Na reportagem abaixo, o entrevistado mostra seu opnto de vista sobre a crise que se anuncia desde que o consumismo se intensificou e em alguns lugares se tornou algo desenfreado.
Nosso Planeta já vem dando sinais de que está no seu limite diante dessa situação e que as consequências podem ser graves se continuarmos desse jeito.
Apesar de apontamentos interessantes e de conseguir mostrar como a raça humana poderá enfrentar problemas sérios a curto prazo, o que pode ser pior se pensarmos que os mesmos são desconhecidos, embora saibamos de sua gravidade, o entrevistado levanta uma questão que discordo: a de que o problema não é o urso e sim o homem (a princípio, havia entendido que poderia se referir a forma como lidamos com o Planeta, ou seja, que o problema não é a forma como os ursos lidam com o Planeta, mas sim a forma como o homem lida, mas...).
De acordo com a entrevista, que está logo abaixo, parece que o entrevistado trata como absolutamente normal a extinção das espécies que podem vir a ocorrer; já que para ele "entra uma e sai outra". Ora, se fosse assim, seria natural então que a espécie humana fosse substituída por outra (de prferência que degradasse menos o ambiente), então pra que nos preocuparmos só conosco ?
Dizer que o problema não são os ursos e sim nós, a meu modo de ver, é um pensamento egoísta. É como assinar um atestado de isenção pelo que acontece com as espécies por conta das mudanças no Planeta que nós causamos em sua maioria.
Dizer que o problema pesa só para o homem e não para o urso e todas as outras espécies, alegando que a extinção é natural e assim minimizá-la, é legitimar as atrocidades que estamos fazendo e que precisam ser corrigidas. Mas não pensando apenas em tirar o nosso da reta, como também em todas as espécies que convivem conosco.
Afinal de contas, não vivemos aqui sozinhos e somos dependentes de ursos, abelhas, vacas, cachorros, baleias e todos os outros animais que cohabitam a Terra conosco e que, ironia ou não, não dependem de nós...
Aí, realmente poderemos pensar que o problema não é o urso, mas sim o homem no que tange a maneira como utilizamos os recursos naturais e nos problemas que isso acarretará para as gerações futuras...
A Inglaterra está em recessão, a França conta 21% dos jovens
desempregados, a Alemanha crescerá menos. Na contramão da crise
europeia, a China, em quatro anos, aumentou em 4% sua fatia no PIB
mundial. Neste cenário conflitante de escassez em países ricos e
conquista de consumo nos emergentes, o que é sustentável no mundo atual?
Em primeiro lugar, precisamos entender a nova realidade
do século 21. Não temos que proteger meio ambiente nenhum nem salvar as
espécies, pelo simples fato de que a humanidade não é capaz de fazer o
mínimo estrago que seja à natureza do planeta. Achar que a humanidade
pode infringir algum mal ao planeta e, por isso, tem que adquirir
consciência e salvá-lo, é uma ideia narcísica e infantil. Nós, os
humanos, somos a imagem e semelhança de Deus, mas não somos deuses.
Todas as empresas do mundo juntas, mais todo o exército norte-americano,
a Nasa e os arsenais nucleares do mundo multiplicados cem vezes não
seriam capazes de provocar sequer um arranhão na natureza, cujo tempo é
completamente diferente do nosso, conta com milhões de anos. A natureza
já passou por cinco apocalipses, enfrentando problemas muito maiores do
que qualquer coisa que a humanidade possa vir a fazer daqui a séculos.
Então, o negócio é deixarmos tudo do jeito que está? Como ficam as futuras gerações?
A
situação do mundo atual é muito grave - não para o urso polar, para o
panda, para os pássaros. É claro que para os animais o quadro tem
gravidade, mas é a vida, uma espécie sai e entre outra. Nós, os humanos,
é que temos um problema sério. E as consequências são para hoje mesmo,
não são para as futuras gerações. O fim da civilização dos combustíveis
fósseis e a construção de uma economia de baixo carbono é uma
inevitabilidade para a espécie humana. E isso significa que os preços
vão mudar. Qualquer investimento feito hoje que calcule uma taxa de
retorno para o futuro é uma fantasia. No tempo curto da história humana,
relativo a um piscar de olhos do tempo da natureza, fomos muito
poderosos. Alteramos muito a paisagem do planeta e cometemos a estupidez
de não considerar a premissa mais defendida pelos homens de finanças:
não existe almoço grátis. Mas, desde a Revolução Industrial, acreditamos
que tinha almoço grátis com a natureza. Estamos a consumir os bens
naturais de um planeta que é finito. Entretanto, o 'business as usual'
acabou.
A estratégia de crescimento futuro implicará novos custos e preços?
A crise macroeconômica global e a retomada do crescimento e do
investimento estão profundamente conectadas com o tema da
sustentabilidade e alguns novos custos serão internalizados. Teremos o
custo internalizado das emissões de carbono. Por exemplo, se emito gases
de efeito estufa por conta de alguma atividade, isso tem um custo,
porque esquenta o planeta. Os chefes de estado e os cientistas já
concordaram que o aumento da temperatura do planeta em até 2,5 graus é
um risco aceitável. Portanto, digamos que está contratado globalmente
que iremos esquentar, porém não mais do que o previsto neste contrato
entre as partes. Assim, precisaremos pegar o custo de emissão de gases
efeito estufa e agregá-lo ao preço das mercadorias. Ou seja: quer andar
de jipe? Pague o custo do esquentamento do planeta por isso.
Considerando que 1 kg de carne bovina equivale a andar 3h30 de carro, se
quiser comer picanha, pague pelo efeito estufa também.
