com isso que desmereço o ideário por trás disso, pelo contrário, apoio veementemente. 

O que me incomoda, e muito, é a forma como certas instituições se apropriam desse conceito e se vendem como empresas verdes e ambientalmente responsáveis... 

Por exemplo, os bancos. Virou modinha eles propagarem que são empresas responsáveis que zelam pelo "verde", alguns fazem até propagandas "fofinhas" na televisão pra te convencer disso. 

Tudo bem, de fato eles fazem isso, mas não pelos motivos que divulgam. Nunca foi para defender o ambiente em que vivemos, mas sim porque isso gera um corte de custos imenso para eles, pois menos papel = menos gasto, já que tudo pode ser enviado por meio eletrônico. Ou seja, e-mail é de graça, já a carta que chega pra você todo mês com seu extrato, não. 

A questão aqui é simples, ainda não levam a questão da sustentabilidade a sério. Nesse caso, ela só entra na jogada para mostrar ao povo um motivo de fachada para verem como tal banco se importa com o ambiente em que vivemos, quando na verdade é uma forma que eles descobriram pra ganhar mais dinheiro. 

Enquanto isso, o nosso planeta vai pagando a conta e reuniões como as COPs da vida vão acontecendo para que nossos governantes possam fingir que estão fazendo algo, quando na verdade travam um jogo de empurra baseado em quem vai "parar sua economia primeiro em favor do ambiente", isso segundo eles. 

Eu só me pergunto até onde isso irá nos levar... 

Os bancos, essas generosas instituições, sempre preocupadas com o bem-estar coletivo de seus clientes, estão engajadas em nova e meritória campanha. Trata-se de um movimento em defesa da sustentabilidade, essa palavra nova que passou a frequentar nossas vidas para nos ensinar a viver melhor, aproveitando com sabedoria os recursos que a Mãe Natureza proporciona.

E a defesa da sustentabilidade que os bancos pregam é defender a Natureza, recebendo pilhas e baterias para dar um encaminhamento ecológico a elas, ou economizando de papel. Ou seja, preservar nossas florestas, reduzir a massa de detritos que suja as ruas, economizar a energia gasta na produção e por aí afora, numa infinidade de desdobramentos, todos positivos.
Campanha mais meritória, impossível. Ser contra isso torna você um perdulário consumidor de recursos naturais, um egoísta insensível para com o futuro da humanidade, um pária, indigno de viver numa sociedade moderna.
Porém, talvez valha a pena olhar por trás dessa bela fachada de boas intenções que agita a internet, aparece toda hora na televisão, gera entrevistas dos criadores da campanha e insere, independentemente do conjunto da obra, os bancos na lista das instituições socialmente responsáveis.
O papel que eles nos pedem para economizar é aquele que, por norma do Banco Central ou lei federal, seja lá o que for, os bancos são obrigados a enviar regularmente (acho que por mês, embora não o façam) com o resultado da nossa movimentação financeira: cheques emitidos, contas pagas, serviços prestados etc.
sso tem de vir em papel que, como sabemos, custa dinheiro. Sem contar o gasto com o pessoal encarregado de cuidar desse papel e de sua remessa até nós, além da tarifa do Correio. Multiplique por milhares (milhões) de clientes e veja quanto isso custa para os bancos.
A economia que querem que façamos para eles é abrir mão dessa correspondência toda e aceitarmos receber nossa movimentação por via digital: e-mail, Facebooks, Orkuts, Twitters e o que mais estiver disponível nesse incrível mundo da comunicação de hoje. Para eles, o custo será quase zero, as florestas e o planeta agradecerão, viveremos numa sociedade melhor.
Ótimo, mas benefícios institucionais, indiretos, à parte, o que é que nós, nosotros, ganhamos concretamente com isso? Tempo? Praticidade? Mais espaço nas gavetas e armários? Sim, tudo isso e pouca coisa, ou nada, mais. Eles, sabidamente devotados ao dinheiro, ganharão mais uma montanha dele, para nos emprestar com aqueles juros modestíssimos que conhecemos e com aquela generosidade que, por vezes, quase nos leva às lágrimas. Nós ganhamos, a consciência de ser bons cidadãos, amantes do planeta etc.
Ora, vamos falar sério! Que tal, em troca da nossa adesão à “sustentabilidade banqueira” ganharmos um desconto nas tarifas, uma reduçãozinha na taxa de juros, um premiozinho na nossa conta de poupança? Ou até, que sabe, uma panela, um liquidificador, uma escarradeira, uma coleção dos pensamentos de Lenin sobre banqueiros etc? Gostam da ideia?
Vamos ver se eles gostam. De minha parte, continuo com o papel, mesmo à custa de ser qualificado de predador insensível. E me recordo sempre de como banqueiro gosta de rezar o Pai Nosso pela metade, só a parte que diz: “Venha a nós o Vosso reino”…



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