domingo, 3 de outubro de 2010

Depois da tempestade...

Com as eleições legislativas a Venezuela espera começar um período de ressurgimento econômico depois de um ano de forte recessão, como o de 2009 onde o PIB do país teve sucessivas retrações ao longo dos dois semestres, fora o fato que uma seca excepcional se abateu sobre o país prejudicando assim o abastecimento de água e energia elétrica. E o que muitos acharam que serviria de motivo para derrubar o presidente venezuelano, viram que isso sequer o arranhou pois Chávez parece ter apoio incondicional de grande parte da população.



As eleições legislativas na Venezuela ocorrem num momento economicamente ruim. Após cinco anos de bonança, com elevadas taxas de crescimento, a Venezuela conheceu uma recessão em 2009, registrando uma retração de 3,3% no PIB (Produto Interno Bruto), puxada pela crise econômica mundial e pela queda no preço do petróleo.
A crise energética, provocada por uma seca excepcional e por investimentos abaixo do necessário no setor, foi um dos fatores que impediram que a Venezuela acompanhasse outros países da América Latina na retomada do crescimento em 2010: Brasil e Argentina, por exemplo, projeto uma expansão de 7% em no ano, enquanto o PIB da Venezuela recuou 3,5% no primeiro trimestre de 2010 e 1,9% no segundo trimestre.
A recuperação dos preços do petróleo venezuelano (mais pesado e, portanto, mais barato que o cotado em Nova York), que chegou a 70 dólares no primeiro semestre, contra 57 dólares em 2009, não foi suficiente para resolver os problemas de caixa da estatal petroleira PDVSA. O resto da economia também sofreu novas quedas: -20% no setor da mineração, -6% na construção civil e -6% no comércio.
Apesar dos problemas conjunturais, no entanto, o PSUV de Chávez conta com alguns trunfos acumulados ao longo dos anos. Há também a expectativa de que a situação melhor, pois o governo ainda conta com mecanismos para estimular uma retomada econômica.
“A inflação, a recessão, e a insegurança afetam os setores populares”, reconhece o sociólogo Antonio González Plessman. “Mas aqueles que acreditam que Chávez está derrubado estão enganados”.
Menos miséria – Segundo Plessman, as pessoas não esquecem que, durante a última década, a pobreza foi reduzida em 47% e a miséria, em 70%. Os investimentos sociais per capita triplicaram e o atendimento médico gratuito foi estendido a milhões de pessoas. Em maio deste ano, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), da ONU, afirmou que a Venezuela era o país do continente onde a desigualdade mais caiu entre 2002 e 2008.
O país também tem dificuldades com a inflação, que pode chegar a 30% ao ano em 2010. Apesar da retração econômica, o consumo é elevado diante da demanda, pois é puxado por essas bem sucedidas políticas de distribuição de renda, que permitiram aos mais pobres entrarem no mercado consumidor e ter, entre outras coisas, acesso a uma alimentação melhor.
“Evidentemente, a tendência decrescente do PIB vai continuar diminuindo. Já passamos a parte mais difícil”, avalia o ministro das Finanças, Jorge Giordani.
Incentivos – A retomada das relações diplomáticas com a Colômbia também deveria ajudar uma recuperação mais rápida, já que, antes da crise, o vizinho era o principal parceiro econômico do país na região.
“Para acabar com a recessão, o governo deve retomar políticas contracíclicas com investimentos significativos”, diz Weisbrot. Recentemente, Chávez lançou o programa “Minha Casa Equipada” para a aquisição de eletrodomésticos chineses a preços baixos ou a crédito. A medida faz parte dos convênios bilaterais adotados entre Venezuela e China.
“O governo deve, porém, incentivar mais as produções locais”, reconhece um economista próximo do Palácio Miraflores, sede da presidência.
Racionamento – Para enfrentar a crise no setor elétrico, nacionalizado em 2009, o governo do presidente Hugo Chávez decretou um racionamento drástico de água e eletricidade, forçando parte das empresas a reduzir ou parar atividades. Nos domicílios, os cortes de energia foram limitados às províncias – para os críticos do governo, por razões políticas: “O que não acontece em Caracas não acontece na Venezuela”, diz um lema político no país.
Em 2009, o fluxo de investimento estrangeiro direto foi negativo (-3,1 bilhões de dólares), decorrente em parte à política de nacionalização, que afasta alguns investidores estrangeiros. Além disso, a inflação dos últimos anos provocou uma valorização artificial do bolívar, a moeda nacional, dificultando a diversificação de uma economia que depende, basicamente, do petróleo: as vendas do óleo representam 95% das exportações e mais da metade da arrecadação fiscal do país.
“Se o governo quiser mesmo diversificar a economia do país, vai precisar de um câmbio mais competitivo”, avalia o economista Mark Weisbrot, co-diretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington.
Previsões erradas – A desvalorização decretada em janeiro é considerada insuficiente por Weibrot. O governo instituiu duas taxas oficiais do dólar: 2,6 bolívares para importações prioritárias, fundamentalmente do Estado, e 4,3 bolívares para o resto.
A falta de dólares obriga uma parte das empresas a trocar bolívares no mercado paralelo, as taxas muito mais altas, o que encarece diversos produtos.
Weisbrot ressalta o fato de que as previsões negativas erraram muitas vezes em relação à Venezuela. Embora muito forte, a inflação não está fora de controle. Além disso, a diminuição de 1,9% no PIB no segundo trimestre é menos forte do que esperavam os analistas.

Extraído de cartacapital.com.br

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