sexta-feira, 27 de maio de 2011

1929, 2008 e um fator em comum inesperado...

Ao longo dos anos vivemos crises cíclicas do capitalismo. Algumas datas foram marcantes devido ao estrago que fizeram e a transformação que causaram no capitalismo: em 1929 vimos a crise do liberalismo que deu lugar ao estado do bem-estar social e a de 2008 que mostrou as fragilidades do neo-liberalismo que tanto pregou a não intervenção do Estado, com o "Estado mínimo", e se viu obrigado a recorrer aos governos de pires na mão por conta da crise que causaram. Mostrando assim, que o Estado sempre se fez e sempre se fará interventor da economia - salvando as empresas de quebrarem - pondo o neo-liberalismo em xeque levando o mesmo ou a profunda reformulação ou até mesmo a sua substituição por outro sistema (talvez até a volta do estado do bem-estar social, mas em outras diretrizes - mais controlador eu diria) mas isso é um processo que ainda está ocorrendo e que ainda impossibilita uma análise mais concisa. 

Fato é que tanto a crise de 29 quanto a de 2008 responderam a um mesmo fator, que pode ser novidade na economia e que parece ter passado desapercebido ao longo dos anos: a psicológico daqueles que lidam com o mercado financeiro.

Quando a economia vai bem, parece que um certo impulso toma conta da galera que investe e da que empresta dinheiro pra isso sem olhar pra quem que acaba culminando em verdadeiros desastres financeiros como o de 2008 que pudemos presenciar apesar de não termos sentido tanto quanto outros países (graças a Deus). 

Devemos observar que o que tem de comum nas duas crises, mesmo em tempos diferentes e razões "diferentes" diz respeito ao impulso falar mais alto, mas da mesma forma cobrar alto seu preço. Dessa forma também fica claro que não há uma fórmula anti-crise, até porque, quando se trata do psicológico humano, sabemos que nada é exato. 

Contudo, outra questão que se deve prestar atenção agora é na forma em como aqueles que perderam altas quantias nessa crise farão para recuperar o dinheiro perdido... Altas na inflação e desemprego costumam ser as saídas mais rápidas e mais praticadas, infelizmente. Mas quem sabe dessa vez essa situação não muda e o mercado consegue se recuperar sem derrubar ninguém ? (utopia pura...)

As dúvidas se dissiparam. Não há, praticamente, divergências sérias sobre as causas da crise de 2008-2009 que abalou as finanças mundiais e produziu a tragédia do desemprego para o número espantoso (calculado por baixo) de 30 milhões de honestos trabalhadores.
A crise aconteceu sob as vistas dos grandes bancos centrais que admitiram o uso de “derivativos” sobre os quais tinham muito pouco entendimento. É certo que algumas inovações financeiras ajudaram a acelerar o crescimento mundial. Economistas respeitados passaram a acreditar que tinham modelos matemáticos apoiados numa fórmula de distribuição dos riscos. Isso já existia em estudos desde o início do século XX. Eles foram evoluindo até se difundir a crença de que existia uma forma de controlar o risco, o que destruiu a concepção sob a qual a distribuição era calculada.
Hoje, tanto economistas como os bancos centrais admitem que “não entendiam como as coisas estavam acontecendo”. Um fato interessante é a reedição recente do famoso Relatório Pécora que examinou as causas da crise de 1929. Pécora foi o procurador de Justiça chamado pelo Congresso americano para “salvar” a comissão parlamentar, cujos trabalhos estavam terminando sem esclarecer grande coisa sobre as causas reais do cataclismo financeiro que derrubou a Bolsa de Nova York e produzia um rastro de destruição em toda a economia mundial.
O procurador deixou “de cuecas” os grandes banqueiros que sustentaram a especulação e levou o maior deles, JP Morgan, a confessar que tinha clientes “privilegiados” com os quais o banco fazia operações “especiais”. A história se repete. As causas da atual crise são muito semelhantes às de 1929 que desaguou na “Grande Depressão” do século passado. Quando se assiste às perturbações sociais, ao drama que estão vivendo as sociedades europeias é correto concluir que elas estão pagando o preço da salvação de seus sistemas financeiros, por parte de governos cúmplices que permitiram a “desregulação”.
A economia de mercado não vai sobreviver se insistir em aceitar as desigualdades crescentes que estão desestruturando sociedades que alcançaram bons níveis de bem-estar e se acostumaram com certa estabilidade financeira. É o caso, por exemplo, dos Estados Unidos, uma sociedade relativamente igualitária, mas onde os índices de desigualdade vêm crescendo dramaticamente. Num outro extremo, a economia chinesa desenvolve-se com grande rapidez. Em menos de 30 anos, saiu da penumbra de um regime socialista para se tornar a segunda potência global, mas a desigualdade triplicou.
A China está aprendendo a conviver com esses problemas de flutuação, que são íncitos ao desenvolvimento capitalista. As crises talvez possam ser evitadas, mas raramente são previsíveis. Uma das conclusões interessantes da recente conferência patrocinada pelo FMI envolve a confissão de seus economistas: “Nós nunca vamos saber (pelo menos não sabemos até agora) se algum dia vamos ter instrumentos para impedir as crises produzidas pelo homem, pois elas têm origem em sua própria psicologia. Ele tem fases de grande entusiasmo quando aumenta a vontade de correr riscos e vai até o momento em que algum fato o perturba e o faz perder o entusiasmo”.
Não tem solução. O sistema financeiro precisa de controles, porque está sempre tentado “a voltar ao local do crime”. O papel dos governos é não ignorar essa verdade. Na luta interna entre o “mercado” e o Estado, a conclusão é que o “Estado indutor” é peça fundamental no funcionamento do regime democrático republicano, sob controle constitucional. O Brasil tem sido um bom exemplo – e isso foi mostrado no auge da crise em 2008 – de como o Estado indutor funcionou, permitindo ao governo privilegiar o setor produtivo da economia com medidas de suporte às suas atividades vitais, garantindo o emprego industrial e a sustentação dos níveis de consumo da população, enquanto grande parte da economia mundial derretia-se ao concentrar esforços no socorro aos bancos.
Estamos outra vez em meio ao embate em que o “mercado”, pela voz de seus “falcões”, exige novas altas dos juros, para que a inflação termine 2011 no centro da meta (4,5%). Por que motivo o Brasil deve restringir-se apenas à elevação da taxa de juros (que já é a segunda maior do mundo!), derrubando o crescimento e cortando o emprego de nossos patrícios, apenas para satisfazer a ambição dos tais “falcões” do mercado financeiro? Por que não dar um voto de confiança à política monetária mais sofisticada posta em prática pelo novo Banco Central?



Extraído de cartacapital.com.br

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