terça-feira, 10 de junho de 2014

Será mesmo que os gastos da Copa são tão absurdos assim?

Antes de mais nada, presto aqui os meus sinceros agradecimentos ao meu mestre Marcelo Coelho que me fez ver este evento com outros olhos... Opinião esta que eu queria dividir com vocês (mesmo que atrasada, porque a intenção era publicar este texto na quinta-feira passada, como de costume. Desculpem!)

Você, caro leitor, que acompanha o blog há tempos tem visto a minha preocupação com a Copa, embora sempre reforçando não ser contra a mesma, mas alegando que os gastos deveriam ser alocados para outras coisas mais importantes... Pois bem, a minha opinião não difere desta que vos apresento, só que agora não volto mais os olhos para este evento com a desconfiança de algo melhor poderia ter sido feito com este dinheiro, mas sim de que agora vem muito mais coisas positivas do que eu achava que viria... 

Sim, você pode falar que obras foram superfaturadas (disso eu não duvido); bem como também pode falar que tudo está sendo feito as pressas, mas... NÃO É BEM ASSIM! NÃO MESMO!

Primeiro, do jeito que as coisas estão sendo mostradas hoje em dia, parece até que ficamos sabendo na semana passada que iríamos realizar a Copa do Mundo aqui no Brasil. O que se mostra de atraso em obras e de que muita coisa está sendo feita na correria, não está no gibi, mas o que ninguém comenta em relação a isso é que... 



Ou seja, embora escombros e entulhos fiquem sobre os arredores de alguns estádios e o "imagina na copa" permeie o imaginário e os discursos de protestos da última moda; isso ocorre em todos os países. A questão é que aqui a cobertura é muito maior para esse tipo de coisa porque estamos em época de eleição e a emissora que manda neste país não está muito contente com o rumo que o país está tomando, principalmente porque classes sociais vem ascendendo e o seu poder, mesmo que ainda esteja alto, vem perdendo força gradativamente... 


Outra questão refere-se aos gastos com a Copa... Em relação a estes pontos, colocarei aqui dados levantados na Folha de São Paulo e por Fernando Brito para fundamentar o que eu digo... 