Como equilibrar a conta?
Consumir
Eça de Queiroz no Kindle, por exemplo, não esquenta o planeta. Se
relacionar socialmente pelas redes não esquenta o planeta. Isso não diz
respeito só às relações de amizade. Afinal, muita gente não precisará se
deslocar para ir a um local de trabalho - essa coisa ridícula da
cultura atual, em que o individuo acorda e senta perante um computador;
depois esquenta o planeta duas horas para chegar a outro computador de
novo, porque supostamente ainda vivemos na Idade Média e o chefe tem que
ver se você está trabalhando ou não. Esses parâmetros vão mudar e não é
porque vai sobrar boa vontade: mudarão porque os preços vão sinalizar
aos donos de empresas, que calcularão o custo do trajeto do funcionário
até a sede e orientarão esse indivíduo para trabalhar em casa, a fim de
reduzir o custo da empresa.
Qual é a saída?
Temos
que permitir que a natureza do nosso tempo continue a nos entregar
serviços totalmente indispensáveis à qualidade da vida humana: clima,
solo, biodiversidade. Mas os limites do planeta estão sendo forçados não
é para amanhã, é hoje mesmo. O que quer dizer isso? Que vem aí o fim do
mundo e outro apocalipse? Não. Quer dizer que vem por aí muito custo e
sofrimento e que, com um pouquinho de inteligência, poderia ser evitada e
barateada a nossa adequação aos limites do planeta.
Quais são as expectativas dos economistas?
A
antiga dicotomia entre meio ambiente e crescimento econômico e social
não apenas perdeu sentido, como é idiota. O sofrimento do futuro não
será distribuído igualmente, como nada é distribuído igualmente em nossa
sociedade atual. Ele vai se abater sobre os pobres, porque são aqueles
os que estão em posição mais vulnerável e têm menos recursos para se
defender. O mundo de hoje não é mais o mundo do passado. É uma
ingenuidade imaginar que 1,5 bilhão de pessoas poderão consumir de uma
determinada forma e centenas de milhões de outras pessoas poderão perder
suas casas e safras, sem que isso dê em nada. Haverá reação e migração:
estamos falando de dezenas de milhões de migrantes ambientais. E se não
fizermos o dever de casa serão muitos mais.
Que dever de casa é este?
Já
conhecemos os impactos do drama dos limites do planeta. Mas o principal
é que não estamos recorrendo ao principal ferramental do economista ou
do homem de negócios: o risco. Não estamos realizando uma análise de
risco minimamente inteligente, mas de forma míope. Extinguir 30% das
espécies até 2050 pode parecer apenas uma grande perda de riqueza em
termos de moléculas, enzimas ou produção agrícola, mas pode incorrer em
risco de acidentes mais graves, como colapso do sistema ecológico - 30%
de extinção de espécies correspondem à velocidade de extinção registrada
em um dos cinco apocalipses. Vai acontecer algo muitíssmo grave?
Provavelmente não, mas existe a chance de acontecer. Há o risco - degelo
dos mantos de gelo na Groenlândia ou a liberação do metano dos solos
congelados da Sibéria, entre outros exemplos. Só que esses grandes
riscos a humanidade nunca enfrentou antes. Como podemos agir levando em
conta o que vai acontecer em 50 anos? Nunca passamos por isso, é agora
que vamos descobrir se seremos capazes. Políticos podem ser pressionados
por cidadãos a adotar políticas públicas que evitem riscos para daqui a
30 anos, por exemplo. Mas, conseguiremos isso?
O setor privado pode intervir mais diretamente?
As
companhias estão aflitas porque sabem perfeitamente que estamos
esbarrando nos limites do planeta e sabem que os preços de hoje ainda
não refletem isso. Mas os preços de amanhã serão diferentes. Bem
diferentes. Sabem que se continuarmos a emitir gases de efeito estufa
como estamos fazendo hoje a temperatura vai aumentar até 5 graus e isso
não vai ser o fim do mundo, nem da civilização, mas vai custar muito
caro e seguramente provocará um colapso civilizatório. O que não dá para
acreditar é que uma civilização que sabe que está caminhando para um
colapso seja capaz de prosseguir a vida deixando o mundo permanecer o
mesmo. No Brasil, e no resto do mundo, não haverá crescimento econômico
nem competitividade, tampouco inclusão social, se não nos preparamos
para um mundo que mudará completamente, sem almoço grátis.
E como planejar a vida adiante? A previdência, a aposentadoria...
O
drama é exatamente este, não é o urso polar! É o homem. Os preços dos
fundos de pensão vão mudar completamente. E o fundo de pensão que acha
que está assegurando milhões para os professores do Estado de Nova
Iorque ou dos servidores públicos do Brasil podem estar trabalhando com
taxas de retorno que não têm nada a ver com a realidade. Qual é a taxa
de retorno do pré-sal? Ninguém sabe. E o que aflige as grandes
companhias é isso: os preços de hoje podem sofrer alterações radicais
amanhã. Deveria ter sido ontem, todas sabem disso. Os empresários serão
chamados para colocar toda a sua criatividade de economia de mercado a
favor de novos caminhos para a mais acelerada revolução tecnológica da
história. A solução não está em nenhum burocrata da ONU ou de cientista
do IPCC. Ninguém sabe qual é o caminho certo. Temos que tomar a coragem
política de assumir que não tem almoço grátis, estamos esquentando o
planeta e quem esquenta tem que pagar por isso.
O que nós, cidadãos, podemos fazer?
Nós, cidadãos do planeta, vamos precisar desesperadamente que algumas dessas empresas acertem.