segunda-feira, 23 de setembro de 2013

"Hollande" a ladeira...

Com o perdão do ingrato trocadilho inicio este post alongando um tema que debati no post anterior sobre minha decepção com o presidente francês François Hollande... 

Eleito como uma esperança aos tempos "sombrios" - principalmente se você era imigrante - na era Sarkozy, Hollande conquistou os franceses ao mostrar uma orientação política de esquerda que o levou a presidência da França. 

Porém, com um ano de sua presidência, a realidade da França anda bem distante das promessas feitas por Hollande... 

O desemprego continua alto, a Alemanha pressiona cada vez mais para que a França aplique as medidas de austeridade, há escândalos sobre sonegação entre seus ministros e o processo de reindustrialização da França parece estagnado... 

Há de se concordar que na questão do casamento gay as coisas progrediram, mas em outros aspectos o que não estagnou, regrediu... 

Se a promessa de que a Alemanha não decidiria nada em nome da França passou batida, a "lealdade" a terra do Tio San também parece estar longe de ser quebrada... 

Se todos condenam um ataque a Síria, inclusive os comandados de Obama e Hollande, então por que apoiar tal atitude?

A curva do desemprego que seria revertida ganha ares de irreversível pois o desemprego ainda aumenta, especialmente entre os jovens, o que também parece mostrar que, além de um político decepcionante Hollande não parece ser um bom administrador.... 

Pra fechar a conta, Merkel acaba de ser reeleita pela terceira vez na Alemanha. Tal fato pode indicar um aumento das pressões sobre a adoção de medidas austeras pelos países europeus já que agora Merkel pode voltar a se concentrar mais neste ponto, por não ter que se preocupar mais com as eleições. Diante disso resta-nos saber como Hollande agirá podendo afundar de vez  o que restava de esperança dos franceses de que seu governo iria melhorar ou pode resgatar a confiança do povo que votou nele esperando verdadeiramente por novos tempos... 

Ele não quer celebrações. A popularidade do presidente da França, François Hollande, está em queda livre no primeiro aniversário da eleição dele. Em maio de 2012, os franceses optaram pela mudança – e as esperanças eram muitas. Mas depois de um ano e um recorde de desempregados, muitos se ressentem das promessas não cumpridas.
O francês Alain, que já passa dos 40 anos de idade, se diz desiludido. Segundo ele, Hollande precisava dos votos da esquerda para vencer as eleições e, apenas por isso, anunciou uma política de orientação esquerdista. Mas atualmente, afirma, teria acontecido justamente o contrário. "Muitos projetos de lei não trazem benefícios aos empregados", critica.
Uma república socialmente justa, uma ofensiva destemida contra a crise econômica e, principalmente, o fim da burlesca presidência de Nicolas Sarkozy, considerada embaraçosa por muitas pessoas – tudo isso era simbolizado pelo simpático candidato socialista. Hoje, no entanto, ele congelou na indecisão: na corda-bamba entre os pedidos por um Estado social maior, por parte da base partidária de esquerda, e as pressões por reformas, vindas da Europa.

Administrador questionado

Também sua imagem de homem idôneo foi substituída por uma de administrador impotente à frente do Estado. Hollande não conseguiu impedir que o escândalo de sonegação de impostos, que envolveu seu ministro do Orçamento, Jérôme Cahuzac, manchasse o governo.
"Hollande nos havia prometido que seria um presidente normal. Mas, não, ele não é normal. Ele está muito distante de nós", afirma a francesa Colette, que há 15 anos é membro do Partido Socialista e diz que quer convidar Hollande para uma refeição, com o intuito de lembrá-lo dos grandes desafios de sua Presidência.
"Nós já discutimos longamente sobre o casamento gay", diz Colette, "mas o que acontece com o restante?" Para ela, há questões bem mais importantes, como, por exemplo, a reindustrialização do país: "Só conseguiremos isso com um pouco de patriotismo econômico na Europa. Há muitas questões que vejo não serem tratadas por esse governo."
O número de promessas de Hollande, que muitos consideram "não cumpridas", é de fato alto. O drama dos metalúrgicos de Florange, no norte da França, cujos altos-fornos foram finalmente desligados após uma longa disputa com a empresa proprietária ArcelorMittal, comoveu cidadãos em todo o país. Conhecido em toda a Europa, o imposto sobre a riqueza de 75% se tornou, com  veto do Conselho Constitucional, o símbolo de um governo diletante.
E houve ainda a prometida "inversão da curva do desemprego" até o final de 2013, na qual nenhum eleitor acredita mais. E, principalmente, o esperado "não" às medidas de austeridade econômica defendidas pela Alemanha. Que o "não" ficou sem efeito, o ministro francês de Assuntos Europeus, Thierry Repentin, não quer reconhecer.

Pessimismo

"Nós sabemos que Paris e Berlim têm pontos de vista diferentes. Mas isso não nos impede de falar e, principalmente, de levar adiante também soluções francesas", disse Repentin à emissora RFI, mencionando o imposto sobre transações financeiras. "Não foi a Sra. Merkel que lutou por ele, também não foi Sarkozy, mas François Hollande. Essa ideia fixa de que a Alemanha decide por todos deve ter um fim."
Mas o clima de pessimismo domina a França. O jornal Le Monde dedicou duas páginas com tabelas e gráficos para demonstrar como a alma da nação e a situação do país andam mal. Nesse ponto, o cientista político Olivier Rouquan vê responsabilidade do presidente. A energia, diz o cientista político, deve fluir agora no trabalho de persuasão.
"Eu acho que foi Jacques Chirac que disse: 'na política, não é a verdade que vale, mas a percepção das pessoas'", afirma Rouquan. "O presidente precisa trabalhar, principalmente, em sua capacidade de comunicação. Ele deve relaxar um pouco a sua personalidade e empreender um diálogo mais emotivo com seu país."
No entanto, um ano após a eleição, os laços entre Hollande e seus eleitores foram desfeitos. Três quartos dos franceses avaliam negativamente a política de seu presidente. Isso nunca aconteceu antes – nem mesmo com Sarkozy, cujo vigor desenfreado é cada vez mais celebrado como modelo oposto à procrastinação de Hollande.

"Normal" demais

"Durante a campanha eleitoral, os candidatos tanto da esquerda quanto da direita diziam: 'se eu quiser ganhar, eu tenho que mobilizar o país'", opina Edwy Plenel, editor do jornal online Mediapart, que com suas revelações comprometeu muito o presidente francês. "Agora essa é justamente a cilada em que caiu nosso governo." Segundo Plenel, o governo foi eleito devido a promessas em três temas: finanças, Europa e democracia.
No mundo financeiro, ainda não há controle sobre os bancos. A Europa não foi renegociada nem reorientada. Pelo contrário: a relação de forças não pende para o lado dos franceses, diz Plenel. "Mas o problema central, para mim, é a democracia. Eleito como o 'presidente normal', François Hollande está se tornando apenas mais um presidente da Quinta República", finaliza.


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