"Com anos de atraso, a Folha publica hoje um levantamento feito pelos repórteres Gustavo Patu, Dimmi Amora e Filipe Coutinho que, como e diz nas conversas informais, “baixa a bola” dos “gastos absurdos com a Copa do Mundo”.
É o que dá ter raros momentos de jornalismo correto na mídia brasileira, porque não é nenhum “furo”, mas apenas a compilação de dados que são e sempre foram públicos.
A começar pela abertura do texto escrito pelos três:
Mesmo mais altos hoje do que o previsto inicialmente, os investimentos para a Copa representam parcela diminuta dos orçamentos públicos.
Alvos frequentes das manifestações de rua, os gastos e os empréstimos do governo federal, dos Estados e das prefeituras com a Copa somam R$ 25,8 bilhões, segundo as previsões oficiais.
O valor equivale a, por exemplo, 9% das despesas públicas anuais em educação, de R$ 280 bilhões.
Em outras palavras, é o suficiente para custear aproximadamente um mês de gastos públicos com a área.
E eles próprios se encarregam de dizer que nem sequer é assim, porque estes gastos diluíram-se pelos últimos sete anos e, sobretudo, porque uma parte ( a maior parcela, 32%) é feita com financiamentos de bancos públicos (quase toda do BNDES) e vai retornar.
Adiante falarei dela.
Bem, do gráfico publicado, conclui-se que o Governo Federal gastou R$ 5,8 bi diretamente com a Copa: R$ 2,7 bi na modernização e ampliação dos aeroportos, R$ 1,9 em segurança pública – quase tudo equipando, a fundo perdido, as polícias estaduais -, R$ 600 mil em portos, R$ 400 mil em telecomunicações  e R$ 200 milhões em gastos diversos.
Aeroportos e portos, além de serem serviços públicos essenciais ao desenvolvimento econômico, geram receitas de tarifas e concessões.
Nenhum tostão, como você vê, em estádios.
Do dinheiro dos estádios, um total de R$ 8 bilhões, perto da metade veio de financiamentos federais, através do BNDES, de duas formas: debêntures e empréstimos.
Debêntures são “letras” financeiras e, no caso do estádio, seus tomadores pagam 6,2%% de juros mais a inflação do período.
No caso dos empréstimos, os tomadores, além de oferecer garantias, têm de pagar  TJLP (taxa de juros de longo prazo), que de 2009 para cá variou entre 6,25% e 5%, mais  1,4% (taxa  BNDES + intermediação financeira), mais risco de crédito (até 4,18%), além da taxa que o o tomador pagará a o banco operar o crédito. No total, portanto, pagam juros muito semelhantes (em geral um pouco maiores, em alguns momentos frações de centésimo menores) que a taxa de juros com que o Governo capta dinheiro no mercado.
Isso quer dizer que não houve empréstimo subsidiado pelo Governo Federal?
Sim, houve,  maiores. E continuam existindo, independente de Copa.
São os recursos para obras de mobilidade urbana que, só nos empreendimentos ligados à Copa, receberam  R$ 4,4 bilhões.
Como é isso: o BNDES financia contrando TJLP + 2% no caso de o empréstimo ser tomado por Estados e Municípios ou por TJLP + 1% + risco de crédito de até 4,18% no caso do financiamento ser feito por empresa privada.
Convenhamos que  é uma forma muito mais adequada de o banco usar seus recursos em favor da população do que, como fez em 2002, aplicar R$ 281 milhões (R$ 1 bilhão, hoje, corrigidos pela taxa Selic) na Net, então propriedade dos Marinho (a família mais rica do Brasil), que estava enforcada de dívidas.
No caso dos Estados e Municípios, a grande maioria, boa parte dos gastos vem  das contrapartidas locais para obras de mobilidade (R$ 2,4 bi, ou 41%) e os restantes R$ 3,3 bilhões em gastos diretamente com obras dos estádios e com as do seu entorno (ruas, praças, pátios, passarelas).
Os números insuspeitos publicados pela Folha vêm na mesma linha daquilo que ontem se comentou aqui.
Tirando os gastos imprevistos de três governos estaduais (Sérgio Cabral , com o Maracanã, Agnelo Queiroz, com o Mané Garrinha e Aécio Neves-Anastasia como Mineirão, que começou as obras ainda na gestão do atual candidato do PSDB à Presidência), os outros dois estádios que custaram muito mais do que o inicialmente previsto, o Beira-Rio e o Itaquerão, foram  tocados pela iniciativa privada.
Há uma hidrofobia de direita implantada na mídia e em parte da classe média que eclipsa qualquer capacidade de exame racional dos fatos.
Se eu fosse um obtuso irracional, que não reconhecesse o direito de uma categoria profissional essencialíssima , como a dos professores, poderia dizer que se gastou muito mais que aquele “um mês”  de Educação que a Copa custou com as greves e paralisações (em geral, justas) do magistério.
E isso seria uma apelação, porque eu estaria colocando nos direitos dos professores a “culpa” das nossas históricas carências no setor.
Colocar na Copa a “culpa” pelos problemas da educação, da saúde, da assistência social, da habitação é, igualmente, uma estupidez.
Que só tem um fundamento, embora a maioria dos que fazem isso não o percebam: as eleições."

Diante destes dados, nobre leitor, você sinceramente acha que a Copa do Mundo serve tornar você um alienado político já que a mesma é vendida como algo que gera gastos astronômicos e superfaturados que visam enriquecer e favorecer determinado partido em época de eleição?

Com informações da Folha de São Paulo [1], [2] e do Tijolaço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário