terça-feira, 4 de setembro de 2018

Quando um incêndio é o ponto alto do descaso

Infelizmente, pelo pesar da situação, o assunto desta semana não teria como ser outro que não o incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro. 

Nem de longe queremos aqui promover uma caça às bruxas e apontar culpados, até porque nada pode ser feito a respeito disso. As obras que se perderam e o material cultural inestimável, não só para o país como para o mundo, se esvaíram nas chamas de mais uma vítima do descaso e do abandono. 

Num país que vota pelo congelamento do orçamento da educação e da saúde por duas décadas, não deveria ser surpresa que um ícone da cultura mundial fosse relegado à sua própria sorte, mas foi. E assusta. 

Assusta e escancara uma verdade sobre o nosso país e sobre aqueles que os governaram, isso há "n" mandatos atrás e não só de agora, refletida no descaso com o qual toda a cultura brasileira e todas as outras que estão sob nossa guarda foram tratadas; ou melhor, destratadas. 

Muito poderia ser feito para que isso não ocorresse. Mas esse muito ficou esquecido e sedimentado por uma faraônica falta de vontade política de olhar mais atentamente para a preservação de nossa riqueza cultural, nossa história e nosso conhecimento. Isso sem contar a questão de "prioridades" que passaram a frente do Museu Nacional que se viu durante décadas sustentado por migalhadas e definhando lentamente até sucumbir no último final de semana. 

Um dos exemplos pode ser observado com o comparativo entre a reforma do Maracanã e o custo desta reforma aplicado à manutenção do Museu Nacional. Segundo levantamento, o recurso destinado a reforma do estádio que, aliás daria para construir outros iguais a ele, manteria o museu por mais de DOIS MIL ANOS!. 

(Esse mesmo levantamento faz um comparativo com outras reformas e ampliações, mas por se tratar de comparativos com obras de infraestrutura, nos limitaremos a comentar somente sobre o Maracanã).

"- Ah, mas a reforma do Maracanã também foi feita com dinheiro privado também."

De fato, mas esse também é outro ponto que nos faz questionar... 

Por que nunca foi tentado uma PPP (parceria público-privado) para o Museu Nacional?

Existe um exemplo no próprio estado do Rio de Janeiro com o Museu do Amanhã que é patrocinado por um banco espanhol. Isso, aliás, não seria nenhuma novidade bem como é uma prática muito comum. Diversos museus pelo mundo recebem ajuda de instituições privadas para serem mantidos ou até mesmo para se expandirem e adquirirem novas obras à sua coleção. 

Confessamos ser ignorantes em relação as tratativas desse processo, mas se era uma opção viável e prática comum em vários lugares pelo mundo, por que não foi feito com o Museu Nacional?

Outra coisa que podemos pontuar aqui é que, além do valor cultural inestimável que se perdeu com o incêndio, diversos projetos, pesquisas e descobertas foram interrompidas ou mesmo impedidas de serem continuadas por conta da ruína de parte do acervo do museu. 

Entre eles podemos citar as pesquisas sobre o continente antártico que eram feitas por um grupo de pesquisadores que armazenavam o conteúdo encontrado no Museu. Embora nem toda a coleção se perdera no incêndio, parte considerável acabou se perdendo, o que levou a equipe a um retrocesso incalculável em suas pesquisas, podendo causar, inclusive, o encerramento das mesmas. 

Essas e outras perdas nos levam a lamentar profundamente o descaso e o desleixo com os patrimônios culturais que estavam sob nossos cuidados que, década após décadas, foram se deteriorando não pelo tempo, mas por governos que não deram o menor valor a essas riquezas levando o descaso ao ponto alto (e triste) do incêndio no Museu Nacional. 

Quem sabe, talvez, nesse ano eleitoral em que nos encontramos, procuremos por candidatos que valorizem a cultura, a educação e os patrimônios culturais, artísticos, intelectuais e tantos outros que não o patrimônio financeiro. 

Que este incêndio nos leve a refletir sobre o tipo de pessoas que queremos cuidando e administrando os nossos bens... 

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