quinta-feira, 3 de julho de 2014

País com transporte eficiente é país onde todos, do rico ao pobre, andam de transporte público.

O Clichê do título da postagem de hoje ilustra bem o assunto dessa semana, a mobilidade urbana. 

Em tempos onde os protestos se multiplicam cada vez mais por um transporte público eficiente em nosso país, vemos governos tentando se esforçar para dar uma resposta à população para melhorar esse painel. O problema no meio disso tudo é que essa "vontade política" escamoteia outros meandros da política do presente e do passado em nosso país e que tornam as atuais modificações obsoletas antes mesmo de serem instaladas. Eu explico... 

Desde a época de J.K. o país, ou melhor, ele, optou por uma escolha que até hoje nos prejudica enormemente tanto em aspectos nacionais quanto internacionais; falo da opção do nosso ex-presidente pelo rodoviarismo. Tudo bem que naquela época ele teve o incentivo ($) das empresas automobilísticas, de olho no enorme mercado em potencial que éramos - e somos - à época, mas tudo isso tem seu preço, que por sinal nos é cobrado até hoje... 

J.K. não optou pelo rodoviarismo só pelo incentivo que recebeu, outro fator que apontou a favor de sua escolha refere-se ao fato da implementação deste tipo de transporte ser barata, ao passo que sua manutenção se revela cara; mas, nobre leitor, pare e reflita: em um país onde a população tem memória curta e se pensa igualmente a curto prazo, quem iria lembrar se ele começasse uma obra mais demorada e não a terminasse? Será que seu sucessor a concluiria? O que ele poderia usar como "propaganda" para seu próximo mandato? (embora não tenha ocorrido). 

Por conta dessa opção, notoriamente equivocada, pagamos um preço altíssimo interna e externamente. 

Internamente porque somos um país de dimensões continentais que jamais poderia ter o automóvel como transporte matriz. Nossa matriz deveria, e deve, ser o transporte ferroviário. Sua capacidade de transporte tanto de carga quanto de passageiros é maior; é menos poluente do que o automóvel; é mais rápido (já que não engarrafa) e, mesmo que sua construção seja cara, sua manutenção é barata. 

Externamente perdemos porque deixamos de ser competitivos no mercado internacional, já que nossos produtos demoram mais a chegar aos portos, além de serem encarecidos pelos altos preços dos fretes já que pedágios e possíveis avarias que o automóvel venha a sofrer por conta das péssimas estradas que temos são colocados na conta final da entrega da mercadoria. 

O ideal seria que a nossa matriz de transportes fosse a ferrovia e que a mesma fosse complementada pelos demais meios de transporte que funcionariam como secundários e cobririam os locais onde as ferrovias não poderiam chegar. O problema, ou melhor, os problemas que nos afastam desse cenário, são históricos e levarão anos para serem corrigidos. Primeiro porque nossa malha ferroviária tem o tipico traçado de um país que foi colônia de exploração, ou seja, só existem ferrovias em antigos locais que foram grandes centros econômicos no passado, exatamente com a função de extrair as riquezas e levá-las direto para os portos e assim despachá-los para a Metrópole portuguesa. Segundo porque, como disse anteriormente, a construção de estradas de ferro são caras (fato que é compensado por sua manutenção barata) e tudo que demanda muito dinheiro, demanda também muito tempo. Além do mais, não podemos nos esquecer do nosso ranço rodoviarista que sempre aponta nesse sentido quando queremos mexer ou transformar os transportes públicos em nosso país (contribui pra isso também o forte lobby dos donos de empresas de ônibus que se amarram em financiar campanhas de políticos...)

Explicarei melhor essa última parte. 

Acho que não tem exemplo mais nítido do que o que ocorre no Rio de Janeiro com a implantação do BRT (sistema de transporte RODOVIÁRIO com ônibus de larga capacidade que cortam a cidade do Rio de Janeiro, encurtando o tempo das viagens já que possuem faixa exclusiva para circulação). Até aí tudo lindo e muito bonitinho, mas... (sempre tem um mas)

O projeto chegou ao Rio de Janeiro com 20 ANOS de ATRASO!... 

Esse projeto já existe aqui mesmo no nosso país, em Curitiba, e em países como o Equador há mais de 20 anos; isso sem contar que o próprio Rio de Janeiro já fez mais ou menos isso com a antiga CTC (Companhia de Transportes Coletivos) - . Porém, não é isso que explica o atraso do projeto. O que explica o atraso desse projeto é que nossa população cresceu (podemos exemplificar isso aproveitando o clima de Copa. Se antes cantávamos "70 milhões em ação", hoje teríamos que cantar 220 milhões - aproximadamente - em ação) e nem o BRT dá mais conta da nossa população. Isso também poderá ser verificado em pouco tempo, já que não duvido nada que as pessoas vão começar a reclamar que mesmo com o BRT em funcionamento, ainda pegarão ônibus tão apertados quanto antes... Isso sem falar nos acidentes que já vem ocorrendo. 

O que deveria ser feito então? A resposta também é simples e também tem 3 letras: VLT (veículo leve sob trilhos). Pois é, mais uma vez a resposta para o rodoviarismo é a ferrovia, que coincidência! VLT é um monotrilho equivalente "somente" a 3 ou 4 ônibus do BRT, menos poluente e mais rápido do que a sigla rodoviária. Mas você pode dizer que no caso do Rio o governo também está instalando o VLT. Sim, de fato eles estão; para cobrir uma área que vai do centro da cidade até a zona portuária... (para você que não mora no Rio, isso deve dar uns 20km mais ou menos, ao passo que o BRT corta praticamente a cidade toda...). 

Mas, será que ninguém sabia disso? Por que então instaurar o BRT ao invés do VLT na cidade?... Caro leitor, é só voltarmos ao início do texto: o transporte rodoviário é barato de construir, logo é rápido, então os turistas poderão ver a tempo da Copa e das Olimpíadas e a população vai ganhar um meio de transporte 20 anos defasado como se fosse novinho em folha...

Mas nem tudo são críticas. Também vale a pena lembrar aqui como ponto positivo a implementação do Bilhete Único em alguns estados do país, inclusive no próprio Rio de Janeiro que, por hora, é o único estado a implantar essa modalidade intermunicipalmente também. Com ele economizamos na passagem e podemos nos valer do transporte multimodal (deslocamento em que se utiliza mais de um tipo de transporte). Uma ótima ideia e que tem tudo para ser melhor aproveitada, se os investimentos nos outros tipos de transporte, não só o ferroviário, forem eficientes. 

Mas só isso, e muito menos a sugestão que eu dei acima, seriam suficientes para resolver os problemas de mobilidade urbana pelos quais nós passamos. Contudo, para sonharmos um pouco e termos um belo exemplo a seguir, deixo uma reportagem que mostra como seria uma cidade com uma mobilidade urbana que se não for a dos sonhos, se aproxima bastante disso. 

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